BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Uma análise inicial feita pelo Ministério da Saúde aponta três parâmetros que devem ser considerados em um possível protocolo para desobrigar, no futuro, o uso de máscaras no país.
Entre esses critérios, está a taxa de ocupação de leitos pela Covid-19, o cenário epidemiológico –como o número de novos casos e curva de contágio– e o avanço da imunização contra a doença.
O estudo, porém, não tem prazo para ser concluído, e representantes da pasta reforçam que a recomendação para uso da proteção e de outras medidas de prevenção segue mantida.
Internamente, a avaliação também é que a medida ainda deve demorar para ocorrer, diante do cenário de alto número de casos e necessidade de acelerar a vacinação.
A análise ocorre após o presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmar no início deste mês ter pedido ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um parecer para desobrigar o uso de máscaras entre pessoas já vacinadas ou que já tinham tido infecção pela Covid –na contramão do que recomendam especialistas, que reforçam a necessidade de manter a proteção.
Na época, logo após a fala do presidente, o ministro disse que o país precisava avançar na vacinação para adotar a medida. Em seguida, porém, confirmou que a pasta faria um estudo sobre o tema e atribuiu o pedido do presidente a medidas adotadas em outros países.
“O presidente acompanha o cenário internacional e vê que em outros países onde a campanha de vacinação já avançou as pessoas já estão flexibilizando o uso das máscaras, e me pediu que fizesse um estudo para avaliar a situação aqui no Brasil”, disse. “Então vamos atender a essa demanda do presidente Bolsonaro, que está sempre preocupado em relação a pesquisas”, completou à época, em tentativa de amenizar críticas.
A análise inicial foi feita pelo Decit (departamento de ciência de tecnologia), que é ligado à secretaria de ciência e tecnologia da pasta, e apresentada nos últimos dias à secretaria-executiva.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, confirma os critérios, mas diz que a medida não tem prazo.
“Isso foi uma primeira análise que a área técnica fez com base na revisão da literatura, e identificou que esses são basicamente os três parâmetros observados para a flexibilização dessas medidas, que é o percentual de ocupação dos leitos, o cenário epidemiológico, com a curva de contágio, e o avanço da vacinação”, afirmou à Folha.
Segundo ele, ainda não há uma definição, porém, de como seriam combinados esses critérios –nem de quando um protocolo poderia ser aplicado.
“O que vimos é que, nos locais onde já houve a flexibilização, o que os especialistas apontam é que essas são as três variáveis que devem ser observadas”, afirma ele. “Mas ainda é muito prematuro dizer quando vai acontecer. A recomendação do Ministério da Saúde ainda é a utilização das medidas não farmacológicas, como máscaras, distanciamento físico e higienização das mãos”.
Desde que assumiu o cargo, o ministro da Saúde tem reforçado em discursos a necessidade do uso de máscaras. Ao mesmo tempo, porém, Queiroga tem evitado se contrapor diretamente ao presidente quando questionado sobre a postura do chefe, que frequentemente vai a eventos sem o uso da proteção.
Neste sábado (26), por exemplo, ao participar de uma motociata em Chapecó (SC), Bolsonaro novamente promoveu aglomeração e cumprimentou apoiadores sem utilizar máscara.
Já em visita ao Rio Grande do Norte na quinta-feira (24), Bolsonaro não só não usou a proteção, como chegou a abaixar a máscara de uma criança de colo ao cumprimentar apoiadores e também incentivou uma menina de 10 anos a retirar a sua proteção contra a Covid-19 durante um ato oficial do governo.
Embora tenha dado um pontapé inicial em estudos, Queiroga tem repetido a interlocutores, quando questionado sobre o tema, que há outras prioridades à frente da pasta no momento.
Desde que foi citada pelo presidente, proposta também tem sido alvo de críticas de especialistas, que descartam qualquer espaço para a medida neste momento e reforçam que mesmo ações em outros países não têm consenso. A avaliação é que o ritmo de vacinação no Brasil ainda é baixo e que mesmo quem já foi vacinado ainda pode contrair a doença, daí a necessidade de manter o uso de máscaras.
Até o momento, 15,7% da população adulta recebeu duas doses da vacina contra a Covid-19, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa.