Leitor amigo, paciente leitora, permitam-me uma pergunta sussurrada ao pé da orelha? Vocês já contaram quantas vezes atravessaram o Rubicão? Não, não! Não se trata de Rubião, personagem do romance Quincas Borba, não! Contextualizarei para que eu me explique melhor.
Recentemente, em consulta com o dr. Ricardo Demarco, otorrino a quem recorri para uma cirurgia nasal, ele, que sabe que gosto de História, depois dos trâmites protocolares necessários, me recebeu para marcar a cirurgia e me fez a pergunta que acabo de fazer a vocês:
– Professor, então, vamos atravessar o Rubicão?
Mais rápido do que o Rolando Lero – vocês se lembram do personagem da Escolinha do Professor Raimundo, pois não? -, eu disse:
– Captei vossa mensagem, querido mestre! Estou de malas prontas para o Rubicão atravessar!
Rimos, ele foi muito gentil, como sempre, e ficamos a falar da proeza bélica de César, que, em 40 antes de Cristo, vindo da Gália, resolveu atravessar o rio Rubicão, que, na época, fazia divisa entre o Império Romano e o resto do mundo, numa afronta ao imperador Pompeu. Nenhum general poderia, com seu exército em armas, atravessar o Rubicão. Isso era como uma decisão sem volta, uma declaração de guerra ao imperador. Realmente, César atravessou o rio Rubicão, entrou em terras romanas e botou Pompeu para correr.
E a expressão “atravessar o Rubicão” ficou como metáfora de, tomada uma de decisão, não dá para voltar atrás, não dá para dizer nem mas nem meio mas. É dali para a frente, em frente: então, enfrente, pois!
E volto à pergunta inicial, leitores! Já atravessamos muitas vezes o Rubicão, certo? Eu, vocês, todos nós, várias vezes na vida tivemos que tomar decisões sem volta. E, enquanto eu vou terminando esta crônica, pense, leitores, quais foram estes momentos. Foi na encruzilhada da escolha profissional? Vocês atravessaram o Rubicão ao assumir ou não seus amores, ou foram dores? Foi a dúvida em comprar um imóvel aqui, ou aquele lá, melhor que este, mas sem as vantagens do outro? Isso, comece a enumerar suas travessias dos rubicões da vida e verá que, em muitos momentos, fomos mais corajosos que César e seu imbatível exército.
Ah, a cirurgia? Foi um sucesso! Depois de atravessar a sala de cirurgia, de pisar em terras da recuperação, vi vir vindo no vento o cheiro da nova estação, como cantou Elis Regina, na belíssima composição do Belchior. E o ar que tenho ventado, com nariz desobstruído, tem sido uma bênção. Obrigado, dr. Ricardo pelo vento a favor!