Interlocutores políticos e econômicos do presidente Jair Bolsonaro (PL) passaram a acionar importantes nomes do PIB brasileiro depois da ampla repercussão entre empresários do manifesto pela democracia, parte de um movimento organizado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Um dos contatos realizados pela campanha de Bolsonaro foi com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que resultou no agendamento de um almoço entre o presidente e banqueiros, na próxima segunda-feira, 8.
A data foi sugerida pela campanha de Bolsonaro e acelerou o início de encontros entre a entidade e presidenciáveis.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também será recebido pela entidade nos próximos dias. Os ex-ministros Aloizio Mercadante e Alexandre Padilha são os interlocutores de Lula nas conversas com o presidente da Febraban, Isaac Sidney. Segundo fontes, os dois lados já concordaram em realizar o encontro e as tratativas entre a federação e a campanha do petista para agendar a data da reunião estão avançadas.
A rodada de conversas entre presidentes dos principais bancos do País e candidatos começaria a ser articulada ontem, quando terminou o prazo para as convenções partidárias. O movimento da campanha de Bolsonaro na última semana, no entanto, antecipou o plano.
Aliados do presidente buscaram dirigentes da Febraban e disseram ter aconselhado Bolsonaro a não ampliar a tensão com empresários na proximidade das eleições. Houve pedido da campanha para que o presidente fosse recebido para uma conversa na sede da instituição, em São Paulo.
Reativo
No ano passado, quando a entidade decidiu apoiar um manifesto na véspera dos atos de 7 de Setembro, a postura do governo Bolsonaro foi reativa. Na época, o então presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, incendiou a relação ao propor a saída da instituição e do Banco do Brasil da tradicional entidade, o que acabou não acontecendo. Os dois bancos públicos estão na lista dos cinco maiores associados da Febraban.
O cenário político é outro. A menos de dois meses da eleição, Bolsonaro está atrás de Lula nas pesquisas de intenção de voto e viu-se diante de uma reação mais robusta do empresariado a seus ataques contra as urnas, com nova posição da Fiesp. No ano passado, o então presidente da Fiesp, Paulo Skaf, segurou a publicação do texto. Neste ano, em contrapartida, a entidade liderou a busca de apoio para um manifesto que pede compromisso com “a soberania do povo expressa pelo voto”.
O texto, assinado por mais de cem entidades, será lido em um dos atos organizados para ocorrer no dia 11 de agosto na Faculdade de Direito da USP. Na mesma ocasião também será lida a carta em defesa da democracia redigida por juristas – que acumula mais de 765 mil signatários. Milhares de pessoas são aguardadas pelos organizadores do evento, que tem entre as mensagens o respeito à Justiça Eleitoral e ao resultado das eleições deste ano.
Rival
Bolsonaro ensaiou uma ida à Fiesp no dia 11, mas cancelou a participação após notícias de que seria convidado a assinar o manifesto durante sua visita à entidade. Alguns conselheiros da campanha também indicaram que seria um erro rivalizar com o movimento na mesma data.
Há poucos dias, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, atacou banqueiros e disse que a adesão de nomes do setor ao manifesto pró-democracia foi uma reação por suposta perda de receita com o Pix, uma ação iniciada durante o governo Michel Temer (MDB). Bolsonaro repetiu a acusação e chegou a chamar de “cara de pau” e “sem caráter” aqueles que assinaram o que chama de “cartinha”. O texto foi assinado por banqueiros como Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles.
O presidente tem sido aconselhado por aliados a levantar bandeira branca na reunião com a Febraban, como estratégia eleitoral. No entanto, Bolsonaro não costuma seguir pedidos de moderação.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.