No papel, Adson Lima da Silva, de 33 anos, é um empresário: figura como sócio de uma companhia de construção em Maceió, tocada em parceria com a mulher, e que recebeu R$ 13,8 milhões em verbas federais repassadas a prefeituras alagoanas. Adson é também filho de um empresário do ramo de autopeças, cujo giro chega à casa das dezenas de milhões por ano. Na vida real, porém, Adson vivia numa casa modesta na zona norte de São Paulo, no bairro do Jaraguá.
O Estadão esteve no endereço que consta em relatório da Polícia Federal vinculado ao CPF de Adson. O que era para ser a moradia do suposto empresário com contratos milionários em Alagoas é uma casa onde moram várias famílias. Segundo os vizinhos, Adson se mudou há alguns anos.
A PF suspeita que ele seja “laranja” em um esquema de desvio de verbas federais enviadas à cidade de Rio Largo (AL). Um inquérito reuniu indícios de que o prefeito de Rio Largo, Gilberto Gonçalves (Progressistas), teria usado duas empresas para desviar dinheiro público. Uma delas está registrada em nome de Adson.
FLAGRANTE
Na investigação, agentes federais gravaram imagens de pessoas sacando dinheiro das contas das empresas envolvidas e seguindo de carro até um beco onde eram entregues envelopes a veículos usados pela prefeitura de Rio Largo. O prefeito é o principal alvo da investigação.
Em 2007, Gonçalves e o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), foram alvo da Operação Taturana, que resultou na condenação de Lira por improbidade administrativa – ele ainda recorre. Como deputado federal, Lira destinou, por meio de emendas do chamado orçamento secreto, recursos para Rio Largo. O presidente da Câmara não é citado no inquérito da PF sobre o prefeito.
Nos registros da Receita Federal, Adson aparece como um dos donos da construtora Litoral, de Maceió. Para a PF, porém, trata-se de uma empresa de fachada: a Litoral nunca teve nenhum empregado registrado e a sede informada é um quarto do hotel Aqua Inn, no bairro da Ponta Verde, na capital alagoana. A empresa recebeu R$ 13,8 milhões de várias prefeituras de Alagoas de 2019 até fevereiro de 2022.
Adson também trabalhou em uma empresa de autopeças, chamada Reauto, que existe de fato e pertence ao pai dele, Ailton. Segundo a PF, a Reauto recebeu R$ 49 milhões, valores considerados “incompatíveis” com a estrutura da empresa. Adson, seu irmão Alisson e outras pessoas ligadas à Litoral e à Reauto fizeram 233 saques na boca do caixa, de quantias acima de R$ 10 mil, a maior parte deles tinha o valor de R$ 49 mil – uma forma de driblar o Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que notifica retiradas acima de R$ 50 mil.
COMUNIDADE
O imóvel onde Adson viveu em São Paulo é uma casa simples na comunidade Jardim Ipanema, no Jaraguá, na zona norte de São Paulo. A fachada é pintada em amarelo vivo, e na parede há cinco relógios de medição de energia, sugerindo que ali vivem várias famílias. Moradores do local disseram conhecer os irmãos Adson e Allison. Segundo os vizinhos, Adson voltou para Alagoas há quatro ou cinco anos, e visita São Paulo eventualmente.
RESPOSTA
Por intermédio de sua assessoria, Lira afirmou que destina verbas para prefeitos que o apoiam, como fazem os demais parlamentares. Gonçalves não se manifestou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.