- Publicidade -
CotidianoColunistas Ribeirão PretoSobre o legado deixado pela diva Rita Lee

Sobre o legado deixado pela diva Rita Lee

Daqui do Brasil, no ano passado, já tinham ido a Elza Soares e a Gal, amigas da Rita, inclusive

- Publicidade -

 

O céu está cheio de divas. Só no último bonde, num intervalo de duas semanas, foram pra lá a Tina Turner e a Rita Lee. Daqui do Brasil, no ano passado, já tinham ido a Elza Soares e a Gal, amigas da Rita, inclusive. Imagine essa mulherada se reencontrando num pocket show celestial? Nada mal.

- Publicidade -

Pensando que diva é sinônimo de deusa ou divindade, se chegaram ao céu é porque, na verdade, elas somente voltaram ao seu local de origem.

Há muitas cantoras maravilhosas nessa vida, mas conquistar o título de diva é uma outra história. Diva é conhecida no mundo todo e seu talento é unanimidade, independentemente do estilo de música que canta. Pode ser rock, samba, pop ou ópera. Se o trabalho vier na voz de uma diva, a gente reconhece o título e pronto.

Na época em que assistíamos aos shows em DVD, um dos meus preferidos era “Divas em Las Vegas”, um espetáculo de performance das lendárias Cher, Shakira e outras celebridades.

Divas geralmente têm vidas atribuladas e almas intensas. E são polêmicas.

Eu vi a Rita Lee ao vivo em 1995, na abertura dos Rolling Stones, no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Chovia horrores, ela levava choques vindos dos equipamentos encharcados, o que não a impediu de fazer sua conturbada apresentação vestida com o manto de Nossa Senhora. Segundo consta, ela estava fazendo uma homenagem à padroeira do Brasil, quando rezou uma Ave Maria antes de cantar “Todas As Mulheres do Mundo”. A Igreja Católica, porém, não gostou muito do feito e Rita foi excomungada. Polêmico mesmo.

A morte da Rita Lee me deixou triste e pensativa. Uma vez, uma amiga falou mal dela e eu fiquei ofendida. Disse que ela era figura frequente no restaurante em que trabalhava em Miami, nos idos de 1990, e que tratavaa todos muito mal. Foi como se ela tivesse falado algum podre de alguém da minha família.

- Publicidade -

Quando li suas biografias, entendi esse seu jeito de ser. Ela era psicologicamente atormentada, sofreu um estupro na infância, usou muita droga pesada, sofria de terríveis crises de pânico, tinha diagnóstico psiquiátrico e uma personalidade complicada, assim como grande parte das pessoas geniais. E gênios, às vezes, não são bacanas.

Suas músicas compõem a playlist da minha vida, desde criança. Há várias que representam exatamente cada fase: romance, amor, sexo, paixão, ousadia, fantasia, rock, cinema, arte, revolta, transgressão.

Algumas letras só fizeram sentido ao longo do tempo. Até hoje me surpreendo com alguns significados relacionados a viagens psicodélicas, fatos políticos e intimidades de sua vida amorosa. Há canções que são verdadeiras lições de vida sobre temas muito relevantes, como: feminismo, relacionamento, enfrentamento, respeito, coragem, loucura.

Na semana de sua morte, me impressionei com os relatos de pessoas próximas a ela. Família e amigos revelaram um carinho enorme. Os depoimentos dos filhos e de Roberto de Carvalho, seu companheiro por quase 50 anos, me emocionaram. A mídia republicou um trecho de uma matéria de 2020, veiculada pelo jornal O Estado de S. Paulo, em que os dois se entrevistaram. Rita perguntou: “Como você me aguenta há 44 anos? Sou uma mulher esquisita, ex-presidiária, ex-AA (Alcoólicos Anónimos), ex-NA (Narcóticos Anônimos), não sei cozinhar, sou cinco anos mais velha, sem peito, sem rabo e fumadora”.A resposta generosa de Roberto singular demonstra o forte elo entre os dois: “Sou teleguiado pela paixonite há 44 anos, espero que tenhamos pelo menos mais 44 pela frente. Só consigo visualizar a antítese do que está nesta confissão. Quando você se declara esquisita, vejo original e genial. Ex-presidiária por injustiça, vítima da repressão. Não precisa cozinhar, eu cozinho pra você. Os peitos amamentaram nossos três filhos. Cinco anos mais velha, não, mais antiga, e você sabe o quanto eu adoro antiguidades. E quanto aos AA e NA, well, shithappenstoeveryone (merda acontece com todo mundo)”.

Que amor imenso!

A imortalidade das divas faz com que elas deixem algum legado. Com a rainha do rock (que gostava mais de ser chamada de padroeira da liberdade), aprendi que: “não adianta chamar quando alguém está perdido, procurando se encontrar”; “sexo frágil não foge à luta”; “nem tudo o que eu faço existe um porquê”; “minha saúde não é de ferro, mas meus nervos são de aço”; quando me sinto um pouco rejeitada me dá um nó na garganta”; “eu juro que é melhor não ser um normal”; “eu sou má companhia pra quem não tiver um coração que vive apaixonado”; “que não quero luxo nem lixo e que se Deus quiser, um dia eu morro bem velha”.

Rita Lee, a diva doidivana, ovelha negra assumida, realmente foi mais macho que muito homem e, mesmo não estando mais viva e cheia de graça, vai continuar fazendo um monte de gente feliz.
 

- Publicidade -
Mídias Digitais
Mídias Digitaishttps://www.acidadeon.com/
A nossa equipe de mídias digitais leva aos usuários uma gama de perspectivas, experiências e habilidades únicas para criar conteúdo impactante., com criatividade, empatia e um compromisso com a ética e credibilidade.
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
Notícias Relacionadas
- Publicidade -