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Lazer e CulturaOttessa Moshfegh: 'É preciso correr risco para fazer as pessoas rirem'

Ottessa Moshfegh: ‘É preciso correr risco para fazer as pessoas rirem’

Ottessa Moshfegh: ‘É preciso correr risco para fazer as pessoas rirem’

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Ottessa Moshfegh é uma pessoa engraçada – e sabe disso. Às voltas com a produção de sua Eileen para o cinema, ela confessa que às vezes precisa parar para respirar em meio ao caos, pois quase todo mundo tem um parafuso a menos. Seu humor ácido, e, por vezes, politicamente incorreto, transformou-a em uma das mais populares escritoras americanas, com romances em tom de comédia da vida privada, como O Meu Ano de Descanso e Relaxamento (2019) e o recém-lançado no Brasil Meu Nome Era Eileen (Todavia).

Sua protagonista ideal, uma loser (perdedora) afortunada, é a persona amada pelos leitores, como a Junkie com receita de O Meu Ano de Descanso e Relaxamento ou a jovem idealista que trabalha em um reformatório, em Eileen. Em entrevista ao Estadão, a escritora fala sobre seu novo romance lançado no País, sua obra a caminho das telonas e, claro, humor.

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Ottessa, seu livro é muito engraçado. Quando se deu conta que o humor é um poderoso aliado na ficção?

Acho que descobri meu humor quando estava escrevendo minha coletânea de contos (Homesick for Another World). No início do processo, percebi que, quando escrevia enquanto estava com um humor muito envolvido e dramático, muito sério, o que eu criava era uma sátira de uma personagem completamente ridícula, egoísta e autocentrada. Então eu me inclinei para isso. Esse absurdo e graça estavam muito ligados ao ritmo e cadência da voz do meu narrador em cada história. Eu não achei que Eileen fosse tão engraçada quando eu estava escrevendo, na verdade. Foi apenas revisando que extraí os momentos neuróticos, o que achei hilário e cativante sobre o autorretrato da personagem.

O humor tem limites? Como você vê o debate acerca das coisas que podem (ou não) ser piada?

Pessoalmente, não me interesso pelo debate público que se formou ao redor desse tema, mas acho que o stand-up é a comédia mais profunda, talvez a mais alta forma de arte humana. Requer risco e inovação para fazer as pessoas rirem! A comédia conta com o inesperado para parecer familiar e verdadeiro, desencadeando uma sensação de constrangimento ou surpresa. Acho razoável que certos comediantes levem isso ao extremo. Não acho nada engraçado o racismo, a homofobia, a transfobia ou o sexismo.

Quais são suas referências na escrita e no humor?

Acho os romances de Charles Bukowski hilários. Quanto aos meus contemporâneos, a coleção de histórias de Amie Barrodale, You Are Having a Good Time, e o romance de Ben Lerner, Estação Atocha, foram incríveis. Acho que também sou influenciada pela minha mãe, alguns comediantes de stand-up, cinema independente dos anos 1990…

Suas protagonistas são mulheres complexas, digo, têm uma vida interior muito rica. E também um pouco complexadas. A introspecção pode ter alguma relação com a loucura?

Eu acho que todo mundo é um pouco louco, não é? As pessoas introspectivas talvez sejam um pouco mais autoconscientes do que as extrovertidas, e isso pode levar à loucura…

Tanto em Eileen quanto em O Meu Ano de Descanso e Relaxamento o leitor se depara com atmosferas caóticas. Como você lida com o caos em sua vida?

Não lido muito bem com o caos. Sou muito facilmente sobrecarregada e distraída pelo estresse. Estou em constante batalha em minha casa com meu marido (hilário e gregário!) e quatro cachorros. Em um sentido mais amplo, quando o mundo está um caos, apenas me volto para dentro.

Como assim?

Eu fico muito quieta, sabe? Bloqueio o ruído e encontro consolo no meu trabalho criativo. Nos últimos anos, confiei na escrita como forma de me proteger do horror da realidade ao meu redor.

Suas personagens são ácidas e críticas aos padrões de beleza, pelo menos em Eileen, mesmo ela sendo uma garota esteticamente bonita. Como vê esse boom de pluralidade na indústria da moda hoje?

Eu acho absolutamente maravilhoso. A indústria da moda está finalmente alcançando a realidade de que a beleza pode ser encontrada em todos os lugares, não apenas em uma garota branca de 16 anos.

Quais são suas expectativas para a adaptação de Eileen para as telas?

Eu estive intimamente envolvida com a adaptação de Eileen. Coescrevi o roteiro com meu marido, Luke Goebel, e somos produtores do projeto. Foi completamente surreal ver uma tradução fílmica do meu romance tomar forma. Quando visitei o set da casa de Eileen no mês passado, quase desmaiei. Era como entrar em uma sala da minha imaginação. Estou tão animada para ver o filme! Nosso diretor, William Oldroyd, tem sido incrivelmente fiel à nossa visão compartilhada do filme, e o elenco é extraordinário.

Para fechar, o que você anda lendo e quais projetos estão em curso?

Recentemente li um livro sobre a Frente de Libertação Animal chamado Free the Animals, que foi muito comovente. Eu tenho um novo romance chamado Lapvona, que sai neste verão nos EUA. Hoje em dia estou bastante soterrada em roteiros, e estou fazendo anotações para um pequeno projeto de ficção que acontece em Brighton, Inglaterra.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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