Antes dele, conforme apontam registros históricos, houve a construção de uma capela no século 19, no bairro das Palmeiras. Depois, uma matriz na Praça XV de Novembro, que acabou demolida. Já no século 20 foi construído o prédio atual, na rua Florêncio de Abreu, em estilo neogótico.
A historiadora Nainôra Maria Barbosa de Freitas afirma que a Catedral é uma das mais expressivas instituições de Ribeirão, pois “representa a alma, o centro e o coração da cidade“.
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“No início do século 20, Ribeirão Preto era a maior produtora de café do mundo. Uma cidade pujante que não tinha uma diocese. Já havia até uma escola protestante, mas ainda não tinha um bispo e o papel de um chefe religioso vai muito além de apenas evangelizar as pessoas. Como pastor, ele é também alguém que é o mediador em diferentes momentos. Foi o caso de Dom Alberto José Gonçalves, primeiro bispo que ficou na diocese por mais de 36 anos”, destaca.
Entre os fatos marcantes que envolvem a catedral, Nainôra conta que o primeiro bispo de Ribeirão contribuiu com dinheiro do próprio bolso para a construção do templo na Florêncio de Abreu.
“Na minha opinião, Dom Alberto foi, sem dúvida, um dos mais significativos. Primeiro, porque só ele pôs mais de 200 contos de réis do bolso dele para a construção da catedral. Quando chegou a Ribeirão, em 28 de fevereiro de 1909, estavam apenas as paredes levantadas e ele se empenhou muito para a construção. Ele quem contrata artistas como Benedito Calixto para fazer as pinturas e a decoração da igreja, e o pintor Nicolau Biagini para os desenhos da cúpula”, relata.
Conforme Nainôra, as pinturas de Nicolau Biagini agradaram tanto que o artista recebeu a mais pelo trabalho.
Já em relação a atuação de Benedito Calixto, uma carta revelou a preocupação do bispo Dom Alberto com a pintura das seis telas que representam a vida de Sebastião.
“Se eu morrer, a cúria honra o pagamento e todo o nosso contrato. Mas, e se você morrer, como é que nós ficamos?, dizia a carta. Infelizmente eu não encontrei a resposta de Benedito Calixto a Dom Alberto. Contudo, o artista cumpriu aquilo que seria o contrato”.
Igreja e política
A historiadora Nainôra de Freitas também lembra de outro fato marcante da Catedral de São Sebastião, que se passou durante a ditadura militar. Segundo conta, Dom Frei Felício abrigou os estudantes em uma das passeatas contrárias ao regime da época.
“Esse é um dos principais acontecimentos que eu entendo que marcou a presença da catedral na história de Ribeirão. Estudar a história da igreja envolve política, economia, cultura, práticas religiosas e mentalidades. As pessoas não param para pensar que política movimenta milhões no mundo todos os dias por meio da arte, da cultura, de várias outras coisas, sem contar o papel político no qual estão envolvidos os principais líderes”, ressalta.
Padroeiro
O padre Igor Fernando Madalosso de Lima, da Catedral de São Sebastião em Ribeirão Preto, diz que o santo se tornou padroeiro da cidade diante do temor dos primeiros habitantes do município em perder as conquistas geradas pelo café.
“Há de se considerar que Ribeirão era uma grande potência agrícola, sobretudo no tempo do café. Por isso, desde 1856, com a fundação da cidade, os primeiros habitantes tinham uma devoção muito forte a São Sebastião, uma vez que ele é o padroeiro contra a peste, a guerra e a fome. Então, no contexto agrícola do período do café, o receio de pestes que pudessem acabar com toda essa grande potência que estas terras estavam se tornando fez com que São Sebastião fosse o padroeiro”, explica.
O padre conta que Sebastião é um mártir da Igreja Católica. Viveu entre os anos de 256 e 288. Nascido na França, ainda muito jovem sua família se mudou para Milão, na Itália, onde foi um soldado romano. Neste tempo, os cristão não podiam professar publicamente a sua fé. Sebastião era um cristão às escondidas, pois fazia parte da Guarda romana. Foi condenado à morte por ser cristão, quando, amarrado a um tronco, acabou alvo de flechas de arqueiros. Uma mulher, que mais tarde passaria a ser Santa Irene, ajuda Sebastião e ele consegue sair vivo. Condenado à morte pela segunda vez, seu corpo sofre açoites e é lançado no esgoto de Roma. Outra mulher, que depois se tornaria Santa Luciana, encontra o corpo de Sebastião e o sepulta com a dignidade de cristão.
“Quando as relíquias do corpo eram levadas até a nova igreja, que depois originou a Basílica de São Sebastião, Roma estava passando por uma peste, que cessou naquele momento”, diz o padre.
Fiéis
O empresário Hugo de Carvalho Rovito, de 37 anos, morador de Serrana, a 20 quilômetros de Ribeirão Preto, diz que visita a Catedral de São Sebastião sempre que é possível. “Aqui é o ápice de todas as igrejas. É gostoso e diferente estar na catedral. É o meu momento com Deus para pedir as bençãos”, revela.
A motorista de aplicativo Tamara Priscila Clemêncio, 36, levou o filho Adriano, 4, para conhecer a igreja na última quarta-feira (15). “A gente passa em frente e ele fala que parece um castelo, um palácio. Hoje, tive a oportunidade de entrar e mostrar como é por dentro. Ele está encantado. Tudo aqui é muito lindo e chama a atenção”, diz.
Curiosidades
– Além de bispos, a Catedral de São Sebastião abriga o túmulo de dois cidadãos comuns: Manoel da Cunha Diniz Junqueira e sua esposa Emerenciana Constança Junqueira, considerados beneméritos do templo.
– A porta principal da Catedral de São Sebastião, conhecida como “porta de bronze”, não é toda em bronze. O alto custo da liga metálica fez com que apenas os escudos dos bispos fossem confeccionados em bronze. O restante da porta é de ferro.
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