SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Opositores de João Doria (PSDB) comemoraram o anúncio de 78% de eficácia da Coronavac, mas com o cuidado de não vincular o nome do governador de São Paulo à vacina. A maioria tem usado o nome do Instituto Butantan.
A vacina é o grande trunfo político de Doria que, mesmo antes de qualquer aplicação, vem capitalizando publicamente em cima do assunto. Doria é presidenciável e usa a questão para nacionalizar seu nome até 2022 -ele pretende iniciar a vacinação no dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo.
No mundo político, as reações são parecidas da esquerda à direita, com exceção dos bolsonaristas, que estão, em sua maioria, em silêncio.
O ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha, do PT, que é médico, elogiou os resultados e cobrou a Anvisa. “Tivemos uma muito boa notícia nos resultados da eficácia da vacina Coronavac, do Butantan, instituição do SUS”, disse. “Por isso, a Anvisa tem que liberar a vacina urgente. Uma agência que registrou mais de um agrotóxico por dia não pode atrasar em nem um dia a autorização da vacina do Butantan”.
A deputada federal Sâmia Bomfim, do PSOL, partido que faz forte oposição a Doria, seguiu a mesma linha de Padilha, citando o Butantan e cobrando a Anvisa. “Vitória da ciência. Viva o SUS e o Instituto Butantã! Vacina para todos já! “, escreveu, em sua rede social.
À direita, também opositor de Doria, o vereador Fernando Holiday (Patriota), ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre), afirmou que a vacina do instituto paulista “traz alívio e alegria para os lares brasileiros”. “A eficácia de 78% – podendo chegar a 100% em casos graves ou moderados – também é motivo de orgulho da nossa capacidade de desenvolvimento científico”, escreveu.
A maioria dos bolsonaristas de peso, porém, por enquanto mantêm silêncio sobre o assunto. Um dos poucos a se manifestar, o deputado estadual Douglas Garcia, postou a foto de gado bovino com a seguinte legenda: “Esquerdistas já formam fila para a vacinação após o anúncio da “eficácia” da coronavac”.
Ele acrescentou que abre mão de sua dose. “Repasso aos jornazistas, aos nóias de DCE, aos terroristas de sindicato e antifas. Os conservadores farão questão para que não falte vacina a vocês, pois não iremos tomá-la”.
Políticos próximos de Doria, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também comemoraram. Maia ainda aproveitou para alfinetar bolsonaristas, ao criticar o negacionismo. “Vitória da Ciência com C maiúsculo. Dia triste para os negacionistas. A vacina é o nosso passaporte para retomar a vida normal, salvar vidas e fazer a economia voltar a crescer”.
Além do mundo político, nas redes sociais passaram a circular diversos memes com montagens de João Doria, ligadas à vacina, divulgadas mesmo por pessoas com viés ideológico oposto ao governador.
VACINA
O resultado foi adiantado pelo jornal Folha de S.Paulo nesta manhã. O índice de 78% se aplica à prevenção de casos leves da doença.
Entre os voluntários vacinados que se contaminaram, não houve nenhum caso moderado, grave, morte ou internação necessária.
“Nós conseguimos a vacina do Brasil, que vai salvar milhões de brasileiros. Temos a vacina em solo, em condições de começar a vacinação”, disse o tucano.
Os dados foram apresentados à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em reunião na manhã desta quinta (7), quando o Instituto Butantan iniciou as tratativas para oficializar o pedido de uso emergencial do imunizante que irá produzir.
O órgão estadual patrocinou o estudo da fase 3, a final, da vacina criada pelo laboratório chinês.
Desde 20 de julho, 12.476 profissionais de saúde voluntários em 16 centros clínicos de oito estados brasileiros receberam duas doses do imunizante, com 14 dias de intervalo entre elas.
Metade do grupo recebeu a vacina e os outros, placebo. Cerca de 220 dos voluntários foram infectados pelo Sars-CoV-2, aproximadamente 160 entre quem recebeu a solução inerte e 60, entre inoculados com o fármaco.
O detalhamento do estudo, além de estratificações por faixa etária, só será feito após a aprovação do uso. Não há ainda data para publicação em periódicos científicos, mas as fases anteriores foram todas documentadas.