Susana Vieira completa 80 anos de idade nesta terça-feira, 23. Com mais de 60 de carreira, é uma das atrizes mais experientes que continuam em atividade – seu trabalho mais recente foi na série Novelei, feita em parceria entre Globo e YouTube exclusivamente para a internet, além da peça Uma Shirley Qualquer, que protagonizou no teatro em 2021.
Conhecida pelo jeito sincero e suas frases que não poupam elogios a si mesma, começou na televisão nos tempos da Rede Tupi, primeiramente como bailarina e depois integrando o elenco de teleteatros da época. Ainda passou por outra emissora já extinta, a Excelsior, antes de chegar à Globo, em 1970, na novela Pigmalião 70, para interpretar Candinha, a noiva de Nando (Sérgio Cardoso), que disputava o amado com a viúva Cristina (Tônia Carrero).
A década de 1970 trouxe outros pontos marcantes de sua carreira. Em 1974, “desesperada” para trabalhar, pediu um papel em O Espigão diretamente ao autor Dias Gomes. Recebeu a oportunidade de fazer Tina, que era muito mais velha do que sua idade real, mas se virou e levou o prêmio de atriz revelação da APCA [Associação Paulista de Críticos de Arte].
No ano seguinte, foi uma das principais personagens de Escalada (1975), fazendo par romântico com o galã Tarcísio Meira – diz a lenda que, nas cenas de beijo, ela precisava subir em uma lista telefônica para ficar em uma altura compatível com o parceiro de cena.
Diante da boa repercussão de sua personagem, foi chamada para viver sua primeira protagonista em Anjo Mau (1976), como a babá Nice. Susana conta que, por conta da personagem, chegou a apanhar de uma vizinha do prédio em que morava no Jardim Botânico à época. Curiosamente, a atriz fez uma breve aparição no último capítulo do remake da novela, em 1997, como a nova babá contratada no último capítulo.
Já com lugar marcado entre as grandes atrizes de sua época, Susana esteve presente no elenco de outras produções nas décadas seguintes, como Baila Comigo (1981), Cambalacho (1986), O Salvador da Pátria (1989), Mulheres de Areia (1993), Fera Ferida (1993) e A Próxima Vítima (1995). Em Por Amor (1997), uma de suas grandes vilãs, Branca, que detestava Helena (Regina Duarte) e contracenava com Carlos Eduardo Dolabella, seu marido na trama, e Fabio Assunção, Carolina Ferraz e Murilo Benício, os filhos do casal.
No novo milênio, seu papel mais lembrado provavelmente é o de Maria do Carmo, protagonista de Senhora do Destino (2004) e rival da intragável Nazaré Tedesco (Renata Sorrah). A trama tinha início com o sequestro de sua filha, Lindalva (Carolina Dieckmann), ainda bebê, e o seu esforço para criar seus quatro filhos homens. Ela não apenas consegue como monta uma grande loja de materiais de construção. A personagem ainda dividia seu amor entre Dirceu (José Mayer) e o icônico Giovanni Improtta (José Wilker), que até recebeu um longa próprio anos depois.
Mais recentemente, Susana Vieira esteve em Éramos Seis (2019) como Emília. Fora das novelas, passou alguns meses como apresentadora do Vídeo Show em 2016 e fez participações no Se Joga em 2021.
Susana Vieira: saiba qual novela a atriz menos gostou de fazer
Susana Vieira comemora seu aniversário de 80 anos nesta terça-feira, 23, e ao longo de suas mais de seis décadas de TV, é lembrada por vários papéis de sucesso, como a batalhadora Maria do Carmo, de Senhora do Destino (2004), a vilã Branca, de Por Amor (1998) ou Cândida, par romântico de Tarcísio Meira em Escalada (1975). Há, porém, uma novela que a atriz já admitiu publicamente que não gostou de seu personagem: Andando Nas Nuvens (1999), escrita por Euclydes Marinho.
“Fazia um papel que eu reclamava tanto que eles foram diminuindo. Em vez de eu reclamar e o autor ficar com vergonha e aumentar, foi diminuindo, diminuindo… E eu fazia uma cena só: no meu quarto, em que eu estava deitada, seminua, uma massagista fazendo massagem em mim e eu falando no telefone com uma amiguinha”, contou Susana após ser questionada sobre “qual foi a novela que menos gostou de fazer” em entrevista à rádio portuguesa RFM no último mês de maio.
“Não podia ser mais idiota. Uma mulher fútil, deitada, fazendo massagem… Não tinha consistência. E quanto mais eu falava do autor, mais eu sumia, até que eu sumi da novela. Essa novela foi ‘braba'”, concluiu.
A trama de Andando nas Nuvens
A trama da novela das 7, que foi ao ar entre março e novembro de 1999, girava em torno de Otávio (Marco Nanini), filho do dono de um grande jornal no Rio de Janeiro. No dia em que seu pai é assassinado, tenta se defender do agressor, mas acaba caindo de um andar alto de sua mansão e fica 18 anos em coma. Ao acordar, recupera sua plena consciência, mas sua memória vai apenas até 1968, alguns anos antes do dia do acidente.
Entre suas poucas ligações com o passado, estão San Marino (Cláudio Marzo), que foi criado como se fosse seu irmão, mas era filho da empregada da casa, e acabou se tornando o herdeiro do jornal enquanto o amigo estava desacordado. Rico, sem escrúpulos e com ambições políticas, San Marino aos poucos ia se revelando como o causador dos problemas da vida de Otávio.
Era justamente como Gonçala, a esposa de San Marino, que Susana Vieira aparecia na trama. Inconformada com os rumos de seu casamento, aparecia constantemente à base de remédios. No decorrer de Andando Nas Nuvens, se afastava do marido e se apaixonava pelo próprio Otávio. A personagem ainda contracenava com frequência com seus dois filhos, Arnaldinho (Márcio Garcia) e Thiago (Caio Blat).
A revolta de Susana Vieira
Em entrevista ao Estadão publicada em 11 de julho de 1999, com a novela no ar em seu terceiro mês de exibição, a atriz já falava sobre a insatisfação com o papel: “Tento extrair o lado positivo da personagem. Acho chato uma mulher chorona, que não sai da ostra. Ao ver o perfil de Gonçala, percebi que não ficaria submissa por muito tempo”.
“Peguei a atual novela com capítulos gravados porque eu estava em Chiquinha Gonzaga. Só tive um dia de descanso entre os dois trabalhos e só deu tempo de mudar o cabelo. […] Eu me entrego ao autor. É claro que posso não gostar de certas cenas, mas ou faço o papel ou saio do mercado. Novela é isso”, explicava.
Questionada do porquê de ter aceitado o papel em Andando nas Nuvens, já que não se identificava com a personagem, respondia: “Porque sou uma empregada da Globo. Nunca recusei um papel nem escolhi personagem. Fico mais feliz com certos resultados, mas não me frustra uma personagem que não faz sucesso. Não se pode comparar o impacto de uma vilã com o de uma boazinha, como Gonçala. Ela e Otávio (Marco Nanini) são perdidos no mundo por serem puros e honestos. Em vez de passar isso com tristeza, faço com alegria. Gonçala está sempre alegre”.