O governo de São Paulo, por meio do Instituto Butantan, entrou com um pedido na manhã desta segunda-feira (18) de uso emergencial para mais 4,8 milhões de doses da Coronavac já em solo nacional à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
A agência nacional aprovou neste domingo (17), em uma reunião que durou mais de cinco horas, o uso emergencial de 6 milhões de doses da vacina Coronavac, produzidas pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Butantan, e de 2 milhões de doses da vacina Covishield, equivalente da vacina da Universidade de Oxford/AstraZeneca produzidas em um instituto de pesquisa na Índia.
Com a autorização para uso emergencial, as vacinas já podem começar a ser utilizadas, o que começou logo após o voto final da Anvisa, com a primeira enfermeira sendo imunizada no país ao vivo em rede nacional.
Agora, o Butantan aguarda a autorização para o uso de mais um contingente de 4,8 milhões de doses que estão sendo formuladas e envasadas no instituto. Com esse adicional, seria possível vacinar, até o final de janeiro, cerca de 6 milhões de pessoas em solo nacional.
A informação foi divulgada durante entrevista à imprensa na tarde desta segunda-feira (18), no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.
Se concedida a aprovação, o Butantan poderá passar a formular e envasar novas doses com a matéria-prima vinda da China sem a necessidade de novas solicitações à agência sanitária. A matéria-prima, chamada de IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), no entanto, está escassa e preocupa o governo no momento para dar continuidade à campanha de vacinação. Uma remessa de matéria-prima está parada em Pequim, na China, devido a restrições do governo chinês em liberar a embarcação.
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, disse que aguarda a chegada dessa nova remessa ‘asap’ (sigla em inglês para “o mais breve possível”). “Quanto mais rapidamente essa matéria-prima estiver liberada [pelo governo chinês] melhor para todos, inclusive para a China”, disse o diretor.
Um outro obstáculo para acelerar a vacinação do governo seria a reserva, por parte do Ministério da Saúde, de 50% das doses já aprovadas para uso para serem aplicadas como dose de reforço -as vacinas testadas até agora necessitam de um esquema de duas doses, com intervalo entre elas de 28 dias, no caso da Coronavac, e 21 dias, para a vacina da Oxford.
Jean Gorinchteyn, secretário estadual de Saúde, afirmou que o esquema das doses será feito respeitando os dados científicos do estudo de fase 3, ou seja, o intervalo de 28 dias será mantido, pois “é com esse esquema, inclusive conforme revelado no último domingo [em apresentação da Anvisa], que aumento minha eficácia [de proteção], passando a atingir números próximos a 70% [de proteção contra a doença].”
Covas reforçou que mesmo com a reserva por parte do governo para essa segunda dose, a vacinação será feita agora com as doses disponíveis e deve ter uma cobertura de 6 milhões de pessoas até a autorização da Anvisa de uso emergencial para as outras 4,8 milhões de doses.
“Como o intervalo é de 28 dias, quase um mês, é bem provável que até lá já cheguem novas remessas com mais matéria-prima e assim a gente possa dar essa segunda dose com os novos lotes”, disse.
Os dados atualizados do coronavírus no estado, apresentados pelo secretário, apontam 1.628.272 casos e 49.987 óbitos registrados desde o início da pandemia. Houve um aumento significativo tanto do número de casos quanto de internações da Covid-19 em SP, ultrapassando ou se aproximando muito dos índices reportados em julho e agosto, quando a cidade atingiu o pico da doença.
A média móvel de casos, de 11.300, é a maior desde o início da pandemia, um aumento de 9% em relação à semana anterior (de 10 a 16 de janeiro). Já o número de óbitos aumentou 7% em relação à última semana, com média móvel de 227 óbitos.
Em relação às internações, a média móvel de novas internações nesta semana foi de 1.747, 12% a mais em relação à semana anterior. Ao todo, 6.004 pacientes estão internados em leitos de UTI e 7.811 em leitos de enfermaria em todo o estado.
Os índices de ocupação de leitos de UTI no estado e na Grande São Paulo são, respectivamente, 69,1% e 70,1%.
Gorinchteyn reforçou, no entanto, que muitos hospitais da rede pública chegaram a apontar 100% de ocupação nas últimas semanas.
O estado passou por uma reclassificação do plano na última sexta-feira (15), quando colocou a região de Marília na fase vermelha e regrediu outras sete áreas para a laranja (segunda mais restritiva) do Plano São Paulo.
O secretário alertou que é preciso reduzir a circulação do vírus e fez um apelo para a população. “Essa é a pior semana epidemiológica em toda a história da epidemia. Comparando com a última semana epidemiológica de 2020, tivemos um aumento de 77% de número de casos e 59% de óbitos. Hoje deveríamos estar festejando a vinda das vacinas, mas esses números são alarmantes, e sabemos, ainda, que são poucas as vacinas disponíveis até o momento. Estamos ampliando leitos e distribuindo suportes ventilatórios, mas é necessário dividir a responsabilidade com a população. Restringir o horário de comércio é para restringir também a circulação das pessoas”, completou.
O governo paulista anunciou ainda o lançamento de uma plataforma para realizar o pré-cadastro de todos aqueles que se encaixam na primeira fase de grupos prioritários para vacinação no estado: os profissionais de saúde e indígenas.
O site, chamado VacinaJá, permite identificar os postos de vacinação mais próximos, bem como realizar o pré-cadastro do indivíduo, acelerando a imunização no local.
A Coordenadora do Controle de Doenças da Secretaria Estadual de Saúde, Rejane de Paula, disse que o pré-cadastro não configura um agendamento, mas irá agilizar o atendimento nos postos.
“Quem não fizer o pré-cadastro não precisa se preocupar pois a vacinação será feita também, apenas terá que fazer o cadastro completo no local de vacinação”, afirmou.
Para os profissionais de saúde, as vacinas serão distribuídas nos locais de trabalho de cada profissional.
Nesta segunda (18), o governo estadual enviou doses para cinco hospitais no interior de SP: Hospital das Clínicas de Botucatu, Hospital das Clínicas de Campinas, Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, Hospital das Clínicas de Marília e Hospital de Base de São José do Rio Preto.
A vacinação deve começar nos HCs de Botucatu e Campinas ainda na tarde desta segunda-feira, enquanto nos outros três hospitais a previsão é de início na manhã desta terça-feira (19).