Descaso, desvalorização, abandono, desrespeito. São diversas as palavras utilizadas pelos profissionais da educação municipal de São Carlos (SP) em relação aos problemas com a gestão municipal e as condições das unidades escolares. Nesta sexta-feira (18), após manifestação de cerca de 700 pessoas, a Secretaria da Educação divulgou seu posicionamento. (Veja abaixo)
A professora Carla Cerotini, de 41 anos, trabalha há dois anos na educação e relatou que testemunhou uma piora significativa das condições oferecidas aos profissionais, e principalmente à população. Ela ressalta que as escolas ficaram fechadas desde o início da pandemia e não foram reformadas ou receberam alguma manutenção.
“Como você pode trabalhar com escorpião, com cobras, sem água, escola que tá enchendo de água, e receber crianças dormindo, comendo? É questão de saúde pública. Piorou muito mesmo, as escolas não estão tendo mais manutenção, e por isso foi ficando do jeito que está. A gente espera que a educação seja valorizada, que nossos alunos possam ter melhores condições de ensino”, disse.
O professor e diretor da rede municipal Caio Henrique Silva, de 35 anos, acredita que falta investimento e preocupação da gestão. Ele reforça que todos os problemas das unidades foram documentados e solicitados à administração, mas que nada foi feito.
“Foram informados desde o ano passado das necessidades que as escolas tinham, os ofícios estão aí para comprovar isso, mas nem respostas das solicitações e das ordens de serviço nós temos, da contratação de profissionais, as escolas se encontram em situações que não temos como atender os alunos de forma digna como eles merecem. A gente não tem mais ao que recorrer”, desabafou.
Na escola em que a servidora Vivien trabalha, galinhas da Angola foram colocadas para combater a infestação de escorpiões. Hoje, ela participou do protesto segurando pás e vassouras para representar a necessidade de “limpeza e purificação”. Em ato simbólico, servidores limparam a calçada da sede da secretaria.
“Nós precisamos de uma educação limpa e pura para que possamos dar condição e qualidade para crianças que estão nas nossas mãos. Não tem como a gente trabalhar. Não temos EPIs, não temos material, temos infestação de ratos e escorpião […] A secretaria não foi capaz de dedetizar antes da gente entrar, não temos funcionários para cuidar das escolas”, disse.
Manifestação
A manifestação pacífica que reuniu cerca de 700 pessoas aconteceu nesta sexta-feira (18), começando na Praça Coronel Salles e terminando na sede da Secretaria da Educação. O protesto havia sido aprovado em assembleia do Sindspam na semana passada.
“Queremos datas, prazos, efetividade na execução, porque não dá mais para a gente esperar. Licitação até agora não resolveu, merendeiras não contrataram, falta de professores. Hoje foi um recado, vamos esperar que venha alguma coisa para a gente sentar e construir o melhor para os alunos”, disse Gilberto Rodrigues, diretor do sindicato.
Posição da prefeitura
Após o término do protesto, a Secretaria da Educação se posicionou em nota enviada à imprensa. Veja na íntegra:
“Sobre as questões relacionadas às soluções requeridas pela entidade sindical, a Secretaria Municipal de Educação (SME) esclarece que as reivindicações foram respondidas por meio de ofício protocolado junto aos representantes da entidade, e a questão relacionada à infraestrutura das unidades escolares está sendo conduzida com a formalização e assinatura de contrato das licitações. A contratação de novos servidores públicos municipais está sendo planejada. O retorno presencial ocorreu em 7 de fevereiro de 2022 atendendo 18 mil crianças e adolescentes, no entanto seis escolas tiveram que prorrogar o retorno por questões pontuais e que estão sendo solucionadas. Em virtude da pandemia, muitos professores e servidores estão se afastando por COVID-19 e não há mecanismos para as substituições de poucos dias, entretanto já foi submetida solicitação de um projeto de lei para possibilitar alguma forma de contratação de um dia, três ou dez dias, sem incorrer em ilegalidade.”