O episódio vivido por Jada Pinkett Smith, esposa do ator Will Smith, durante o Oscar 2022 serviu de incentivo e inspiração para muitas pessoas que sofrem com alopecia. Em São Carlos (SP), um jovem decidiu contar nas redes sociais, após anos de diagnóstico, sobre como é viver com a doença: “Coloquei para fora”.
Bruno Eduardo de Oliveira, de 31 anos, foi diagnosticado com alopecia areata ainda criança, entre seus 9 e 10 anos, e desde cedo convivia com o bullying e ‘piadas’ nada engraçadas. No início até achava que eram apenas brincadeiras, mas nunca se sentiu à vontade e recebeu um apoio valioso de seus pais.
“Os apelidos eram ‘cabeça falhada’, ‘sem sobrancelha’, essas coisas. Eu ficava mal, as brincadeiras pioraram mais mesmo quando entrei no ensino fundamental, brincadeiras mais maldosas. Com o passar do tempo, conversando com meus pais em casa, eles falaram que não era certo, que estão fazendo de mau gosto, e comecei a perceber”, contou.
Ao longo do tempo, ele chegou a tentar tratar a doença para impedir que os pelos caíssem, e foi uma das piores fases da doença. “As tentativas de tratamento judiavam muito, machucada meu couro cabeludo e formavam bolhas. Minha mãe percebeu, pediu outro tipo de tratamento e começamos com uma pomada, mas tempos depois não deu mais resultado e foi quando os cabelos caíram de vez”.
Com a queda, veio a mudança de visual. No início, Bruno costumava cortar os cabelos bem curtos para que ninguém notasse suas falhas, até que se deu conta que o cabelo já não crescia mais. O processo de aceitação, diferente de sua infância, foi mais fácil do que imaginou. O boné, que antes era uma peça inseparável, logo foi eliminado.
“Quando percebi, já estava andando sem boné, é claro que algumas pessoas olhavam e pensavam que eu estava com outra doença porque caíram todos os cabelos, mas foi um processo natural”, disse.
Gatilho
Em mais de 20 anos, apenas quem era muito próximo do fotógrafo sabia sobre a alopecia, mas com a situação enfrentada no Oscar 2022, onde a doença foi motivo para ‘piada’ envolvendo a família Smith, ele resolveu falar sobre seu diagnóstico nas redes sociais.
“Eu senti a necessidade de falar porque é uma coisa que muita gente não conhece. As vezes a pessoa leva na brincadeira e zoa, mas não sabe como a outra pessoa realmente se sente quando sofre esse tipo de preconceito. Tem hora que percebo que a barba cresce e outras que está mais falha, afetava meu psicológico, afetava minha autoestima, e eu precisava colocar isso para fora , relatou.
Após a publicação, Bruno recebeu diversas mensagens de apoio de pessoas que sequer imaginou, até mesmo dos amigos da época de escola que costumavam brincar com sua aparência e que chegaram a se desculpar. “Foi muito legal receber esse feedback porque isso te deixa bem. Tem que ter muita coragem e eu vinha guardando tudo, mas chegou essa oportunidade que aconteceu e eu coloquei para fora. Foi necessário”, desabafou.
Entenda a doença
A alopecia, também conhecida como calvície, é uma condição bastante comum entre os homens e está diretamente relacionada aos hormônios sexuais masculinos, principalmente a testosterona. Entre as mulheres, que também produzem esse hormônio, só que em menor quantidade, os casos são bem menos frequentes e, quando ocorrem, na maioria das vezes, a perda de cabelos é menos drástica. Por isso, episódios mais agressivos entre o público feminino são raros.
Além do fator hormonal, outras possíveis causas para o distúrbio são fatores genéticos e imunológicos. Em alguns casos, a alopecia pode estar associada a enfermidades como tireoidites, diabetes, lúpus, vitiligo, rinites e a outras condições alérgicas.
Outras possíveis causas relacionadas à perda de cabelos podem ser infecções provocadas por fungos ou bactérias; traumas na região capilar; hábitos compulsivos de arrancar os próprios fios de uma determinada área; excesso de oleosidade, que provoca a dermatite seborreica; aplicação exagerada de produtos químicos; má alimentação e carência de vitaminas; medicamentos ou estresse.
Tipos mais comuns
Androgenética: é uma forma de queda de cabelos geneticamente determinada. Homens e mulheres podem ser acometidos pelo problema, que apesar de se iniciar na adolescência, só é aparente por volta dos 40 ou 50 anos. A doença se desenvolve desde a adolescência, quando o estímulo hormonal aparece e faz com que, em cada ciclo do cabelo, os fios venham progressivamente mais finos. Nos homens, as áreas mais abertas são a coroa e a região frontal (entradas).
Alopecia areata: é uma condição caracterizada por perda de cabelo ou de pelos em áreas arredondadas ou ovais do couro cabeludo, ou em outras partes do corpo (cílios, sobrancelhas e barba, por exemplo). Acomete de 1% a 2% da população, afeta ambos os sexos, todas as etnias e pode surgir em qualquer idade, embora em 60% dos casos seus portadores tenham menos de 20 anos.