A senha de que poderia desistir de se candidatar à Presidência da República foi dada publicamente no que seria seu jantar de despedida, na noite desta quarta, mas, segundo aliados, alguns sinais do governador João Doria (PSDB) ao longo da semana poderiam indicar nessa direção.
Na segunda, 28, por exemplo, o tucano desmarcou, sem justificativa prévia, a reunião semanal que realizava com sua equipe eleitoral após o expediente. Um dos integrantes relatou surpresa pela proximidade da renúncia e posterior início das viagens da pré-campanha. No mesmo dia, Doria não compareceu à abertura do 64º congresso realizado pela Associação Paulista de Municípios (APM), em Campos do Jordão, marcado para esta semana justamente para que Doria se despedisse dos prefeitos da região de forma mais próxima.
Aliados também relatam que nos últimos dias foi difícil manter contato com o irmão do governador, Raul Doria, de quem é muito próximo. O tucano teria, portanto, tomado a decisão praticamente de forma isolada e, não por acaso, depois que Eduardo Leite renunciou ao cargo de governador do Rio Grande do Sul, colocando-se publicamente como opção dentro do PSDB. Isso apesar de ter perdido para Doria o processo de prévias.
O fato de Leite estar agora livre para ser alçado ao posto de pré-candidato a presidente ou a vice – possibilidade tratada como mais provável pelos próprios tucanos – aumentou não só a pressão sobre o desempenho de Doria nas pesquisas (o tucano tem apenas 2% de intenção de voto), mas como seu isolamento dentro do partido. Para piorar, o deputado Aécio Neves (PSDB), seu principal desafeto interno, foi absolvido pela Justiça da acusação que respondia desde 2017 por supostamente ter recebido R$ 2 milhões em propina da JBS.
Com o grupo de Aécio fortalecido dentro do partido, e apoiando as pretensões de Leite, havia o temor de que o resultado das prévias não fosse homologado na convenção do PSDB, que deve ser realizada até agosto. Com a prorrogação do mandato do presidente nacional, Bruno Araújo, também os dirigentes regionais foram mantidos em seus respectivos cargos e Doria não tem maioria na executiva.
Aviso
As primeiras pessoas a serem comunicadas da desistência, antes mesmo do jantar organizado pelo empresário e amigo Marcos Arbaitman começar, foram o vice-governador, Rodrigo Garcia (que viraria governador com a renúncia de Doria); o presidente da Assembleia Legislativa, Carlão Pignatari (deveria receber a renúncia); e os secretários estaduais da Casa Civil, Cauê Macris; e de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi. Todos do PSDB.
Com agendas públicas canceladas até às 16h desta quinta, quando é esperado um pronunciamento oficial de Doria, aliados ainda tentam reverter a decisão ou amenizar os impactos dela sobre a pré-candidatura de Garcia ao Estado. Mas ainda sob o impacto avassalador da notícia.