Na botânica, o rizoma é um caule que cresce paralelamente ao solo e forma raízes que se espalham. Na filosofia, em um conceito que os pós-modernos Gilles Deleuze e Felix Guattari tomaram emprestado da natureza, rizoma, de maneira geral, é a expansão do conhecimento, aquele que busca todas as direções e está aberto para as experimentações, sem partir de um único lugar.
Para o músico Lenine, de 63 anos, e para seu filho Bruno Giorgi, de 33, que batizaram a turnê que estreiam nesta sexta-feira, 15, no Teatro Bradesco, de Rizoma, o fazer música é isso: abrir-se para uma infinidade de possibilidades – algo, é verdade, que o cantor e compositor pernambucano fez a carreira toda, desde os anos 1980, quando pôs o pé na profissão.
Giorgi, por sua vez, acompanha o pai há 13 anos. Produziu e tocou em álbuns como Chão (2011), repleto de experimentações sonoras – há faixas com sons tirados de máquina de lavar e motosserra -, e Carbono (2015), ambos trabalhados ao lado de Jr Tostoi e Lenine, e fez a direção musical do ao vivo Lenine em Trânsito, de 2018, vencedor do Grammy Latino na categoria melhor álbum de rock ou música alternativa em língua portuguesa.
Então, o que haveria de diferente entre esse novo encontro de pai e filho no palco? Primeiramente, que eles estarão em duo. Lenine canta e toca violão. Giorgi que, além de cantar, usa baixo e bandolim, além de um computador pelo qual pode “convidar” outros tantos músicos para participar do show – por meio de samplers.
Dessa forma, por exemplo, em O Silêncio das Estrelas eles são acompanhados pela orquestra da gravação original, presente no disco Falange Canibal, de 2002. A canção jamais foi apresentada nesse formato no palco.
Além disso, Lenine, que andava afastado do ofício da música, situação que perdurou com a chegada da pandemia, diz que foi “pescado” pelo filho para retornar aos palcos. “Por estar distante, eu pude esquecer o prazer que é essa diversão. No caso desse show, a gente vai para um outro lugar. Conseguimos ir a fundo nessa coisa de cantarmos juntos, municiados por essa ambiência sonora que capturamos. Cada vez que fazemos uma canção, nós a espichamos, botamos um arranjo novo”, conta Lenine.
Por já terem atuado ao longo dos anos em diferentes formatos – banda, trio e orquestra -, Giorgi diz que a intimidade entre os dois e com as canções ajudou a fazer de Rizoma um encontro especial. “Criamos um repertório de improviso. A gente sabe para onde o outro pode ir, se ele resolver mudar algo. Assim, fica fácil a gente se divertir”, garante.
Para quem estranhou a pausa que Lenine fez, ele avisa que tudo se deu de forma natural. “Fiquei cinza, distante mesmo. Mas o fato é que eu sempre tive outros interesses além da música, que foi cíclica para mim – e, de alguma maneira, isso é um antídoto para que eu continue com sanidade”, lembra o músico, sempre interessado em botânica e, mais recentemente, também em abelhas sem ferrão.
NOVO ÁLBUM
Além de sucessos como Paciência e Jack Soul Brasileiro, Lenine e Giorgi devem mostrar no show pelo menos uma das novas músicas que farão parte do álbum de inéditas que eles estão preparando – e que ainda não tem data para ser lançado.
Trata-se de Confia em Mim, de Lenine e Dudu Falcão. “Ele é meu companheiro de baladas”, brinca o músico. Juntos, eles fizeram canções como Paciência e É o Que me Interessa. A letra da mais recente criação fala da fé no inesperado e de um tempo mais iluminado.
O disco está sendo gerado aos poucos. “Tenho um carinho na construção de um repertório que é meu. Faço de maneira artesanal. Não aprendi a compor em uma academia. Como se diz em Pernambuco, sempre fiz ‘na tora’.”
Giorgi atesta que o trabalho do pai é de muito suor. “Eu percebo que é algo de testar, gravar, voltar, refazer. Isso leva um certo tempo, mas também traz uma maturidade para as canções”, explica.
Esse tempo do Lenine nunca foi o do mercado nem atende aos seus formatos. Confia em Mim e uma outra canção ainda sem nome devem ser lançadas no formato single. Não por vontade do músico, que prefere saborear o conceito que mora em um álbum inteiro, seja dele ou de colegas, armazenado em um antigo iPod que ainda funciona e pelo qual ele ouve música.
“Minha entrega é sempre muito honesta ao meu ímpeto de fazer.” Essa é a raiz de Lenine.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.