BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, voltou a fazer críticas ao voto impresso nesta quinta-feira (29) e disse que o discurso de que “se eu perder, houve fraude, é um discurso de quem não aceita a democracia”.
Nos últimos dias, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem feito ameaças contra o processo democrático brasileiro e, sem apresentar nenhuma prova, afirmou que há fraude eleitoral no TSE.
Nesta noite, Bolsonaro promete fazer uma exposição para apresentar provas de que há “várias inconsistências” nas eleições e nas urnas eletrônicas. Ele diz que houve fraudes no segundo turno de 2014 e que seria eleito no primeiro turno em 2018, se as eleições fossem limpas.
“Vai ganhar eleições quem tem voto. Se não for dessa maneira, poderemos ter problema em 2022. E não quero ter problema”, disse aos apoiadores em frente ao Alvorada.
Sem citar o presidente, Barroso afirmou que não há fraudes no processo eleitoral brasileiro desde 1996, quando as urnas eletrônicas começaram a ser utilizadas.
“Em 2014, o candidato derrotado pediu a auditoria do sistema, foi feita a auditoria e o próprio partido do candidato foi convencido que não houve fraude”, lembrou, se referindo a Aécio Neves (PSDB), que perdeu as eleições daquele ano por uma diferença de cerca de 3,5 milhões de votos para Dilma Rousseff (PT).
Durante inauguração do TRE-AC (Tribunal Regional Eleitoral do Acre), Barroso também criticou a PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso, que tramita na Câmara dos Deputados. Para o presidente do TSE, a mudança, caso ocorra, “será para pior”.
Segundo ele, a impressão do voto resultará em fraudes, problemas na recontagem e colocará em risco a segurança do sistema e o sigilo do voto.
“O voto impresso não é mecanismo de auditoria do voto eletrônico pela singela razão de que o voto impresso é menos seguro do que o voto eletrônico. Você não cria um objeto de auditoria menos seguro do que o objeto que está sendo auditado”, disse.
A proposta está numa comissão especial da Câmara, onde quase foi derrotada na última reunião do primeiro semestre, mas uma manobra de governistas adiou a votação para 5 de agosto, depois do recesso parlamentar.
O relator da PEC, deputado Filipe Barros (PSL-PR) aposta em Ciro Nogueira à frente da Casa Civil para fazer o texto avançar no Congresso. Além disso, Barros promete reformular o parecer para tentar vencer resistências.
Mesmo que avance na comissão, para aprovar uma PEC são necessários ao menos 308 votos na Câmara de um total de 513 deputados e 49 no Senado de um total de 81 senadores, em votação em dois turnos. E, para valer para as eleições de 2022, a proposta teria de ser promulgada até o início de outubro.
Aliados do presidente culpam Barroso pelo cenário desfavorável e consideram que ele interferiu na tramitação da PEC. Nos últimos dias, o presidente do TSE se tornou alvo de críticas e xingamentos do chefe do Executivo. Durante conversa com apoiadores no início deste mês, Bolsonaro chegou a chamá-lo de “idiota” e “imbecil”.
No discurso desta quinta, Barroso argumentou que “uma causa que precise de ódio, de mentira, de desinformação, de agressividade, de grosseria, não pode ser uma causa boa”.
Em outro momento, ele defendeu a democracia e disse não ser dono da verdade, mas ressaltou que “a mentira deliberada tem dono e essa precisa ser adequadamente denunciada”.
A fala ocorre um dia depois de o STF (Supremo Tribunal Federal) publicar uma postagem em uma rede social para desmentir Bolsonaro. No texto, a corte reafirmou que não impediu o governo federal de agir no enfrentamento da Covid-19.
“O STF não proibiu o governo federal de agir na pandemia! Uma mentira contada mil vezes não vira verdade!”, afirmou no Twitter
Bolsonaro disse reiteradas vezes que foi impedido de agir contra a Covid-19 em razão de uma decisão do Supremo. Nesta manhã, ele rebateu a publicação e afirmou que o STF cometeu crime ao permitir que prefeitos e governadores tivessem autonomia para aplicar medidas restritivas contra a pandemia da Covid-19.