Gente, a coisa tá tão feia que uma conhecida de grupo, nas redes, ao enviar um zape-zape, justificou-se por que não se despedia com os costumeiros e protocolares beijos e abraços, fugindo da liturgia sadia dos cumprimentos. Vai que o beijo ou abraço atravessa a tela do celular, ela escreveu, te pego em cheio, afago ternuras de solidariedade por este momento tão tétrico e você se contamina?
Em vez de beijos e abraços, portanto, mandou um olhar. Isso mesmo! Em vez de toques e retoques, pega lá um olhar meu, ela escreveu. Ainda respondi, com uma dúvida machadiana: “Fulana, mas o olhar é de ressaca, ou oblíquo e dissimulado?”
Ela, que é professora de literatura, entendeu a piada interna. E respondeu, em seguida, que o olhar de Capitu não era de ressaca, muito menos oblíquo ou dissimulado. Era um olhar de mulher libertária! Gostei disso!
O olhar que minha amiga me deitou não era também um olhar de cigana oblíqua e dissimulada. Sabe qual era, olhorudos leitores? Segundo ela, um olhar de soslaio. E antes que vocês saiam dando um google para saber que olhar é este, ela mesma completou:
Ultimamente, nem abraço, nem toco ninguém. Só olho de soslaio, tipo olhar não olhando, olhando para todos com o rabo de olho, sem encarar ninguém de frente. Vai que a pessoa para quem olho me espirra uma piscadela, invadindo as íris e pupilas do meu olhar?
Está certo minha amiga. Olhemos sem olhar, olhando de soslaio, tipo meio que de lado, à socapa. Agora, sim, leitores, corram no google e confiram o que – diabos! – quer dizer olhar à socapa?
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Esta crônica foi escrita e publicada neste intrépido A CidadeOn há um ano. E, como vimos, está tudo como dantes no quartel em Abrantes, ou seja, está tudo igual. Só o número de mortos que aumenta.