Assim que peguei o livro nas mãos, os rostos de Fernanda Torres e de Selton Mello instantaneamente me vieram à memória. Na última cerimônia da Academia de Cinema dos EUA, aquela a que todos nós assistimos por conta da indicação da obra Ainda Estou Aqui, você deve ter observado que, entre as várias categorias de premiação, havia duas que possuíam nomes quase iguais: melhor roteiro original e melhor roteiro adaptado.
Na etimologia da palavra roteiro está o termo rota, antes roda, aquilo que leva a algum lugar, que nos conduz. Ao abrirmos as páginas de um bom dicionário ou uma aba do nosso navegador, descobriremos que o termo roteiro é polissêmico, ou seja, tem vários significados, mas aprendemos, também, que todos eles têm uma única raiz. O termo pode fazer alusão ao itinerário de uma viagem, indicando a localização de ruas, praças de uma cidade, por exemplo, pode, também, remeter aos tópicos a serem discutidos em uma reunião e, no cinema, voltando ao Oscar, ao texto que orienta uma filmagem.
Quando assistimos a um filme ou episódio de série, estamos, de fato, vendo um texto verbal se transformar em um produto audiovisual. Se as seis artes, mais o cinema, são práticas que denotam as expressões das emoções humanas, cada uma se propõe a fazê-lo de uma forma diferente. No caso do teatro e, posteriormente, do cinema, através da interpretação ou da atuação. Contudo, o texto interpretativo é antes de tudo, um texto, ou seja, o teatro e o cinema precisam de outra arte, a literatura, que irá produzir textos específicos para serem interpretados.
Assim, quando um escritor se põe frente a uma tela de computador para escrever, ele tem uma intenção e essa intenção irá definir o que chamamos de gênero textual. Se o escritor intenciona produzir um texto cuja finalidade não é ser lido, mas interpretado por atores e atrizes, chamamos esse texto de peça, no caso do teatro, e roteiro, se nos referimos ao cinema.
O roteiro contém, em geral, dois tipos de texto: o texto primário, que são as falas das personagens que irão conduzir a história e o texto secundário, que são as indicações cênicas que o roteirista (aquele que escreve o roteiro) dará à produção e ao diretor da peça ou filme. Se o dia está chuvoso ou ensolarado, o local e posição das cenas, o cenário etc. Tudo isso não é falado, é apenas indicado ao diretor que pode, ou não, acatar e, nós, espectadores, assistiremos imageticamente.
Agora, voltemos ao início desta crônica: roteiro original e roteiro adaptado. Lembra? Pois bem, chamamos roteiro original, quando o texto nasce em sua forma inicial para ser interpretado, ou seja, o escritor tem um enredo, uma história em mente e quer vê-la no teatro ou cinema, assim, produz uma peça ou roteiro originais.
Hoje em dia, contudo, o que vemos é que, cada vez mais, escrevem-se menos peças de teatro e roteiros originais, pois é mais fácil pegar um livro de contos ou romance, escrito em sua essência para ser lido, e transformá-lo em um texto para ser interpretado, peça ou roteiro. Temos, então, um roteiro adaptado.
Pense, por exemplo, na série Harry Potter, da escritora britânica, J. K. Rowling, que foi escrita em formato de romance, para ser lida e, posteriormente, foi transformada em filme. Da mesma maneira, a magnífica obra “O avesso da pele”, roteirizada para teatro, na brilhante adaptação realizada pelo Coletivo Ocutá e dirigida por Beatriz Barros. Os resultados podem ser fantásticos, como é o caso do livro de Jeferson Tenório, ou pífios, quando nos decepcionamos ao ver a adaptação do livro de que tanto gostamos no cinema. Mas, como vivemos hoje em uma sociedade imagética que requer velocidade cada vez maior, nas produções é mais simples pegar uma história já pronta e contada – se for popular, melhor ainda – e adaptar para o audiovisual. Por isso, os bons roteiristas originais estão escassos e, cada vez que, em Hollywood, eles resolvem entrar em greve, o caos se instaura na indústria americana de cinema, pois aí não tem nem roteiro adaptado, quanto mais roteiro original.
Ah! E no caso da brilhante obra cinematográfica “Ainda Estou aqui”, de Walter Salles, o roteiro é uma adaptação do romance homônimo de auto ficção, do escritor brasileiro, Marcelo Rubens Paiva. Vi primeiro o filme e agora padeço do texto imagético que não me sai da cabeça e não me deixa imaginar mais nada.
🔔 FIQUE ON!
Quer se manter bem informado no maior portal de notícias do interior de São Paulo? Fique on com os nossos grupos, canais e redes sociais, acesse abaixo:
👷🏼 acidade on Empregos no WhatsApp
📢 Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre São Carlos e região por meio do WhatsApp do acidade on: (16) 99149-9787.