Fim de ano, fim de cursos, e está aberta a temporada de discursos de formaturas. Não só os formandos que discursarão pela turma, mas os paraninfos, que discursarão para os alunos e tem mais os coordenadores de cursos. Sim, todos eles se colocam na azáfama de preparar suas apresentações.
Sentados à frente de seus computadores, capricham no que dizer PARA seus ouvintes. E está aí um problema. Falarão PARA, não falarão COM seus ouvintes, uma regra básica no mundo da comunicação verbal.
E por que erram neste item fundamental? Na ânsia de se saírem bem e de não esquecerem uma vírgula sequer, leem suas apresentações”. Pelo amor dos aplausos finais, galera, parem de ler discursos escritos. Discursos escritos são para serem lidos, não ouvidos. Lendo suas apresentações, vocês perdem o contato visual com o público, perdem a graça e a leveza de olhos nos olhos.
Outro erro que vejo constantemente: evitem dar um Google para pinçar aquela frase genial que Fulano ou Sicrano falou. Evitem enumerar citações e frases de efeito. Evitem construir um texto que soará formal, plastificado, já que elaborado demais. E, pelo amor de suas comunicações, evitem discursar o que escreveram. Pelo contrário, assumam o tom de quem “conversa” com sua plateia!
Ler um texto, que era para ser o coroamento de uma caminhada, de coisas vividas, de experiências trocadas, soará formal, falso, engessado e sem comunicação. Textos lidos perdem o que a plateia adoraria ver nos formandos e paraninfos que sobem à tribuna: es-pon-ta-nei-da-de!
Querem dois exemplos do que não se deve fazer? Eu poderia dar uns dez incluindo a leitura da autobiografia pelo próprio Jorge Paulo Lemann, num TEDx no Rio, mas fiquemos em dois outros exemplos. Acessem, no Youtube, “Steve Jobs Stanford”. O genial empreendedor fez tudo certo quanto ao que “dizer”: escolheu três histórias pessoais, muito impactantes, para a formatura dos alunos da Universidade de Stanford, em 2005. Só errou no “como dizer”, ou seja, leu sua apresentação. Ler uma história pessoal, numa manhã ensolarada de sábado na quente Califórnia, oh man, don´t do that!
Um segundo exemplo de um peso-pesado? Acessem “Bill and Melinda Stanford” no Youtube. Analisem como o marido de Melinda lê o tempo todo e ela, aos 10´40″ do vídeo, apenas se vale do que está escrito, mas, mais, muito mais, olha para os formandos, não para o papel, dona de sua fala, encantando a plateia.
Bill e Steve, dois pesos-pesados, que mudaram a minha e a vida de vocês, leitores, poderiam ter feito apenas um roteiro do que dizer aos formandos e, a partir de tópicos anotados, no velho e bom papel, ter encantado seus ouvintes.
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Puntel não usa chapéu, mas o tira para Melinda Gates, muito mais que pro seu maridão, um tal de Bill.