BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Depois de uma semana que definiu como “bastante complicada”, o presidente Jair Bolsonaro tem nos próximos dias a missão de contornar queixas do centrão enquanto ganha tempo para buscar soluções e não ceder de imediato à crescente pressão do bloco, que hoje lhe garante alguma estabilidade no Congresso.
A insatisfação da cúpula das siglas com o governo não se esgota no desejo de ver Ernesto Araújo fora do comando do Ministério das Relações Exteriores.
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Dirigentes desses partidos avaliam, sob reserva, que os ministros de Bolsonaro, até mesmo aqueles oriundos do Poder Legislativo, estão distantes do dia a dia da Câmara e do Senado.
Parlamentares já pediram a Bolsonaro que cobre de seus auxiliares mais atenção às demandas das bancadas e que atenda os congressistas desde questões banais, mas que não são facilmente contempladas pelos ministros, como a realização de audiências, até a liberação de verbas e, eventualmente, indicação a cargos.
As reclamações de desamparo atingem até mesmo integrantes de partidos como DEM e PSD, que têm nomes de seus quadros na Esplanada dos Ministérios –Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral) e Tereza Cristina (Agricultura), no primeiro caso, e Fábio Faria (Comunicações) no segundo.
Parlamentares do centrão dizem nos bastidores que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) por vezes tem atuado mais como líder do governo do que o deputado Ricardo Barros (PP-PR), que ocupa formalmente a função.
Aliados do presidente da Câmara afirmam que a interlocução fica nas costas do correligionário e ele tem limitações, por isso o ideal seria contar com o apoio de integrantes do governo.
Além de barrar um eventual processo de impeachment e de garantir a aprovação de pautas de interesse do governo, o centrão é considerado como fundamental para o plano de Bolsonaro de tentar a reeleição no ano que vem.
Em discurso recente, Lira elevou o tom contra o governo, chegando a falar em remédios “amargos” e “fatais”, mas logo depois minimizou as declarações.
O atual chefe do Palácio do Planalto teme defecções no hoje bloco aliado por causa da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que retornou ao tabuleiro político e deve polarizar com Bolsonaro em 2022.
“Se você for olhar nas últimas eleições, quando o centrão fazia parte da base do governo, apoiava a reeleição”, disse à Folha o ministro Fábio Faria.
“Eu acho que os partidos, pelo menos [aqueles] com os quais tenho conversado e que estão no governo, estão totalmente engajados na campanha de 2022”, acrescentou o ministro.
Apesar do otimismo do ministro, a possibilidade de um racha no centrão em torno das candidaturas de Bolsonaro e de Lula é considerado inevitável por integrantes do bloco.
Hoje, na opinião de deputados e senadores, a tendência é de que partidos como PTB, PP, PSC, Patriota e Republicanos apoiem o presidente.
E que siglas como PROS, Avante e Solidariedade apoiem o petista. O PL e o PSD são considerados uma incógnita.
O apoio deles, segundo integrantes das legendas, vai depender dos acordos para as disputas estaduais e do desempenho dos presidenciáveis nas pesquisas de intenção de voto.
Em uma ofensiva ao PL, Lula tem manifestado, em caráter reservado, o desejo de que o empresário Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente José Alencar, seja seu candidato a vice-presidente em 2022.
O petista pretende se reunir com o empresário, que é filiado ao PL, nos próximos meses.