A Prefeitura de Piracicaba deve iniciar a remoção dos milhares de peixes mortos na APA (Área de Proteção Ambiental) do Tanquã nesta quinta-feira (18). Para isso, um hidrotrator, equipamento capaz de fazer a limpeza de detritos em ambientes aquáticos, será usado nos trabalhos. O serviço será feito pela Ambiental Piracicaba, mesma empresa que faz a coleta de lixo na cidade. Saiba, abaixo, como o serviço será feito.
A mortandade na região do Tanquã foi registrada nesta segunda-feira (15), uma semana após quase três toneladas de peixes aparecerem mortos na zona urbana do Rio Piracicaba. Segundo a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), ambos os problemas foram causados por resíduos industriais lançados em um ribeirão afluente do Rio Piracicaba por uma usina de açúcar e álcool. Os produtos diminuíram a quantidade de oxigênio da água, que chegou a zero em alguns pontos. A empresa nega a responsabilidade.
Como será feita a limpeza?
Segundo a Administração, o hidrotrator, que vem de Bauru, será transportado em um caminhão Munk para a área alagada do Tanquã, em São Pedro.
O equipamento será utilizado para coletar os peixes e levá-los até a margem do rio, onde os caminhões da empresa contratada irão recolhê-los e transportá-los para o ecoparque, o local de descarte de lixo da cidade.
Quanto tempo deve durar o trabalho de limpeza?
Não há previsão de quando os trabalhos vão terminar. Também não há informações sobre o custo do serviço para a Prefeitura de Piracicaba.
Equipes da Polícia Ambiental e da Simap (secretaria Municipal de Infraestrutura e Meio Ambiente) aguardam a chegada do equipamento.
Relembre o caso
O Rio Piracicaba e afluentes registraram nos últimos dias duas grandes mortandades de peixes. A primeira foi em 7 de julho, na altura da Rua do Porto, na zona urbana de Piracicaba. Já outro caso foi registrado na segunda-feira (15), no bairro Tanquã, local conhecido como minipantanal paulista, e que é uma área de proteção ambiental. O caso ganhou grande repercussão nacional e impacta a vida de pelo menos 50 famílias e pescadores que dependem da pesca para sobreviver.
Uma vistoria da Cetesb fez sobrevoos de drone em pontos afetados pela mortandade para calcular quantos peixes morreram, quais são os prejuízos para a água e qual será o tempo de recuperação do rio e das espécies no ecossistema aquático. Mas especialistas ambientais afirmam que a recuperação da fauna perdida será de até 10 anos.
O que diz a Cetesb?
Em boletim atualizado pela Cetesb e enviado à imprensa na noite desta terça-feira (16), a Agência Ambiental afirmou que o problema foi causado por resíduos industriais lançados em um afluente no Rio Piracicaba pela usina São José S/A de Açúcar e Álcool. Esses produtos diminuíram a quantidade de oxigênio da água, o que causou a morte de centenas de peixes na zona urbana do Rio Piracicaba e no minipantanal Tanquã.
Segundo a companhia, a usina responsável pelo lançamento irregular e solicitou a retirada imediata dos peixes mortos do Tanquã.
“Em decorrência da mortandade de peixes identificada nos últimos dias na região do Bairro de Tanquã, a Cetesb realizou novas coletas de amostras que constataram baixo nível de oxigênio dissolvido. Esse evento está associado ao lançamento irregular realizado pela Usina São José S/A Açúcar e Álcool na semana passada, chegou a essa localidade e provocou a mortandade de peixes”.
A companhia também adiantou que, pelo crime ambiental, é prevista multa no valor de até R$ 50 milhões aos responsáveis.
O órgão e o Ministério Público investigam o caso. Além disso, um inquérito foi aberto pela Polícia Civil de Rio das Pedras para apuração dos fatos. Um novo relatório deve ser disponibilizado nesta sexta-feira (19).
O que diz a usina?
A usina São José S/A de Açúcar e Álcool alega que não é responsável pelas mortes dos animais e que as causas são desconhecidas. Ao MP-SP (Ministério Público), a empresa admitiu que houve um vazamento de resíduos agroindustriais ocorrido após rompimento de tubulações, mas que a quantidade do material extravasado não seria suficiente para provocar a morte dos animais nos mananciais.
“Após cinco inspeções realizadas por técnicos da Cetesb nas dependências da Usina São José S/A Açúcar e Álcool, nada foi informado à empresa formalmente que explique o motivo ou a origem da mortalidade de peixes registrada nos últimos dias. As insinuações do envolvimento da usina nessa ocorrência são precoces e não têm, até agora, qualquer comprovação ou fundamento”, comunicou.
A declaração foi feita à Polícia Civil e chegou ao Ministério Público, por meio do Gaema (Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente). Equipes do MP vistoriaram as instalações da usina na tarde desta terça-feira (16) e constataram o rompimento em tubulação.
A usina informou ainda que está acompanhando as investigações sobre o recente caso de mortandade de peixes no Rio Piracicaba e suas possíveis causas.
“Cabe lembrar que as operações da usina estavam interrompidas desde 2020, tendo sido retomadas somente em maio deste ano, e que nos últimos 10 anos houve mais de 15 ocorrências dessa natureza na região. A empresa esclarece ainda que adota as melhores práticas do ponto de vista ambiental e não poupa esforços para colaborar plenamente com a Cetesb, a Polícia Ambiental e o Ministério Público. Nesse sentido, está fornecendo todas as informações e acessos solicitados para garantir uma investigação transparente, que ajude a esclarecer as causas do incidente”.
Quantos peixes morreram?
Não é possível afirmar o número de peixes que morreram, mas a força-tarefa criada para limpeza do Rio Piracicaba, após a descarga irregular de poluentes na água, recolheu 2,97 toneladas de peixes mortos no último dia 11. Essa quantidade é apenas da mortandade registrada na zona urbana.
Agora, a Administração fará o recolhimento dos novos animais mortos no Tanquã, que segundo informações do MP, passa de 20 toneladas.
Outros animais também são afetados
O engenheiro agrônomo e professor de piscicultura, Brunno Silva Cerozi, do Departamento de Zootecnia do campus da USP (Universidade de São Paulo) em Piracicaba, estima que a fauna aquática já foi afetada pelo impacto dos poluentes agroindustriais que atingiram o Tanquã, área de proteção ambiental conhecida como mini pantanal paulista.
O professor explica que, além dos peixes, há animais microscópicos, microcrustáceos e crustáceos que já foram impactados pela tragédia ambiental.
As aves também sofrerão com os reflexos da mortandade dos peixes devido à alteração do regime de disponibilidade de alimentos, bem como outras espécies que vivem ao redor da área de proteção ambiental, como jaguatiricas, lobo guará e jacarés.
O que falta saber?
A conclusão das investigações deve esclarecer alguns pontos. Entre eles:
- Que tipo de resíduo foi lançado pela usina responsável;
- A punição que essa usina vai receber;
- Demais efeitos ao meio ambiente que podem ser causados por conta dessa poluição.
*Com informações de Edijan Del Santo, Helen Sacconi e Wesley Justino/EPTV Piracicaba
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