Os pastores evangélicos que operaram o gabinete paralelo no Ministério da Educação (MEC) durante a gestão do ex-ministro Milton Ribeiro estiveram dezenas de vezes no Palácio do Planalto na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL). Os registros da segurança do Palácio contam 35 acessos do pastor Arilton Moura e outros 10 de Gilmar Santos, da Assembleia de Deus Cristo para Todos.
Inicialmente, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) se recusou a fornecer os dados sobre as visitas dos dois ao Palácio, solicitados por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).
Como mostrou o Estadão em meados de março, Gilmar Santos e Arilton Moura controlavam a agenda e a liberação de verbas do Ministério da Educação durante a gestão de Milton Ribeiro. A dupla facilitava o acesso de prefeitos a verbas do MEC em troca de propina, inclusive em barra de ouro – no último dia 5, três dirigentes municipais confirmaram ter recebido pedidos de vantagem indevida numa audiência da Comissão de Educação do Senado. Milton Ribeiro, que é pastor da igreja Presbiteriana, renunciou ao cargo de ministro em 28 de março, após reportagens do Estadão revelarem pedidos de propina em barras de ouro e até por meio da impressão de Bíblias elaboradas por Gilmar Santos e Arilton Moura.
As informações sobre as visitas dos pastores ao Palácio do Planalto foram obtidas pelo jornal O Globo, por meio da Lei de Acesso à Informação. No despacho que concedeu acesso ao material, o Gabinete de Segurança Institucional disse que a decisão de franquear a informação foi tomada após “recente manifestação da Controladoria-Geral da União (CGU) quanto à necessidade de atender o interesse público”. As primeiras reportagens do Estadão sobre o assunto mencionam encontros da dupla de pastores com o presidente da República.
Nesta quarta-feira, dia 13, o presidente Jair Bolsonaro chegou a ironizar um internauta que cobrou transparência sobre as agendas dos pastores no Planalto. “Presidente, o senhor pode me responder porque (sic) todos os assuntos espinhosos/polêmicos do seu mandato, você põe sigilo de 100 anos? Existe algo para esconder?”, perguntou um internauta. “Em 100 anos saberá”, respondeu Bolsonaro por meio de sua conta oficial no Twitter.
De acordo com a resposta do Planalto, Arilton Moura esteve no Planalto pela primeira vez em 16 de janeiro de 2019, no primeiro mês do governo, para um compromisso no GSI, chefiado pelo ministro Augusto Heleno. Já Gilmar Santos, que é o líder da Assembleia de Deus Cristo para Todos, esteve no local pela primeira vez em 21 de fevereiro, para uma reunião na Casa Civil – à época, a pasta era comandada por Onyx Lorenzoni, hoje pré-candidato do PL ao governo do Rio Grande do Sul. O último registro de ambos no Palácio foi em 16 de fevereiro deste ano, na Casa Civil, já sob o comando de Ciro Nogueira (Progressistas).
Mesmo sem qualquer vínculo com o Ministério da Educação ou outro órgão público, Arilton Moura e Gilmar Santos costumavam participar de encontros de autoridades do MEC com prefeitos de todo o Brasil – tanto na sede do ministério, em Brasília, quanto em cidades do interior do País. Com frequência, os prefeitos levados ao MEC pela dupla conseguiam a liberação de verbas com rapidez incomum – em um caso mostrado pelo Estadão, uma prefeitura maranhense conseguiu um empenho de R$ 200 mil apenas 16 dias após uma agenda com Milton Ribeiro e os pastores.