SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “O incêndio do galpão da Cinemateca Brasileira é o resultado do desprezo e incompetência de um governo que veio para apagar a nossa memória coletiva, e não para preservá-la”, afirmou ao jornal Folha de S.Paulo o cineasta carioca Walter Salles, um dos maiores do cinema brasileiro.
Diretor de filmes que marcaram a história recente do cinema nacional, como “Terra Estrangeira” e “Central do Brasil”, Salles chamou o episódio de “desastre” e avaliou que não se trata de “um incidente, e sim da consequência de uma política de Estado”.
“Ao afastar o corpo técnico altamente especializado da Cinemateca Brasileira, o governo criou as condições para essa tragédia anunciada.”
Segundo os primeiros relatos sobre o incêndio, o fogo teria consumido quatro toneladas de documentos que remontam a história das políticas públicas do cinema brasileiro, desde o Instituto Nacional do Cinema, criado nos anos 1960, até a atual Secretaria Nacional do Audiovisual, passando pelo Conselho Nacional de Cinema e por parte da história da Embrafilme.
“Uma Cinemateca guarda a memória visual de todo um país. É um bem público, que pertence a todos os brasileiros e não a um governo”, diz Salles. “Simbolicamente, o incêndio do galpão da Cinemateca Brasileira –e portanto da nossa memória coletiva– é como o incêndio das terras públicas na Amazônia. Um crime.”