A estiagem tem afetado o consumo e a produção de água em São Carlos. A captação de rios caiu e os reservatórios abastecidos pelo Aquífero Guarani não dão conta da demanda e começam o dia com metade de sua capacidade usada em alguns casos.
Segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), entre janeiro e agosto, foram captados na cidade, entre rios e poços 28 milhões de metros cúbicos (m³) de água. Há um ano, nos oito primeiros meses, a autarquia havia retirado 30,7 milhões de m³. São 9% a menos neste ano.
A quebra na produção se deu sobretudo na captação de águas superficiais, responsável por 40% do volume consumido na cidade. O Saae dispõe de dois centros captadores: no córrego do Feijão e o Espraiado, no Monjolinho. Os dois sistemas deixaram de captar 4,6 milhões de metros cúbicos neste ano, redução de 30% frente 2020.
“Nós temos problemas com a captação do Espraiado, que é o Córrego Monjolinho, cuja vazão diminuiu em mais de 50%, na comparação com a época de chuva. Vai continuar assim até outubro se não chover”, explica Benedito Carlos Marchesin, presidente da autarquia.
No Espraiado o volume menor de água disponível faz com que o Saae deixe ligada apenas uma das duas bombas do local. Em apenas 5 horas diárias as duas bombas funcionam em conjunto. Para efeito de comparação, em épocas de cheia, a captação em 100% da capacidade é em tempo integral.
O Aquífero Guarani, presente em 60% das torneiras, tem fornecimento de água mais estável. São mais de 30 pontos de captação profunda no município que fornecem água límpida ao sistema. Mas ainda assim enfrentam dificuldades.
Antes, reservatórios que iniciavam o dia a 100% agora registram 60 a 70% – ou até menos às 6h. Bairros como o São Carlos 3, Santa Felícia, Vila Nery, Boa Vista, Ipanema e Douradinho têm sofrido com o baixo volume no período da tarde. Em alguns momentos, há tão pouca água reservada que pontos mais distantes do centro de distribuição e áreas mais altas ficam com as torneiras secas.
A autarquia acompanha em tempo real a captação e reservação em 30 pontos da cidade. Um meio de não deixar faltar distribuição é deixar as bombas ligadas por 24 horas por dia, contrariando recomendação do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daae), do governo do Estado, que indica “descanso” de 4 a 5 horas para reposição do nível de água no subsolo. Em alguns casos técnicos da autarquia precisaram descer ainda mais as bombas submersas para fazer frente a queda do nível do aquífero.
Por ora o Saae não fala em racionamento de água na cidade. Mas um pedido da autarquia é que a população faça o uso racional. Segundo o presidente do órgão, apesar das notícias da falta de chuvas e níveis baixos nos reservatórios de todo o país há quem desperdice água lavando a calçada e o carro. “Tem o cúmulo de algumas casas na periferia jogarem água no telhado para resfriar o ambiente. A pessoa não tem consciência”, explica.
Apesar do desperdício de água dos consumidores, o Saae tem de lidar com suas próprias perdas. De acordo com o Sistema Nacional de Informações de Saneamento (SNIS), 43,5% da água tratada em São Carlos se perde por vazamento na rede ou por furto de água. É como se dos 28 milhões de m³ de água retirados de rios e poços, 12,2 milhões se perdessem por gatos ou furos na malha de distribuição.
Em uma tentativa de reduzir o percentual de perdas na cidade, o Saae firmou contrato para a realização da substituição das redes no Jardim Cruzeiro do Sul e na rua Dona Alexandrina, em trecho da região central. Os tubos de ferro darão lugar ao Pead, material flexível que necessita de menos emenda e mais resistente a fraturas. De acordo com Marquesin, a nova rede será instalada sob a calçada, de forma a evitar futuros reparos que frequentemente destroem o asfalto.
“Você anda pela cidade e tem remendo. Nessa rede antiga tem aquela coisa que a Prefeitura recapeia a rua, passam dez dias, um ou três meses e o Saae estraga o pavimento. Então nos dois casos vamos fazer (a rede) pelo passeio”, conta.
Outra solução, de médio prazo, é a perfuração de dois novos poços no município. Um deles é fruto de contrapartida da iniciativa privada por um empreendimento na região do campus 2 da USP. Por lá, empresários entregarão um poço pronto para funcionar e que deve reforçar a rede frente a demanda crescente e futura do novo bairro. Em outro ponto, perfuração mais estratégica, é na região do Parque Industrial. O local já conta com reservatório de 2 milhões de litros e vai ganhar a captação profunda para que futuramente uma adutora ligue o sistema ao Santa Felícia.
“Esse seria com dinheiro de financiamento, mas se não conseguirmos vamos realizar com recursos do próximo exercício”, planeja.