BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Inicialmente apelidado de G7, o grupo que comanda a CPI da Covid ganhou visibilidade nos primeiros 90 dias de atuação, quase teve defecções e precisou manobrar para superar adversidades.
Após alguns atritos na primeira etapa, essa ala tem entre seus desafios a busca de articulação para evitar a perda de comando com a retomada dos depoimentos na comissão a partir da semana que vem.
Majoritário no colegiado, o grupo de seis a sete senadores, já que um é considerado volátil, ditou o ritmo dos trabalhos de investigação. São eles que definem quem será convocado, aprovam requerimentos de quebras de sigilos e impedem que governistas mudem o foco das apurações, tirando-o da gestão do presidente Jair Bolsonaro para os governadores estaduais.
Foi em um cochilo dos governistas que se formou a coalizão majoritária e, sob certo aspecto, improvável. Estão no mesmo lado petista e tucano, lava-jatistas e críticos da operação. Essas diferenças parecem ter ficado para trás, analisando especificamente a unidade e desempenho do bloco.
Mas a maioria tênue, de 11 titulares da CPI, tem exigido uma ginástica para que desentendimentos e adversidades não provoquem fissuras.
A primeira ameaça veio com o pedido de prisão de Fabio Wajngarten, que colocou o presidente Omar Aziz (PSD-AM) em atrito com os demais.
Na ocasião, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), pediu a detenção do ex-auxiliar de Bolsonaro, o que acabou negado por Aziz.
Novo racha veio com a prisão determinada por Omar do ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias. Apesar de todos manifestarem publicamente apoio ao presidente do colegiado, a decisão foi questionada internamente.
No caso do pedido de prisão de Wajngarten, Omar reclamou internamente que seus parceiros levaram a público o pedido, apesar de estar acertado nos bastidores o contrário. A situação foi contornada.
Em outro momento, Omar chateou-se com colegas que votaram contra o requerimento para convocar certos governadores quebrando um acordo de que os pedidos seriam aprovados. Omar chegou a falar que não ofereceria mais o jantar com bacalhau em sua casa nas reuniões de segunda-feira.
Por outro lado, a ameaça mais séria e persistente está ligada ao Amazonas, estado de dois membros da comissão. Problemas regionais quase levaram à saída definitiva do senador Eduardo Braga (MDB-AM) do G7.
O primeiro embate entre Omar e Braga se deu na época da análise de requerimentos para convocar o governador do Amazonas, Wilson Lima.
O senador emedebista pressionou para que Lima fosse convocado, apesar da leitura da cúpula da CPI de que a comissão não tinha tal poder.
Somaram-se à demanda de Braga as solicitações dos senadores governistas para que outros chefes de Executivos estaduais fossem chamados a falar no colegiado.
Diante da pressão, para não ter de convocar apenas o governador amazonense, Omar decidiu colocar em votação os requerimentos para chamar todos os gestores que fossem investigados, o que foi aprovado na CPI mas acabou barrado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Braga é considerado adversário de Lima, enquanto Omar é tido como uma pessoa mais próxima do governador.
Em outra ocasião, houve nova desavença entre ambos quando o presidente da CPI tentou colocar em votação pedidos que poderiam prejudicar aliados de Braga no Amazonas, como quebras de sigilo e convocações. Em um dos jantares de segunda-feira em sua residência, Omar exigiu “lealdade” aos colegas para a aprovação dos seus requerimentos.
A possível saída do senador da ala majoritária provocou preocupação em parlamentares, principalmente no relator, Renan Calheiros (MDB-AL).
Naquele jantar, Calheiros disse que é próximo do correligionário e grato a ele pela indicação para que se tornasse relator. Por isso, disse que, se houvesse confronto entre os amazonenses, não poderia contrariar Braga.
Aquele jantar terminou com um clima ruim. Omar disse que retiraria os requerimentos dele de pauta, mas também não votariam os de Renan. A decisão acabou atrasando, por exemplo, a designação de um policial federal para a equipe do relator.
Além disso, Braga passou a ser visto com desconfiança por colegas por nem sempre participar das reuniões semanais do G7 e se manifestar com menos frequência nas sessões da CPI.
A avaliação de parte do grupo é que Braga estaria se alinhando ao Planalto.
Diante da situação, senadores buscaram contornar as rusgas e colocar panos quentes no atrito entre o presidente da CPI e o senador emedebista para evitar perder a maioria.
Segundo o próprio Omar, por exemplo, Braga continua como membro do G7. Ele diz inclusive que o senador segue no grupo de WhatsApp criado no início dos trabalhos pelos senadores. Chamado de “Filhos de Otto e de Tasso”, em referência aos dois senadores mais velhos da comissão.
Trata-se também de uma adaptação do grupo de WhatsApp que era usado por procuradores da Operação Lava Jato, que era chamado “Filhos de Januário”.
“”Os interesses maiores, nós comungamos dos mesmos. Os menores a gente tem que relevar. Não é uma coisa minha só, é de qualquer pessoa que atua na posição que eu estou, tendo manter o equilíbrio para manter a união do grupo”, afirmou Omar Aziz à reportagem.
Neste mês, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, foi xingado por apoiadores de Jair Bolsonaro e todos os senadores do grupo, inclusive Braga, solidarizaram-se com ele e disseram que assinariam uma nota em apoio caso ele quisesse.
Renan Calheiros também afirma que o grupo não rachou. “O Eduardo, nas coisas fundamentais, sempre votou conosco, os sete, e não é interessante excluí-lo. É preciso ciscar pra dentro. Nós queremos ser G8 e não G6”, afirmou o senador à reportagem.
As divergências políticas do grupo não param apenas nos amazonenses. O próprio Randolfe reconhece que sempre teve uma trajetória de divergências políticas com Renan Calheiros.
“Se alguém dissesse para o Randolfe de 2011, quando chegou ao Senado, ‘olha, atenção, eu vim do futuro. Em 2021, você continuará no Senado e o seu principal parceiro, o qual você defenderá e ele lhe defenderá também, será o senador Renan Calheiros’. Eu imediatamente diria ‘manda recolher porque esse aqui está doido de pedra'”, disse Randolfe.
“A grande característica do campo que se formou é que são pessoas de posições políticas muito distintas, que se uniram por conta da tragédia que estava em curso no Brasil”, avalia o senador. Para ilustrar o caso, ele lembra que na aprovação da reforma trabalhista, ele chegou a pular sobre a mesa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) de tão contrariado com a posição do colega.