Entramos essa semana com cerca de 460 mil mortes e, segundo site do Ministério da Saúde, conseguimos aplicar a primeira dose das vacinas disponíveis para a COVID-19 em 42 milhões de brasileiros (22%), e a segunda dose em 21 milhões (10%). Digamos que a vacinação chega, para a população brasileira, montada em uma motocicleta, mas ela poderia ter chegado até nós por um trem bala.
O programa nacional de imunização do Brasil (PNI) foi criado em 1973 e conseguiu implantar o primeiro calendário de imunização em 1977, implementando as vacinas da BCG, sarampo, pólio e tríplice bacteriana. De lá para cá, preciso citar aos nobres leitores, ao menos dois grandes resultados do PNI:
1- a redução da mortalidade infantil em 80% (se você está vivo hoje, tem grande chance de ser por causa do programa de vacinação que completou 50 anos)
2- a estruturação de toda a logística, distribuição e administração de vacinas em todos os rincões brasileiros. Ou seja, se você mora na Cabeça do Cachorro, uma região de dificílimo acesso do estado do Amazonas, mesmo assim, você será vacinado na data certa do calendário de imunização, estabelecido pelo PNI
Nenhum país do mundo possui essa capacidade estruturada de vacinação para mais de 200 milhões de habitantes. Vou repetir, NÃO existe país no mundo que tem a nossa capacidade de vacinação. Já foi comprovado pelas campanhas de vacinações anteriores, que o PNI consegue vacinar cerca de 2 milhões de brasileiros por dia. Mas então, por que não estamos vacinando nessa velocidade contra a COVID-19 no Brasil?
A resposta é revoltante, porém muito fácil. PORQUE NÃO TEMOS VACINAS. Nas negociações para compra de vacinas, preferiu-se andar de moto. Segundo os documentos apresentados na CPI, tanto pelo presidente da Pfizer, quanto pelo presidente do Butantã, em dezembro de 2020, poderíamos ter tido, à nossa disposição, mais de 70 milhões de dose, chegando na data de hoje com mais de 200 milhões de doses de vacinas contra a COVID-19, considerando todas as vacinas ofertadas e disponíveis para o Brasil.
Então vamos lá, para uma conta de padaria. Se o PNI tem a capacidade de vacinar 2 milhões de brasileiros por dia e, se começássemos em dezembro de 2020, aliás seríamos o primeiro país a iniciar a vacinação do mundo, levaríamos cerca de 100 dias, em torno 3 meses e 10 dias, para administrar a primeira dose em quase toda a população brasileira. Em abril de 2021, teríamos a maior cobertura vacinal do mundo. Em junho de 2021, seríamos o país com a maior taxa de vacinação completa. Mas, infelizmente, para o nosso azar, preferiu-se andar de moto…
Todas as bulas das vacinas disponíveis no mundo mostram que elas previnem de 70% a 90% de mortes pela COVID-19. Isso não quer dizer que você não possa ficar doente e desenvolver uma forma branda da doença. E isso está acontecendo com a COVID-19, e já acontecia com a gripe, tradicionalmente. Todo os anos desde 1999 (há 22 anos) nos vacinamos contra a gripe, e mesmo assim, muitos ficam doentes. Mas, a diferença é que não temos uma pandemia de mortes e/ou necessitados de UTI. Capitou? A vacina contra H1N1 te previne da morte e de ir parar na UTI, pronto, desenhei.
Agora pode recortar e colar essa resposta aí de cima lá para a “Tia véia do zap”, quando ela transmitir aquela mensagem mentirosa, mais carinhosamente chamada de “fake News”, contra as vacinas de COVID-19.
Fake News é a estratégia que o governo tem para se manter no poder. Aliás, ele foi eleito assim. A incompetência em lidar com a pandemia, associada com a turma da terra plana, a torre de piroca (pior que mamadeira), fez com que perdêssemos o bonde da vacinação. Daí, como a política no Brasil é a política do “eu nego”, a estratégia foi questionar a eficiência da vacina, e essa negação está quase se tornando uma seita, pondo em risco o brilhante programa que conquistamos ao longo de 50 anos.
Oxalá me livre disso, e vamos para o combate! Dois trabalhos importantes foram publicados, mostrando a eficiência das vacinas. Um deles, brasileiro, mostrou que, após já a primeira dose em Manaus, a Coronavac apresentou uma eficiência de 50% na prevenção ao óbito. Com as duas doses, essa efetividade aumenta, como as demais vacinas, e a mortalidade cai ainda mais, e o melhor, é eficiente contra as três principais variantes que circulam no Brasil (B.1.1.7, P.1 e P.1.352). Vamos matar a cobra e mostrar o bastão (se não fica fálico para nossos amigos negacionistas), apresentando aos nobres leitores a chamada do artigo pela própria imprensa oficial do governo. Será que foi um hacker de novo? Santo Deus! (clique aqui para acessar o artigo)
Uma das mensagens que circula é que a vacina não funciona para idosos acima de 85 anos. Outra mentira, funciona sim, e a efetividade dela é até maior que a vacina da H1N1. Dá um Google aí….
Alguém aí já viu epidemia de idosos vacinados contra H1N1, acima de 85 anos, morrendo de gripe e lotando UTIs ao ponto de “lockdown tabajara”? Não! Isso porque existe cobertura vacinal, e por isso precisamos lutar pela mesma cobertura vacinal para a COVID-19.
Enquanto isso, a falta de vacina no Brasil matou mais de 200 mil brasileiros. Isso mesmo, se tivéssemos a quantidade de vacinas que nos foi prometida, muitos que amamos poderiam estar hoje ao nosso lado. Estamos falando da prevenção de quase 50% das mortes que já aconteceram no país, se a vacinação tivesse começado em desembro de 2020. A falta de vacina é sim assassinato.
“Mas Vital comprou a moto e passou a se sentir total. Vital e sua moto, mas que união feliz. Corria e viajava era sensacional. A vida em duas rodas era tudo que ele sempre quis. Vital passou a se sentir total”, e segundo a calculadora que pode ser encontrada aqui a previsão de vacinação, depois de Vital e sua moto se sentir total, vai para bem distante, 11 de novembro de 2022. Tá bom para você?
Vital e sua moto se sentiu total, e você ainda está andando de ônibus sem vacina.
Salve-se quem puder, porque a pandemia está botando as caras de novo por aí….