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Lazer e CulturaNey Matogrosso, 80, forjou sua liberdade no seio do conservadorismo brasileiro

Ney Matogrosso, 80, forjou sua liberdade no seio do conservadorismo brasileiro

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Quando falavam no ano 2000, eu dizia que ‘no ano 2000 a gente já morreu’, tinha certeza de que não virava o ano 2000”, diz Ney Matogrosso, lembrando quando tinha 30 e poucos anos, uma Brasília e tantos hits tocando no rádio quanto couberam nos dois lados do LP de estreia da banda dele, os Secos & Molhados.

Em 1973 e 1974, acima de sua cabeça, havia só o céu. Hippie e artesão que batalhava para se tornar ator, ele ouvia rindo, deitado de sunga em alguma praia do Rio de Janeiro, as fofocas sobre qual seria a sexualidade do homem misterioso de canto fino e rebolado solto que aparecia com o rosto maquiado no Fantástico.

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Ney sabia que estavam falando dele, mas não só dele. Quem estava na boca no povo era a entidade extra humana que havia se materializado em seu corpo desde que cobriu o rosto com purpurina para subir ao palco –daquela vez não como um personagem desimportante de algum musical caído, mas um que ele nem sequer havia conhecido até então.

Neste domingo, Ney chega aos 80 anos, celebrados com um novo disco, “Nu com a Minha Música”, lançado em duas partes entre agosto e novembro. Também é tema de uma nova biografia, que leva seu nome, escrita pelo jornalista Julio Maria, e de um longa biográfico, anunciado recentemente pela Paris Filmes.

Mais do que o pacote de lançamentos, a data é a lembrança de uma trajetória improvável, de alguém que forjou a própria liberdade no seio do conservadorismo brasileiro.

“Na primeira vez que fomos a Belo Horizonte, tocamos num festival que foi no campo de futebol. Na hora que entramos, que comecei a cantar, alguém da plateia gritou para mim ‘bota para quebrar, Ney, porque você pode!’. Na minha cabeça, todos nós poderíamos, né? Para alguém gritar uma coisa dessa é porque estava muito reprimido e vendo ali uma possibilidade, alguém se expressando com total liberdade.”

Qualquer pessoa que, ao modo de Ney, explorasse corpo e voz como bem entendesse em cima de um palco, não passaria ileso no Brasil da ditadura militar. Ney também não passou. Foi alvo da censura e detido pela polícia diversas vezes, mas criou uma armadura que tanto o protegia quanto o revelava para o mundo.

“Aquele [Ney] era quase um animal, né? Na verdade, o animal foi logo depois dos Secos & Molhados, no primeiro show solo, que vim com crina de cavalo, pele de bicho. Queria que as pessoas vissem o que elas quisessem ver. Era uma coisa tão ambígua, tão para todos os lados, que eu poderia ser um inseto, uma cobra, uma ave, qualquer coisa. Era esse grau de abertura que eu propunha.”

Ney já tinha vendido artesanato no Rio e trabalhado num hospital em Brasília antes de se mudar para um ateliê na Bela Vista, em São Paulo, e cair nos Secos & Molhados. Indicado pela amiga Luhli, cantora, violonista e compositora da dupla Luli e Lucina, virou em pouco tempo a peça mais importante na banda que o português João Ricardo criou para interpretar poemas musicados, com veia política e influência do rock.

Com exceção das peças e musicais de que participara, Ney jamais havia subido num palco para cantar até o fim de 1972. Ainda era Ney de Souza, mas estava prestes a incorporar o sobrenome do pai sargento –e também do estado onde nasceu e cresceu– para se tornar algo que ele jamais aprovaria, um cantor.

O primeiro show dos Secos & Molhados foi também a primeira vez que ele pintou o rosto. “Não com aquela tinta branca que ia ter depois. Ganhei da mulher do Paulinho Mendonça –que compôs ‘Sangue Latino’– vários vidros de purpurina, pintei meu rosto inteiro. Ninguém sabia como eu era já no primeiro dia. E aquilo foi se desenvolvendo.”

Ele estava no camarim da Casa de Badalação e Tédio, espaço underground de São Paulo para cerca de 80 pessoas que recebia peças e shows, conforme narra Julio Maria no livro. Também estava sem camisa e usava calça branca de cetim e uma grinalda de rosas na cabeça.

A entidade que se apossara de Ney, e que se tornaria nacionalmente conhecida dentro de alguns meses, virou também o esconderijo de um homem àquela altura sem dinheiro, sem rumo e um tanto tímido. “Ouvi dizer que artista não podia andar na rua. A gente tem que colocar no contexto. Eu já tinha 31 anos. Como eu ia perder o direito de andar na rua porque tinha virado artista?”

