BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em meio ao risco de desabastecimento de medicamentos usados na intubação de pacientes com Covid em UTIs, situação que já atinge alguns estados, o Ministério da Saúde disse nesta quinta-feira (15) que fará a distribuição em até 48h de medicamentos doados por empresas privadas. O volume deve garantir o abastecimento por 10 a 15 dias, segundo a pasta.
A previsão é que 2,3 milhões de unidades desses medicamentos cheguem ao aeroporto de Guarulhos às 22h de quinta e sejam entregues aos estados até sexta (16). “Com base em experiências anteriores, a expectativa é que em menos de 48h isso seja distribuído”, disse o secretário-executivo, Rodrigo Cruz. Os medicamentos foram comprados da China e doados por um grupo de empresas formado por Petrobras, Vale, Engie, Itaú Unibanco, Klabin e Raízen.
Segundo o ministro Marcelo Queiroga, além do volume doado por empresas, a pasta deve receber, “em curto prazo”, medicamentos de outros países, como a Espanha, em apoio para o que chamou de “situação de emergência”. Também finaliza uma compra junto à Opas (Organização Pan-Americana da Saúde).
O ministro não detalhou o volume previsto para a oferta, tampouco o prazo de entrega. Nota divulgada pelo Itamaraty aponta que a previsão é de entrega no final da próxima semana, mas também não informa a quantidade estimada.
O anúncio ocorre após o governo de São Paulo enviar um ofício ao Ministério da Saúde, na terça (13), afirmando que precisava receber medicamentos do kit intubação em 24 horas para repor estoques.
No documento, o secretário de Saúde paulista, Jean Gorinchteyn, diz que a situação do abastecimento de parte desses medicamentos “está gravíssima, isto é, na iminência do colapso” e que podem faltar medicamentos já “a partir dos próximos dias” caso nada seja feito. Aponta ainda ter enviado diferentes pedidos ao ministério ao longo de 40 dias, “sem retorno”.
Com seis leitos a menos, São Carlos continua com fila de espera por internações
Plano SP: veja a situação da região na véspera da nova atualização
Secretários do ministério negaram atrasos e disseram ter enviado 552 mil unidades ao estado neste ano, sem informar a data dos envios.
Questionado se a pasta não poderia ter adotado medidas mais cedo, o ministro disse que cabe aos estados “também procurar os medicamentos” e defendeu o que chamou de “obrigação compartilhada”.
“Os estados também tem que procurar esses medicamentos. Não é só empurrar isso para as costas do ministério, vamos deixar isso bem claro. Se instituições privadas buscam importações e trazem, por que grandes estados não fazem isso? Temos um país que tem estados cuja sua economia é maior que muitos países, e tem elemento de captação desses medicamentos dos exterior igual a de muitos países, de modo que essa obrigação deve ser compartilhada”, defendeu.
No ofício enviado nesta terça, no entanto, o governo paulista diz que recebeu “quantidade ínfima” nos últimos meses e que tentou fazer compras com empresas nacionais, mas não conseguiu devido a requisições administrativas feitas pelo ministério no estoque.
Já o ministro voltou a rebater, de forma indireta, as críticas do governo paulista. “Não é hora de ficar um atirando no outro, é hora de trabalhar pela sociedade”, disse.
De acordo com o secretário de ciência e tecnologia da pasta, Hélio Angotti, a doação feita pelas empresas envolve bloqueadores neuromusculares, analgésicos e outros remédios usados para sedação dos pacientes e deve garantir o abastecimento dos estados por 10 a 15 dias.
O prazo de 15 dias vale para um deles, o propofol, e o de 10 dias para outros três remédios.
Segundo Angotti, a demanda por esses medicamentos foi mais alta neste ano em comparação ao anterior. Gráfico divulgado pela pasta mostra que o aumento iniciou ainda em fevereiro, com pico próximo a março.
Diante de perguntas sobre se não era possível se preparar, membros da pasta atribuíram a situação à circulação de novas variantes do coronavírus. “Ninguém estava preparado”, disse o secretário de atenção especializada, Sérgio Okane.