Estudos realizados pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) indicam que a covid-19 afeta testículos e reduz a qualidade dos espermatozoides e a quantidade de hormônios em homens. Pesquisadores indicam que a doença pode afetar a fertilidade masculina.
O primeiro estudo foi realizado pelo médico andrologista Jorge Hallak, coordenador do Grupo de Estudos em Saúde do Homem da USP. O especialista tem acompanhado, desde o início da pandemia, pacientes homens que tiveram covid-19.
Ele observou que os exames de fertilidade e hormonais desses pacientes permanecem alterados mesmo meses após se recuperarem da doença.
“Temos visto, cada vez mais, alterações prolongadas na qualidade do sêmen e dos hormônios de pacientes que tiveram covid-19, mesmo naqueles que apresentaram quadro leve ou assintomático”, disse Jorge Hallak para agência Fapesp.
Segundo Hallak, pesquisadores do departamento de Patologia da USP constataram que o coronavírus também infecta os testículos e isso prejudica a produção de espermatozoides e hormônios.
“É muito preocupante como o novo coronavírus afeta os testículos, mesmo nos casos assintomáticos ou pouco sintomáticos da doença. Entre todos os agentes prejudiciais aos testículos que estudei até hoje, o SARS-CoV-2 [coronavírus] parece ser muito atuante”, afirma Hallak.
Invasão de células testiculares
Outro estudo recém-publicado pelo mesmo grupo de pesquisadores e também apoiado pela Fapesp, indica que o coronavírus invade todos os tipos de células testiculares, causando lesões que podem prejudicar a função hormonal e a fertilidade masculina.
Por meio de um projeto coordenado pelos professores Paulo Saldiva e Marisa Dolhnikoff, foram empregadas técnicas de autópsia minimamente invasivas para extrair amostras de tecidos testiculares de 11 homens, com idade entre 32 e 88 anos, que morreram em decorrência da doença.
Os resultados das análises indicaram uma série de lesões testiculares que podem ser atribuídas a alterações inflamatórias que diminuem a produção de espermatozoides (espermatogênese) e hormonal.
“O que nos chamou a atenção de imediato nesses pacientes que morreram em decorrência da covid-19 foi a diminuição drástica da espermatogênese. Mesmo os mais jovens, em idade fértil, praticamente não tinham espermatozoides”, conta Amaro Nunes Duarte Neto, coordenador do estudo.
Segundo o pesquisador, algumas das prováveis causas da diminuição da espermatogênese nesses pacientes foram lesões causadas pelo vírus nos vasos do parênquima testicular, com a presença de trombos, que levaram à hipóxia ausência de oxigenação nos tecidos , além de fibroses que obstruem os túbulos seminíferos, onde os espermatozoides são produzidos.
Alguns dos sintomas da deficiência de testosterona (hipogonadismo) são perda muscular, cansaço, irritabilidade, perda de memória e ganho de peso, que podem ser confundidos como efeitos de longo prazo da covid-19.
*com informações agência Fapesp.