Em 1974, o último ano dos Secos & Molhados, o grupo já tinha estourado no rádio com “Rosa de Hiroshima”, “O Vira” e “Sangue Latino”, entre outras canções. Tinham alcançado um sucesso de proporções inéditas ao superar em vendas o então imbatível Roberto Carlos. Mais do que isso, ao aparecer na Globo, eles haviam “colocado a questão da androginia na macarronada de domingo na sala do brasileiro”, como diz Miguel de Almeida, biógrafo da banda.

Se, no palco, Ney tinha o costume de olhar as plateias nos olhos, na TV ele encarava a câmera provocativamente, transpondo o magnetismo de sua figura para a telinha. Todo aquele sucesso era inédito e estranho. Nada explicava uma banda que tratava de questões políticas e existenciais ser tão adorada pelas crianças.

Quando cantaram para 20 mil pessoas no Maracanãzinho, nada era maior que os Secos & Molhados no pop brasileiro. “A gente fazendo temporada no Teatro Ruth Escobar, no Teatro Tereza Rachel e depois no Maracanãzinho, eu ia à praia e ficava ouvindo as pessoas falarem daquele grupo. E eu deitado de sunga.”

A manutenção da privacidade poderia até ser motivada por questões particulares, mas, de certa forma, acabou servindo como método de sobrevivência. Não foram poucos os que, por inveja ou puro moralismo, pediram a cabeça de Ney.

Em colunas nos jornais Tribuna da Imprensa e O Fluminense, escreve Julio Maria, Chacrinha tirava sarro das qualidades artísticas de Ney e ia além. “Estranho privilégio! Secos & Molhados podem tirar a roupa!”, era o título de uma delas. “Deveria ser proibido pela censura e pelo juizado de menores” por ser “rebolativo, erótico e muito do bichânico”, diz outro texto.

Ney criava brechas no anonimato, mas dentro dos Secos & Molhados todos sabiam quem ele era. “Dizer que todo mundo se maquiava é mentira. Passaram a se maquiar quando o Paulinho Mendonça disse a eles que era um absurdo só eu estar daquele jeito e eles caretas.”

Apaixonado por música, Ney não tocava instrumentos e nem tinha tino para comandar músicos. Essa missão ficava com João Ricardo, que a certa altura passou –ao lado do violonista e compositor Gerson Conrad e dos outros instrumentistas– a se incomodar com a pecha de grupo gay.

Ney se lembra de uma reunião na qual ouviu essas reclamações. “Eu disse ‘olha, vocês podem dizer que vocês não são [homossexuais]’. Resolvia, né? Mas continuaram me pressionando, e eu disse ‘não, então vocês botem outro no meu lugar’.”

“Mas já era tarde para botar outro no meu lugar, porque a gente já fazia show em São Paulo, sem ter gravado o disco, lotando teatros, tá? Então aquele ser que depois tomou conta mesmo de tudo na minha cabeça já se apresentava, sabe? Não era tão escandaloso porque eu ainda usava roupa, ainda usava calças –que eu mesmo tingia, mandava fazer, as calças de cetim aqui na virilha, com pentelho aparecendo. Aquilo já veio logo no começo, porque era na verdade o meu temor de perder a privacidade.”

Reconhecido pelo canto que passeia por tonalidades agudas como nenhum outro na história da música brasileira, Ney Matogrosso não gostava da própria voz. Achava que era um defeito. Foi num ambiente tão careta quanto um coral, em Brasília, que começou o processo de aceitação.

“Para um tenor cantar a parte de contralto, ele tem que cantar uma oitava acima do que elas estão cantando. Eu fazia isso com muita facilidade, mas fazia baixinho porque achava esquisito”, diz o cantor, que integrava o naipe de tenores.

Um dia, o maestro parou o ensaio para elogiar a voz do jovem Ney, e deu um exemplo um tanto curioso na Idade Média, crianças com aquele tipo de voz eram castradas para que não perdessem essa habilidade. Essa mesma história, agora como mentira, ele leria anos depois na imprensa –neste caso, dizendo que ele próprio tinha sido castrado.

Mas quando foi vender miçangas na casa de Roberto Carlos –rei de quem anos depois ele sacudiu o trono–, para sua mulher, Nice Rossi, Ney ficou tímido ao ser desafiado a cantar. Tudo tinha sido planejado por Luhli, a amiga que, antes de o levar aos Secos & Molhados, tentou empregar Ney na TV.

“Ela me levou para fazer um teste. Eu não queria. Fui porque gostava muito dela”, afirma o então artesão, a quem foi pedido que interpretasse algo de Chris Montez, que fazia sucesso na época com uma voz aguda. “Disse assim ‘não canto Chris Montez, não sou o Chris Montez, o que tenho para cantar é isso’. Olha só o disparate do cara, querer que eu cantasse Chris Montez quando eu cantava Geraldo Vandré.”

