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CotidianoCongelar os preços é uma má ideia

Congelar os preços é uma má ideia

A Argentina acabou de fazer isso e nós brasileiros já passamos por essa experiência nada agradável na década de 1980

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Eliseu Hernandez D
Eliseu Hernandez D’Oliveira, assessor de investimento da Blue3 (Foto: Weber Sian / ACidade ON)

Sempre quando os preços começam a subir rápido e forte como atualmente, começa a aparecer a conversa de congelar preços. A Argentina acabou de fazer isso e nós brasileiros já passamos por essa experiência nada agradável na década de 1980. Apesar do apelo, os
potenciais efeitos adversos são grandes. Medidas, bem-intencionadas na maioria das vezes, podem ter consequências indesejadas. 

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É muito difícil regular os preços. Vários lugares do mundo e vários momentos da história tentaram o controle de preços. Todos falharam. Inclusive uma tese alternativa para a queda do Império Romano advoga que Roma entrou em derrocada justamente quando tentou
fazer o controle de preços. 

Imagine o mais simples. Controlar os preços aos consumidores. Aquele preço de prateleira. 

Ao congelar esses, mas os preços no atacado subirem, as empresas podem ser obrigadas a fornecer abaixo do custo. Logo, terão prejuízo. Se não falirem, com certeza reduzirão investimentos. Também podemos ter um excesso de demanda, crise de abastecimento,
longas filas e mercado paralelo. 

Por outro lado, preços mais baixos no atacado podem não ser repassados e levar a enormes lucros de monopólio e concentração de renda. Também pode gerar excesso de produção de itens que não serão usados ou consumidos. Isso causaria desperdício e alocação ineficiente de capital. 

Alguém pode pensar que a resposta seria então congelar também o preço no atacado. Porém, pense na impossibilidade de determinar o preço justo de cada insumo de tudo que é produzido em uma economia complexa e interconectada. Algo impraticável até mesmo por supercomputadores. Além de que muito dos preços são determinados globalmente (commodities por exemplo). 

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O congelamento de preços também faz com que os agentes econômicos percam a noção de preço relativo e de custo-oportunidade. Nós sabemos o que está caro ou barato comparando preços e qualidade com produtos e serviços similares. Mas se os preços estão
congelados, não sabemos se aquele preço a ser pago reflete o valor que ele entrega. 

Como também, provavelmente resultará em convergência de qualidade e reduzirá
enormemente os incentivos das empresas para competir por negócios. Como uma empresa que oferece melhor valor sinaliza isso para os consumidores? Ocorre o desencorajamento de entrada de novas empresas, o que prejudica a concorrência de longo prazo. 

Tudo isso sem falar na incerteza jurídica e política que uma medida de controle de preço traz para a sociedade. Mesmo depois que o congelamento de preços for suspenso, a ameaça percebida pode prejudicar novos investimentos. 

Os preços significam alguma coisa, mesmo que não os compreendamos totalmente ou mesmo que não gostemos deles no momento. São a somatória de uma enorme quantidade de informações sobre as condições de produção e consumo. Tentar consertar esses preços travaria a economia.

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Ricardo Canaveze
Ricardo Canaveze
É repórter no portal ACidade ON Ribeirão Preto. Formado em Jornalismo pelo UNIFAE em 2003, tem uma experiência em editorias como Cotidiano e Polícia. Já atuou em emissoras de rádio no início da carreira na comunicação, a partir da década de 1990, e em jornais impressos como o A Cidade. Está no Grupo EP desde 2007.
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