Mães de estudantes se reuniram na manhã desta segunda-feira (8), em frente à entrada do bairro Eduardo Abdelnur, em São Carlos (SP), para protestar contra a retirada do transporte que leva as crianças para atividades em contraturno escolar.
Antes da suspensão das aulas municipais, os ônibus realizavam o transporte das crianças da escola até a ONG Nave Sal da Terra e vice-versa. Com a pandemia, a frequência do serviço diminuiu, já que muitos alunos tinham apenas uma aula presencial por semana.
Porém, a partir desta segunda-feira (8) a Secretaria da Educação determinou o retorno obrigatório para o ensino fundamental em aulas presenciais de 10 EMEBs da cidade. Com isso, veio o segundo problema: a falta de transporte para as crianças.
Neste retorno, segundo a moradora Jéssica Fernanda Inácio, apenas as crianças que moram no Jardim Zavaglia estão tendo direito ao transporte. Ela relata não entender a diferença e alega descaso da prefeitura.
“Como todo mundo sabe, aqui é um bairro perigoso e não tem como as crianças irem sozinhas, então estamos lutando pelo direito dos nossos filhos. A gente espera que resolva porque são crianças pequenas, precisam do transporte. Avisaram a gente pelo grupo da escola que as crianças do Abdelnur não teriam direito ao ônibus, só que a gente não sabe o motivo”, comentou.
A diarista Ana Carina Gonçalves é uma das mães que participou do protesto. Ela conta que o grupo foi atrás de muitas pessoas, mas não receberam ajuda e decidiram paralisar os ônibus em forma de protesto.
“Meu filho tem osteogênese imperfeita [ossos de vidro] e não pode caminhar muito porque cansa, e pode, em qualquer tropicão, cair e se quebrar. Eu queria ver quem vai se responsabilizar. Eu vou deixar meu filho sair sozinho? Preciso trabalhar para sustentar meus filhos”, disse.
A diarista também relatou que os munícipes se sentem abandonados pela falta de estrutura no bairro e preocupação do poder público. “A gente é esquecido. Aqui não tem nenhuma ONG para período integral, tem muita criança na rua, e eu não quero meus filhos na rua. Se eu deixo eles sozinhos, o Conselho Tutelar vai vir na minha casa para levar meus filhos embora”, continuou.
Outro lado
Neste momento, a ONG está atendendo pela Secretaria da Infância e Juventude e continua oferecendo atividades de contraturno para as crianças.
Em entrevista à CBN São Carlos, a secretária da Educação Wanda Hoffman informou que, pela pasta, não está liberado o contraturno de Organizações da Sociedade Civil (OSCs), portanto não haverá transporte para nenhuma organização filantrópica, sendo mantido apenas para a rede regular de ensino.
“Ainda estamos com a pandemia e não podemos liberar o contraturno porque seriam mais de 10 mil crianças rodando de ônibus dentro do nosso município, e o momento não é esse para contraturno. Estamos fazendo um esforço muito grande para o ensino regular, imagina para o contraturno”, disse.
Ela também informou que atividades em contraturno, assim como o transporte, serão retomadas em 2022.
Em nota, a prefeitura informou que o transporte escolar em 2021 é exclusivo para estudantes da EMEB Ulisses Ferreira Picolo, localizada no residencial Abdelnur, que moram no Jardim Zavaglia e precisam ir e voltar regularmente à escola, como determina a legislação.