Em 1987, para gravar o disco “Pescador de Pérolas”, Ney abandonou a seminudez e vestiu terno e gravata, de cara limpa, a fim de provar –“para mim mesmo”, esclarece– que conseguia segurar um show inteiro só com a voz. Era comum ler na imprensa que seu apelo não estava na música, mas na falta de roupa.

Mas ele tampouco gostava de seu corpo quando iniciou a trajetória. O segredo, diz Ney, era o expor como se fosse o corpo mais bonito do mundo –daí ninguém estranharia.

“Agora, sabe onde é que eu perdi o grilo com o meu corpo mesmo? Foi quando eu servi na Aeronáutica.” Filho de militar que lutou na Segunda Guerra Mundial, Ney Matogrosso já tinha vivido seus próprios anos de chumbo antes que os militares tomassem o poder no país. Depois de uma série de conflitos domésticos, ele deixou o interior de Mato Grosso do Sul para se alistar na Aeronáutica, no Rio, entre os anos 1950 e 1960 –mais uma fuga possível do que a busca de algum sonho.

“Quando cheguei lá recruta, não tirava a camisa na frente de ninguém. Era todo problemático mesmo. Cheguei lá, e o banheiro em que a gente tomava banho era assim, com 20 chuveiros e tomavam banho 20 homens por vez. Imagina eu, que não tirava a camisa, tive que ficar nu! Só que eu me via como um monstro, não é isso? Achava tudo meu feio –pé feio, mão feia, perna feia.”

“No dia que tirei a roupa, com aquela quantidade de recrutas, ninguém achou nada. Todo mundo achou normal, sabe? Então não era o que eu estava pensando. Ali, comecei a desgrilar com o corpo. Foi meu preparo para chegar ao Secos & Molhados. Só que cheguei com muito mais ousadia. Já estava mais seguro de tudo isso, de que mesmo não sendo dançarino eu poderia dançar.”

Foi também nas Forças Armadas que Ney se apaixonou pela primeira vez, por um recruta do Espírito Santo. Um amor quase platônico, em que os dois conversavam sobre os próprios sentimentos, mas não tinham coragem de dar o primeiro passo.

“Teve um beijo”, diz. “Mas não foi um beijo de amor entre nós. Era todo mundo adolescente, com 17 anos. Chegaram para mim e para ele dizendo ‘duvido que vocês deem um beijo na boca’. Aí demos um beijo, na frente de todos. Foi aquela gritaria, saiu todo mundo correndo cada um para um lado. Coisa de adolescente.”

Ney desvendava a própria identidade no íntimo do conservadorismo brasileiro. Na infância, com o pai militar; na adolescência, com as Forças Armadas; na vida adulta, com a repressão da ditadura. Quando fez a primeira comunhão, ouviu no confessionário um padre perguntar se ele havia feito “saliências” com meninas e, depois, com meninos. “Quando eu disse não, uma luz se fez na minha cabeça. Se ele está perguntando é porque se faz, né?”

Em seu novo disco, “Nu com a Minha Música”, além da faixa-título de Caetano Veloso, de “Gita”, de Raul Seixas, e “Se Não For Amor, Eu Cegue”, de Lula Queiroga, Ney Matogrosso canta “Mi Unicornio Azul”, do cantor e compositor Silvio Rodríguez –um desejo que ele guardava desde o começo dos anos 1980.

A escolha do repertório foi altamente pessoal, e baseada na memória afetiva, mas quem acompanha o artista de perto no Spotify, provavelmente já sabia o que ele cantaria no álbum. “Fiz a relação das músicas, montei o repertório e tudo lá [na plataforma], só não sabia que as pessoas podiam entrar! Quando vi, já tinha gente ouvindo o repertório que eu estava preparando”, conta.

Não é de hoje que Ney tem questões com o que é público e o que é privado, mas na era da internet esses limites parecem cada vez menos delimitados. “Achava que era uma particular, mas eu fiz e ficou uma coisa pública.”

A cena curiosa não chega a ser estranha. Se jovens menos versados em tecnologia têm dificuldade para encontrar o comando que torna as playlists secretas, imagine alguém que viveu –dentro e fora– tantas transformações na indústria fonográfica.

Mas Ney não é exatamente um aficionado pela música contemporânea. Em casa isolado desde o começo da pandemia, raramente põe alguma coisa para tocar. Streaming só mesmo em caso de necessidade. Costuma ligar o rádio quando está dirigindo pelas ruas do Rio.

Mas as estações que cansaram de tocar “O Vira” não são mais as mesmas. “O rádio está muito restrito, não é? Cada vez mais. Eles elegem dois tipos de repertório e só consomem esses dois, só mostram isso.”

