Desde a semana passada, milhares de peixes estão aparecendo mortos nas águas do Rio Piracicaba, gerando comoção e destaque nacional. A gravidade do ocorrido tem atraído a atenção de todo o país devido à extensa quantidade de peixes mortos. Os trabalhadores que dependem da pesca para seu sustento estão alarmados e afirmam que essa situação é inédita para a região. Nivaldo Albino de Siqueira, um dos pescadores mais experientes da área, disse que a comunidade está preocupada e afirmou que o fenômeno é inédito. “O sustento da minha família toda é daqui. Dessa vez acabou com a gente”.
A primeira grande mortandade de peixes ocorreu no dia 7 de julho, na altura da Rua do Porto, na zona urbana da cidade. O segundo incidente começou na segunda-feira (15) no bairro Tanquã, conhecido como mini pantanal paulista e uma importante área de proteção ambiental.
O crime ambiental, segundo a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), foi provocado pela descarga de poluentes pela usina São José S/A de Açúcar e Álcool, de São Pedro, que negou que tenha feito o despejo no local (veja mais abaixo a posição da empesa). A companhia adiantou que, pelo crime ambiental, é prevista multa no valor de até R$ 50 milhões aos responsáveis. O órgão e o Ministério Público investigam o caso. Além disso, um inquérito foi aberto pela Polícia Civil de Rio das Pedras.
Impacto para a comunidade
Com a situação, trabalhadores que dependem da pesca para a própria sobrevivência estão com os barcos parados e lamentam pela situação. “[O sustento] da minha família toda é daqui. Minha esposa, minha filha […] Dessa vez acabou com a gente. Não tem mais peixe”, comentou Nivaldo.
“Meu sentimento hoje de ver isso aqui é uma grande tristeza. Não só para mim como para todos os pescadores que vivem da pesca. Têm suas famílias para tratar, seus filhos para cuidar e hoje estão pensando como vão fazer para sobreviver da pesca e não tem mais peixe”, finalizou.
‘Com 10 anos não se recupera mais essa quantidade’
“Nunca vi uma coisa dessas na minha vida. E é uma grande tristeza hoje a gente ver acontecendo uma coisa dessas daqui. Eu falo para você: com 10 anos não se recupera mais essa quantidade de peixes que morreram”, afirmou José Veronés, pescador há mais de 30 anos na região.
Ele lembra ainda que neste ano que a Piracema (período de reprodução dos peixes) já terminou neste ano. O que torna o cenário ainda mais agravante.
“Isso daqui vai fazer falta para todo pescador que vive da pesca. Para recuperar isso vai demorar uns dez anos ou mais até. E o pescador, que sobrevive e trata a família com a pesca, como vai ficar?”, completou.
Segundo ele, mais de 50 famílias sofreram com os reflexos das mortandades registradas nos últimos dias.
A Prefeitura de Piracicaba informou, em nota, que realizará a recolha dos resíduos (peixes) da região do Tanquã, por meio de contrato emergencial com empresa especializada. Em nota, disse que continua monitorando a qualidade da água do rio e também pretende exigir do responsável o repovoamento, com a soltura de alevinos.
Em relação à primeira mortandade do rio, centralizada na Rua do Porto, a Prefeitura já recolheu 2,97 toneladas de peixes mortos.
Efeitos no ecossistema e turismo
O reflexo para a fauna também afeta o turismo no local, já que um dos principais focos dessa atividade na região é a observação de aves e outras espécies.
No local vivem 94 espécies de aves aquáticas, 16 das quais realizam movimentos migratórios e oito estão ameaçadas, no estado de São Paulo.
“Eu mesmo levo pessoas para fazer turismo, tirar fotos de pássaros e tudo. Eu tenho certeza que a maioria dos pássaros vai sumir daqui”, afirma José.
Ele estima que cerca de 20 espécies de peixes estão entre as mortas no local. Entre elas, a Piracanjuba e a Matrinxã, ameaçadas de extinção.
Mortandade atingiu ‘bercário’ do Rio Piracicaba, diz pescador
Segundo o pescador Antônio Márcio Caetano, as áreas mais críticas são pontos que só podem ser acessados de barco, principalmente aqueles onde formações vegetais criam espécies de bolsões, onde vários peixes vão se enroscando.
“O peixe passava por debaixo e vinha na beiradinha para respirar, só que esse peixe que vem para a beirada não volta mais para o meio. Ele morre na beirada. Se você olhar ali, o que é corvo ali para cima. Está fedendo”, alertou ele, afirmando que é a maior mortandade que já viu.
“O que morreu aí é matriz [peixes reprodutores]. Porque aqui é um berçário, na realidade. É até proibido pescar nesse trecho aqui. Então, a gente pesca de certo ponto pra baixo. […] Atingiu o coração [do rio]”, lamenta Antonio.
Usina nega que foi a responsável pela mortandade no Rio Piracicaba
A Usina São José S/A de Açúcar e Álcool, investigada pela mortandade de milhares de peixes no Rio Piracicaba e na região do Tanquã, conhecido como mini pantanal paulista, alega que não é responsável pelas mortes dos animais e que as causas são desconhecidas.
Ao MP-SP (Ministério Público), a empresa também atribui o ocorrido à má qualidade do tratamento do esgoto pela Prefeitura de Rio das Pedras.
A usina, porém, segundo o MP, admite que houve um vazamento de resíduos agroindustriais ocorrido após rompimento de tubulações, mas que a quantidade do material extravasado não seria suficiente para provocar a morte dos animais nos mananciais.
*Com informações de Edijan Del Santo/EPTV Piracicaba
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