BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A CPI da Covid vê indícios de pagamentos de boletos em favor do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias pela Voetur, uma empresa investigada pelos senadores.
Entre os dias 15 de maio e 6 de julho deste ano, foram emitidos nove boletos em nome de Dias, em um total de R$ 47 mil. Os valores variam de R$ 785,22 a R$ 7.000.
Para os senadores, as transferências podem ser uma tentativa de camuflar supostas propinas pagas a Dias pela VTC Log, que tinha contratos com o ministério, por meio de sua subsidiária Voetur.
Em nota, a Voetur afirmou que nunca efetuou pagamentos ou transferências em nome de Dias. Procurado pela reportagem, o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde não respondeu até a conclusão desta reportagem.
A VTC Log, por sua vez, também em nota, afirmou que Dias é um cliente da Voetur, e não um credor do grupo, não tendo, assim, nada a receber. Porém, a empresa admitiu que Dias está inadimplente com a agência de viagens, sem dar detalhes.
Enquanto os pagamentos eram efetuados, a CPI já citava o nome de Dias em investigações.
O ex-diretor foi exonerado da Saúde no dia 29 de junho, depois de o policial militar Luiz Paulo Dominghetti dizer à Folha de S. Paulo que Dias havia lhe pedido propina para avançar na negociação de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.
Na sessão da CPI da Covid desta terça-feira (31), os senadores divulgaram um vídeo que seria do motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva, que atuava para a VTC Log, em uma agência bancária no exato momento em que quatro boletos de Dias eram pagos.
As imagens divulgadas pelos senadores mostram três ocasiões em que o motoboy compareceu ao banco, nos dias 10, 22 e 24 de junho deste ano.
No primeiro dia, foi pago um boleto em nome de Dias à Voetur no valor de R$ 7.500. No dia 22, outro boleto de R$ 6,000 também foi pago. E, no dia 24, foram pagos quatro boletos, em um valor total de R$ 13,5 mil. Não é possível saber se os demais boletos foram pagos e por quem.
“Eu queria comunicar a esta Comissão Parlamentar de Inquérito e comunicar ao Brasil que nós acabamos de receber indícios veementes de que era o próprio Ivanildo, o motoboy [da VTC Log], que pagava os boletos de dívidas junto à Voetur do Roberto Ferreira Dias”, afirmou o relator, Renan Calheiros (MDB-AL).
Após a divulgação dos vídeos e dos extratos dos pagamentos dos boletos, a CPI decidiu reconvocar o motoboy para prestar depoimento.
Silva deveria ter comparecido à comissão nesta terça, mas um habeas corpus concedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) lhe garantiu o direito de não prestar depoimento.
Segundo Renan, as imagens reveladas pelo sistema de bancos comprovam que os boletos do ex-diretor de Logística da Saúde foram pagos nos mesmos dias e horários em que o motoboy da VTC Log estava nas agências.
“O que comprova verdadeiramente o conluio existente no bastidor do Ministério da Saúde no exato [momento de] enfrentamento da pandemia”, disse o senador.
A Voetur, em nota, negou quaisquer favorecimentos a Dias. “O ex-diretor efetuou pagamentos –e não recebeu ou foi beneficiário em suas contas– de qualquer vantagem por parte da Voetur”, disse a empresa.
Segundo a agência de viagens, “foram duas as formas de pagamento utilizadas pelo consumidor Roberto Dias: pagamento dele para a empresa mediante transferência eletrônica (portanto, rastreável) e pagamentos dele para a empresa em espécie”.
“Atualmente, há pagamentos em aberto, portanto Roberto Dias está inadimplente e as cobranças foram devidamente protestadas. A Voetur é credora e não pagadora de qualquer recurso ao ex-diretor”, afirmou.
A empresa também divulgou uma certidão de protesto, no valor de R$ 20 mil.
Por outro lado, a VTC Log foi questionada e não explicou a presença do motoboy na agência bancária nos mesmos momentos em que os boletos de Dias foram pagos. A empresa ainda afirmou “lamentar a distorção e a precipitação no tratamento de dados tão sensíveis”. E reiterou a “correção de todos [dados]”.
A VTC Log, que presta serviço de logística ao Ministério da Saúde, está na mira da CPI porque, durante a pandemia, seus contratos foram elevados sem justificativa plausível, segundos os senadores.