Jô Soares foi um multiartista que brilhou também na literatura. Seus livros, tramas policiais com altas doses de humor, tornaram-se best-sellers nacionais, como Assassinatos na Academia Brasileira de Letras (Companhia das Letras), de 2005, em que o autor coloca em xeque o termo “imortal”, usado na instituição para designar os membros da ABL.
Foi com o Xangô de Baker Street, de 1995, que Jô Soares se solidificou na literatura, sobretudo no gênero policial (… e humorístico). Antes do romance, ele publicou O Astronauta sem Regime (L&PM), em 1983, esgotado no catálogo da editora desde então. Livrinho curto, com menos de 100 páginas, já mostrava a habilidade do ator em crônicas rápidas e influenciadas pelo estilo das piadas que fazia na televisão. Vale lembrar que o humorista foi cronista de jornal, manteve uma coluna no caderno Ilustrada na década de 1980, em que escrevia sobre causos do cotidiano sem a leveza dos escritores populares do gênero na imprensa.
O estilo de Jô Soares na prosa publicada na imprensa é típico do showman: são frases muitas vezes curtas, impactantes, continham sarcasmo e ironia. O ritmo de O Astronauta Sem Regime foi comparado à prosa de Millôr Fernandes (1923-2012), escritor que Jô confessou ter admiração. Afinal, quem mais, além de Jô Soares, poderia fazer piada com a Lua Cheia?
Nas décadas de 1980 e 1990, Jô participou de coletâneas com outros humoristas, com textos publicados em Humor Nos Tempos do Collor (1992) e A Copa Que Ninguém Viu e a Que Não Queremos Lembrar (1992), sobre o fracasso da seleção brasileira na edição do torneio de futebol de 1990.
Em meados daquela década, quando a editora Companhia das Letras expandia seu catálogo, Jô Soares foi um dos nomes que a casa apostou. E deu muito certo. Ao mesmo tempo, o autor mergulhou no universo da literatura durante as pesquisas para seu primeiro romance, O Xangô de Baker Street, lançado em 1995. Best-Seller que influenciou obras seguintes, como O Homem que Matou Getúlio Vargas (1998). Nas décadas seguintes, ele voltou ao mundo do crime com As Esganadas (2011), sobre um assassino em série só de mulheres gordas.
“Jô estreia com aquilo que os americanos chamam de page turner. Um livro que se lê de enfiada. O andamento é acelerado, a trama corre adiante levada por diálogos e descrições. O mote crítico-irônico – mostrar um Brasil arcaico e também pretensamente moderno, como diria Paulo Francis – se anuncia por si mesmo. Não há tempo para balanços reflexivos”, escreveu o crítico Carlos Graieb, à época do lançamento de O Xangô de Baker Street, no Caderno 2.
O livro nasceu com dois nomes de peso ilustrando a capa: Jô Soares, autor, e o personagem de Sir Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes, contratado por D. Pedro 2º para investigar o desaparecimento de um violino Stradivarius, presente a uma de suas amantes, a Baronesa Maria Luisa. A partir desta premissa, o Rio de Janeiro do século 19 se transforma em uma espécie de puxadinho da Inglaterra.
Em 2017, em parceria com o jornalista e editor Matinas Suzuki Jr., Jô Soares lançou sua “Biografia Desautorizada”, um livro de memórias em dois volumes em que foi gestado pela dupla por anos para mostrar as várias faces de um José Eugênio pouco conhecido com grande público. Do garoto poliglota que viu a fortuna dos pais acabar ao humorista que sofreu preconceitos por conta da obesidade, mas tirou de letra o bullying e se transformou em um dos maiores humoristas da história do Brasil.