A usina São José S/A de Açúcar e Álcool, investigada pela mortandade de peixes no Rio Piracicaba e no mini pantanal paulista Tanquã, alega que não é responsável pelas mortes dos animais e que as causas são desconhecidas. Ao MP-SP (Ministério Público), a empresa admitiu que houve um vazamento de resíduos agroindustriais ocorrido após rompimento de tubulações, mas que a quantidade do material extravasado não seria suficiente para provocar a morte dos animais nos mananciais.
“Após cinco inspeções realizadas por técnicos da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) nas dependências da Usina São José S/A Açúcar e Álcool, nada foi informado à empresa formalmente que explique o motivo ou a origem da mortalidade de peixes registrada nos últimos dias. As insinuações do envolvimento da usina nessa ocorrência são precoces e não tem, até agora, qualquer comprovação ou fundamento”, comunicou.
A declaração foi feita à Polícia Civil e chegou ao Ministério Público, por meio do Gaema (Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente). Equipes do MP vistoriaram as instalações da usina na tarde desta terça-feira (16) e constataram o rompimento em tubulação.
O promotor Ivan Carneiro ressaltou que, no primeiro relatório enviado pela Cetesb a pedido do MP, há apontamentos de causalidade entre os despejos dos resíduos e a mortandade de peixes.
“Fomos à Usina São José a fim de verificar as condições de armazenamento dos produtos utilizados pela empresa, do melaço e xarope de cana inclusive. Eles alegam que o extravasamento foi decorrente do rompimento de canos e que não teria sido suficiente para provocar mortandade de peixes”, disse o promotor.
A usina informou que está acompanhando as investigações sobre o recente caso de mortandade de peixes no Rio Piracicaba e suas possíveis causas.
“Cabe lembrar que as operações da usina estavam interrompidas desde 2020, tendo sido retomadas somente em maio deste ano, e que nos últimos 10 anos houve mais de 15 ocorrências dessa natureza na região. A empresa esclarece ainda que adota as melhores práticas do ponto de vista ambiental e não poupa esforços para colaborar plenamente com a Cetesb, a Polícia Ambiental e o Ministério Público. Nesse sentido, está fornecendo todas as informações e acessos solicitados para garantir uma investigação transparente, que ajude a esclarecer as causas do incidente”.
Relembre o caso da mortandade de peixes e a acusação feita à usina
O Rio Piracicaba e afluentes registraram nos últimos dias duas grandes mortandades de peixes. A primeira foi em 7 de julho, na altura da Rua do Porto, na zona urbana de Piracicaba. Já outro caso foi registrado na segunda-feira (15), no bairro Tanquã, local conhecido como mini pantanal paulista, e que é uma área de proteção ambiental. O caso ganhou grande repercussão nacional e impacta a vida de pelo menos 50 famílias e pescadores que dependem da pesca para sobreviver.
O crime ambiental, segundo a Cetesb, foi provocado pela descarga de poluentes pela usina São José S/A de Açúcar e Álcool, de São Pedro, que como visto acima, negou o envolvimento. A companhia adiantou que, pelo crime ambiental, é prevista multa no valor de até R$ 50 milhões aos responsáveis.
O órgão e o Ministério Público investigam o caso. Além disso, um inquérito foi aberto pela Polícia Civil de Rio das Pedras para apuração dos fatos. Um novo relatório deve ser disponibilizado nesta sexta-feira (19).
Quantos peixes morreram?
Não é possível afirmar o número de peixes que morreram, mas a força-tarefa criada para limpeza do Rio Piracicaba, após a descarga irregular de poluentes na água, recolheu 2,97 toneladas de peixes mortos. Essa quantidade é apenas da mortandade registrada na zona urbana.
Agora, a Administração precisará contratar uma empresa especializada para o recolhimento dos novos animais mortos no Tanquã, que segundo informações do MP, chega a 20 toneladas.
Os trabalhos serão iniciados nos próximos dias a fim de diminuir os possíveis danos ambientais. Além disso, na quarta-feira (17) a Cetesb fará um sobrevoo com drones para averiguação da quantidade de peixes mortos nos Tanquä.
Recuperação dos peixes e impacto na fauna e flora
O engenheiro agrônomo e professor de piscicultura, Brunno Silva Cerozi, do Departamento de Zootecnia do campus da USP (Universidade de São Paulo) em Piracicaba, estima que a fauna aquática já foi afetada pelo impacto dos poluentes agroindustriais que atingiram o Tanquã, área de proteção ambiental conhecida como minipantanal paulista.
O professor explica que, além dos peixes, há animais microscópicos, microcrustáceos e crustáceos que já foram impactados pela tragédia ambiental.
As aves também sofrerão com os reflexos da mortandade dos peixes devido à alteração do regime de disponibilidade de alimentos.
O que falta saber?
A conclusão das investigações deve esclarecer alguns pontos. Entre eles:
- Que tipo de resíduo foi lançado pela usina responsável;
- A punição que essa usina vai receber;
- Demais efeitos ao meio ambiente que podem ser causados por conta dessa poluição.
*Com informações de Edijan Del Santo/EPTV Piracicaba
LEIA TAMBÉM NO ACIDADE ON PIRACICABA
Caminhão carregado com óleo lubrificante pega fogo na Bandeirantes