Pelo rádio, que em geral varia entre música sertaneja e velharias da MPB, ele não vai encontrar as músicas de “Batidão Tropical”, recente disco de Pabllo Vittar, a drag queen maranhense mundialmente conhecida que, assim como Ney, é sucesso entre crianças, tem voz fina, visual andrógino e uma música completamente baseada na tradição brasileira –não os sambas e guarânias a que Ney deu voz, mas o tecnobrega e o forró que ela cresceu ouvindo.

As drogas também não são as mesmas. “Não existe o [LSD] que eu tomava mais. O que eu tomava era outra coisa, não é isso que se tem hoje.”

Ney largou o ácido, mas não as percepções que essas experiências deram a ele. “Passei 20 anos lendo tudo que se referia à religião”, diz. “Mas para falar a verdade, a primeira vez que atinei com alguma coisa religiosa foi quando tomei o primeiro ácido. Me remeteu diretamente à divindade, tá? À divindade na natureza.”

Criado entre as árvores da fazenda do avô, Ney acredita nessa divindade até hoje. “Só nisso. Não acredito em ninguém. Um homem velho no céu com o dedo apontado para mim dizendo que estou errado? Seria tão contraditório, algo que nos criou nos criar errado. Que julgamento seria esse, torto, sabe? Eu me concentro. Na minha cabeça, converso até com seres que eu não vejo, tá?”

Para preservar a sanidade na pandemia, Ney tem ouvido mantras e se mantido afastado do noticiário. Também usa o Instagram –mas só às vezes, e só para postar fotos. “Não quero saber, não entro em nada dessas coisas que ficam batendo boca. Não me interessa convencer ninguém do meu pensamento. Cada um que pense pela própria cabeça. Todo mundo se expressa de uma maneira muito rude. Não tem delicadeza na história. Não estou esnobando, é porque não me interessa.”

Mas ele não ficou imune às críticas quando expôs, em entrevista recente ao jornal O Globo, que votou nulo no segundo turno da eleição de 2018. Nada contra o PT, ele diz.

“O que me irritou naquele momento foi porque o Ciro [Gomes, do PDT], todas as pesquisas indicavam que se ele fosse para o segundo turno com Bolsonaro, ele ganhava. Eu achava que a gente tinha que não deixar o Bolsonaro ganhar, mas aí fica essa coisa de PT e não sei o que lá.”

Ney vai repetir o voto em Ciro em 2022, mas desta vez pretende votar no ex-presidente Lula, caso ele represente o PT no segundo turno contra Bolsonaro. E aproveita para esclarecer a relação com o petista.

“Acho que justiça tem que ser feita, sabe? Trabalhei muito tempo com uma associação de ex-hansenianos e a única pessoa que ajudou foi o presidente Lula. Fui a seis ministros da Saúde. O primeiro era o Serra. Fui lá e disse ‘precisamos fazer uma campanha porque somos o primeiro lugar em hanseníase no mundo’. Ele disse na minha cara ‘não há intenção nenhuma de fazer campanha de hanseníase, se você conseguir fazer por sua conta com a TV Globo, faça’.”

Com Lula, diz, foi diferente. “Todos faziam muito alarde quando me viam, mas ninguém ajudou. O Lula ajudou. Criou uma indenização, porque essas pessoas eram arrancadas de suas casas feito cachorro na carrocinha. Não posso falar mal do presidente Lula.”

No documentário “Olho Nu”, Ney conta que, quando os companheiros de Secos & Molhados queriam entrar no palco com uma boina no estilo Che Guevara, ele recusou. Gostava da Revolução Cubana, mas aquilo não era o seu interesse na vida.

“Eu admirava a revolução como o mundo admirou. Era outra época. Fiquei muito irritado quando tiraram o Jango. Eu morava em Brasília, fiquei revoltado”, diz. “Mas não sou militante e jamais serei.”

Para a militância LGBTQIA+, frases desse tipo, que o posicionam longe da luta política, nunca caíram bem. Mas isso nunca foi um problema para Ney, que despontava para a fama numa época em que o termo “gay” nem era conhecido como é hoje.

Em relação à homofobia, ele pensa que, agora, ela é mais forte do que na sua juventude. “Falo institucionalmente, mais do que socialmente, porque socialmente o povo está morrendo de fome, não está preocupado com o sexo do outro. O povo está com fome, está virando mendigo.”

“Homem ou mulher”, ele diz, agora falando da própria identidade, “nunca foi um problema para mim”. “Sou do sexo masculino, gosto de ser, mas não tenho nenhum problema. Pensavam que minha voz era de mulher, eu sabia que pensavam, mas isso não me provocava nada.”

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