BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal cumpre na manhã desta sexta (20) mandados de busca e apreensão em endereços do cantor Sérgio Reis e do deputado Otoni de Paula (PSC-RJ).
As medidas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e solicitadas pela Procuradoria-geral da República.
Ao pedir as buscas contra Sérgio Reis, a PGR afirma que o cantor quis “afrontar e intimidar os poderes constituídos” ao ameaçar parar o país por 72 horas como forma de pressionar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a aceitar pedido de impeachment contra ministros do STF.
As falas do sertanejo foram feitas em uma reunião privada, vazada posteriormente por algum dos presentes.
A ação se dá em um novo inquérito aberto dessa vez por solicitação da PGR, comandada por Augusto Aras, e não tem relação com os casos em andamento na PF que tratam de ataques de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro às instituições.
Segundo nota divulgada pela polícia, que cumpre as decisões de Moraes, o objetivo das medidas é apurar o “eventual cometimento do crime de incitar a população, através das redes sociais, a praticar atos violentos e ameaçadores contra a Democracia, o Estado de Direito e suas Instituições, bem como contra os membros dos Poderes”.
O ministro do Supremo ainda determinou outras três coisas: os investigados estão proibidos de se aproximar no raio de um quilômetro da Praça dos Três Poderes, dos ministros e dos senadores, bloqueio imediato dos perfis de titularidade dos requeridos e bloqueio da chave Pix que estava angariando fundos para manifestações do dia 7 de setembro.
Ao todo são cumpridos mandados de busca e apreensão em 29 endereços.
Um dos mandados foi cumprido no gabinete do deputado Otoni de Paula na Câmara e outro em sua residência, no Rio de Janeiro.
Além dos dois alvos, a PF faz buscas em endereços em Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Ceará e Paraná.
O cantor Eduardo Araújo, o presidente da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), Antonio Galvan, e o caminhoneiro Marcos Gomes, conhecido como Zé Trovão, também estão no novo rol de investigados nesse caso aberto pela PGR e sofreram buscas.
Sérgio Reis entrou na mira do STF após defender em reunião fechada, gravada e divulgada posteriormente, o afastamento dos ministros da corte pelo Senado Federal.
No áudio, uma conversa privada com um amigo que veio a público no fim de semana, Reis disse que “se em 30 dias não tirarem os caras nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra. Pronto. É assim que vai ser. E a coisa tá séria”.
O sertanejo também falou de uma reunião que teve com o próprio presidente Jair Bolsonaro e com militares “do Exército, da Marinha e da Aeronáutica”, em que informou o que faria.
“Se em 30 dias não tirarem os caras nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra. Pronto. É assim que vai ser. E a coisa tá séria”, afirmou o cantor.
Após a repercussão do aúdio, em entrevista à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, a mulher de Reis, Ângela Bavini, disse que o cantor estava deprimido e passando mal, com uma crise de diabetes.
Entretanto, também após o áudio, no domingo (15), o cantor deu entrevista ao influenciador bolsonarista Oswaldo Eustáquio e chorou, mas voltou a fazer convocação aos atos de 7 de setembro.
O deputado bolsonarista, por sua vez, chegou a ser denunciado em 2020 por ataques e ofensas ao ministro Alexandre de Moraes.
O parlamentar publicou vídeos em suas redes sociais em que chamava o ministro de esgoto do STF, canalha e tirano.
Nesta semana, após a repercussão do caso envolvendo Sérgio Reis, Otoni de Paula utilizou a tribuna do Plenário da Câmara para reclamar da postura de ministros do STF.
REPERCUSSÕES
Nas redes sociais, políticos de lados diferentes se manifestaram. O petista José Guimarães (CE) defendeu a decisão de Moraes. “A incitação à prática de atos violentos e antidemocráticos é inconstitucional.
Não há liberdade de expressão para quem pratica ilegalidades. Uma coisa não combina com a outra. Investigação justa e punição devida já”, escreveu.
A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) lembrou que o pedido dessa vez foi da PGR e disse que “alguém resolveu cumprir seu papel institucional”.
Já os bolsonaristas reclamaram do ministro do STF.
“Os ataques do STF à democracia, querendo calar os opositores dos desmandos das Vossas Majestades, só vão piorar. A esquerda e a terceira via dependem disto. O ano eleitoral já começou”, postou Alê Silva (PSL-MG).
“Concentração de poder, violação de constituição e de direitos fundamentais, censura, prisões arbitrárias sem crime qual versão de “estado de direito” permite isso? Estamos muito distantes de um estado de direito e os que cometem essas violações sabem disso”, escreveu deputado federal Príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP).