No fim dos anos 90 e começo dos anos 2000, li Mário Prata compulsivamente: Diário de um magro; Minhas tudo; Filho é bom, mas dura muito; Minhas mulheres e meus homens, e por aí vai. Não me lembro em qual de seus livros está uma história, que nunca mais esqueci, em que ele conta ter realizado um dos últimos desejos de uma amiga, que estava para morrer, levando-a para passear num carro conversível na avenida Paulista. Na mesma época, meu sogro também estava morrendo de câncer em um hospital de São José do Rio Preto e eu levei sorvete de coco para ele.
O Mário – olha que íntima – é bem-humorado e muito engraçado, mas também é comovente. Cômico, mas sensível, meu modelo de cronista, meu “muso” inspirador.
E tem também o filho, Antonio, outro craque. Há uns bons anos escrevi um e-mail pra ele comentando sobre sua coluna na Folha de São Paulo. Disse que me sentia quase a sua versão feminina, não como escritora, claro, mas como piadista. Ele não respondeu, óbvio. E não é que, um dia desses, eu o conheci pessoalmente? Tive o prazer de ouvi-lo em uma palestra na Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto. Ele é engraçado e espirituoso, como o pai. E simpático, pois gentilmente fez uma dedicatória autografada em seus livros, Nu, de botas e Por quem as panelas batem, com o qual, inclusive, ganhou o Prêmio Jabuti no ano passado.
Em sua palestra, falou sobre a importância da leitura e sobre a riqueza da escrita e de como produz seus textos. Discutiu o papel do humor, com muito bom humor, tirando risos da plateia. Revelou que se descobriu escritor quando, num momento de tristeza, expressou seus sentimentos num texto que, para sua surpresa, fez sua mãe e irmã chorarem. Tê-lo assistido me incentivou a escrever mais, escrever sempre, escrever para suportar e escrever para tocar as pessoas, porque eu também gosto quando o que eu escrevo provoca emoções.
Saí de lá pensando se, quando éramos crianças, já não nos cruzamos no Gigetto, tradicional restaurante paulistano, frequentado por intelectuais, artistas e celebridades. Soube, pelo último livro de seu pai, Pelo buraco da fechadura eu vi um baile de debutantes, que a família Prata costumava andar por lá nos anos 70, 80. A minha também. Conforme a Teoria dos Seis Graus de Separação, criada por sei lá quem, o número máximo de conhecidos entre duas pessoas é 6. Ou seja, se meu pai naquela época era amigo do jogador de futebol Ademir da Guia (com quem íamos ao Gigetto), que era amigo do Pelé (que era conterrâneo do Mário), faltaria, então, pouca gente pra eu ter estado perto dos Pratas.
Mário Prata, na entrevista ao Bial (diga-se de passagem, seu genro), disse que num desses almoços de família se deu conta de que seus filhos não o leem direito. Duvido. Pelo menos, esse último livro eles leram, já que Maria escreveu a orelha, Antonio, o prefácio e Pedro é autor da arte que ilustra a capa. Bom para eles, pois a leitura é muito divertida e comovente, além de instruir. A história de como ele resolveu o perrengue em que os filhos presenciaram uma cena de sexo oral, praticamente, no meio da rua, em plena luz do dia, é hilária, e também um bom modelo de educação sexual infantil. E a forma como ele lidou com a mãe com Alzheimer, sendo ouvinte de suas histórias do passado e incentivando o seu hábito de escrever até o fim é de encher os olhos de lágrimas e uma ideia muito bacana para quem está passando pela mesma situação. Pura ternura.
Adoraria um almoço de domingo na casa dos Pratas com Mário, Antonio, Maria e até o Bial. Tipo aquele quadro do Fantástico de uns anos atrás, em que pegavam uma pessoa na rua, diziam que eram da produção do programa e a levavam num churrascão em Xerém, na casa do Zeca Pagodinho, o que, aliás, seria melhor ainda.
Mário disse ter sido uma criança curiosa, como todas deveriam ser. Fazia muitas perguntas aos adultos, o tempo todo. Eu também fui assim. Uma vez, estávamos meu pai, meu tio e eu vendo TV na casa do meu avô e passou uma propaganda de um motel, mostrando as instalações: cama redonda, neon, espelho no teto, banheira de hidromassagem. Eu devia ter uns 9, 10 anos.
Perguntei paro o meu pai porque nunca tínhamos nos hospedado num lugar tão legal como aquele e qual era a diferença entre hotel e motel. Meu pai deu uma desconversada, meu avô riu alto e meu tio me explicou que os motéis ficavam na beira das estradas para hospedar os caminhoneiros, que eram pessoas que trabalhavam muito e precisavam descansar.
No almoço de domingo na casa dos Pratas, eu poderia contar esse episódio para eles. E antes de nos sentarmos à mesa, as crianças iriam pedir para o vovô Bebé contar histórias como aquela em que, ainda menino, não dormiu à noite de tanta ansiedade ao saber que subiria numa escada rolante.
Conversaríamos sobre o que faz as crianças de hoje perderem o sono e, enquanto não servissem a sobremesa, ele pediria ao Antonio que parasse de ser comentarista político, dizendo: “crônica, Antonio, crônica”. Maria iria interromper a advertência do pai falando sobre ícones, tendências, looks, trends e outras invenções de moda, e Bial lembraria as crianças de usarem filtro solar. E tomaríamos cerveja, moderadamente, para não corrermos o risco de dançar Macarena em cima da mesa. E eu estaria ali tietando, aprendendo, rindo muito, chorando emocionada e colecionando inspirações (por Fabiana Guerrelhas – Terapeuta Analítico Comportamental).
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