O atual modelo de volta às aulas com presença de alunos apenas intercalada é suficiente para controlar infecções pelo novo coronavírus? A pergunta foi feita pela prefeitura de Maragogi-AL a matemáticos e pesquisadores que fazem parte do projeto ModCovid19, apoiado pelo Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) e selecionado pelo Instituto Serrapilheira em uma chamada de projetos emergenciais para analise da crise sanitaria da COVID-19.
A resposta alarmante, de que esse modelo poderia elevar em até 270% o risco de contágio nas escolas, em 80 dias de funcionamento, está na nota técnica Quantificando o impacto da reabertura escolar durante a pandemia de covid-19, coordenada por Claudio Struchiner (FGV e UERJ) , Tiago Pereira (USP/ São Carlos e CeMEAI) e equipe.
A mesma nota apresenta a simulação de um modelo que indica que a imunização, somada a outros protocolos, incluindo testagem, monitoramento e fechamentos intermitentes apresentam um ambiente bastante seguro para proteger a comunidade escolar onde o aumento de casos poderia cair para a casa dos 18% e na cidade como um todo, 3%.
Para chegar a tais resultados, a modelagem para a retomada de aulas presenciais em escolas publicas utilizou dados demograficos, socioeconomicos e epidemiologicos do já citado municipio escolhido como estudo de caso: Maragogi-AL, com aproximadamente 33 mil habitantes, e trabalhou com quatro cenários possíveis.
No primeiro, cenário A – a análise se baseou no contagio comunitario com escolas fechadas, no cenario B – a reabertura com turmas e horarios reduzidos: turno escolar de 2 horas, turmas separadas em dois grupos, com aulas presenciais em dias intercalados. Já no cenario C – haveria reabertura reduzida com funcionarios imunes: turno escolar de 2 horas, turmas separadas em dois grupos, com aulas presenciais em dias intercalados e funcionarios imunizados. E por fim, no cenário D- o estudo partiu de uma reabertura reduzida com monitoramentos e fechamentos temporarios: turno escolar de 2 horas, turmas separadas em dois grupos, com aulas presenciais em dias intercalados, estudantes sao testados e isolados (14 dias) quando sintomaticos ou quando familiar for confirmado positivo, se estudante for confirmado positivo, seu grupo e suspenso por 14 dias, se mais de um grupo apresentar estudantes positivos, a escola e fechada por 7 dias.
“O cenário D foi bastante efetivo para proteger a comunidade escolar (aumento de casos em 18%) e a cidade como um todo (aumento de 3%). Estes resultados sao consideravelmente robustos, permanecendo qualitativamente os mesmos quando testamos o caso em que apenas metade das familias notificam casos positivos entre seus membros “, conclui a nota técnica.
” A nota destaca ainda que o fechamento intermitente requer que as escolas fechem em media 40% dos dias. Considerando também o fechamento parcial de turmas, cada estudante teve em media 2,5 horas de aula por semana, porém esse apresentou-se o cenário mais seguro “, explicou o pesquisador Tiago Pereira.
Segundo ele, o modelo poderia ser aplicado a qualquer município, demonstrando a importância de se avaliar quantitativamente o efeito de diferentes protocolos de reabertura para a deliberacao de retomada de aulas presenciais e semipresenciais em escolas publicas brasileiras. “Torna-se responsabilidade dos gestores pesar estas avaliacoes para desenvolver protocolos de acões efetivas para a reabertura segura de nossas escolas”, disse.
O estudo serve de alerta para que uma reabertura sem nenhuma medida de monitoramento de casos na comunidade escolar, mesmo com turmas reduzidas, pode aumentar, como já dissemos, o total de infectados na populacao escolar em ate 270%, em 80 dias de funcionamento escolar.
Conclui ainda que a vacinacao de profissionais e uma medida essencial para potencializar o efeito da reducao de turmas. Ainda assim, na ausencia de outras medidas de monitoramento e quarentena, o contagio pode aumentar em 178% o risco de infecções dentro da populacao escolar.
Para mais informações, acesse aqui o documento completo: Quantificando o impacto da reabertura escolar durante a pandemia de covid-19.
Sobre o CeMEAI
O Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), com sede no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP.
O CeMEAI é estruturado para promover o uso de ciências matemáticas como um recurso industrial em três áreas básicas: Ciência de Dados, Mecânica de Fluidos Computacional e Otimização e Pesquisa Operacional.
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