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CotidianoDistrito de Paz há 110 anos, Santa Eudóxia é lugar para viver "em paz"

Distrito de Paz há 110 anos, Santa Eudóxia é lugar para viver “em paz”

O pequeno distrito guarda memórias de um local que vivenciou o auge da produção cafeeira, sobreviveu a epidemias – e pandemias – e foi palco da épica caçada ao assassino Dioguinho

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Pacato, Distrito de Santa Eudóxia completa 110 anos de 'distrito de paz' em 22 de novembro. (Foto: Bruno Moraes / acidadeon)
Pacato, Distrito de Santa Eudóxia completa 110 anos de “distrito de paz” em 22 de novembro. (Foto: Bruno Moraes / acidadeon)

A pouco menos de 40 km do Centro de São Carlos, distância relativamente próxima, Santa Eudóxia guarda parte da história são-carlense que completa neste 4 de novembro 165 anos.

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O pequeno distrito guarda memórias de um local que vivenciou o auge da produção cafeeira, sobreviveu a epidemias – e pandemias – e foi palco da épica caçada ao assassino Dioguinho.

Hoje, a localidade é conhecida pelo ambiente pacato e certa independência de São Carlos, pois dispõe dos principais serviços públicos, fazendo com que a “ida à cidade” fique mais reservada para situações especiais.
 

João Mirarchi Filho, o Vidoca, é um dos moradores da localidade, onde vive há 71 anos, “a vida toda”. Da rua Tiradentes assistiu a todas as transformações do distrito. Por lá, já trabalhou de tudo: foi de coveiro a subprefeito, passou uma temporada como balseiro na icônica ligação via Mogi Guaçu entre Santa Eudóxia e Luiz Antônio. “Já trabalhei em patrol, caminhão”.
 

“Eu trabalho com artesanato, faço mesa, banco, de tudo. Sou marceneiro e carpinteiro”, revela o idoso, que acrescenta: “Acho ótimo aqui”.

 

História do local guarda lembranças. (Foto: Bruno Moraes / acidadeon)
História do local guarda lembranças. (Foto: Bruno Moraes / acidadeon)

 
Vidoca já teve a oportunidade de conhecer terras portuguesas e viajou para a Bahia. “Gosto de viajar, mas quanto é hora de voltar eu volto. É bom estar nesta tranquilidade”.

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Não tão longe dali, na parte velha da vila, estava Jair Sacilotti. Da calçada acompanhava o baixo movimento no distrito no “entre feriados”. Há 40 anos em Santa Eudóxia, relembra ter trabalhado na fazenda do comediante Ronald Golias, filho de São Carlos. Por lá, “fez de tudo” e é muito grato ao ex-patrão falecido em 2005.

Hoje lamenta o fato de o Centro do distrito estar mais vazio. Grande parte da população mora nas casas entregues pelo governo. “Era bom para a gente aqui, mas agora acabou. Morreu muita gente e hoje muitos moram lá em cima, onde a Prefeitura fez casas. Encheu de gente, muita pessoa boa por lá”, comenta.

 

De barulho em Santa Eudóxia, só o som das maritacas. (Foto: Bruno Moraes / acidade on)
De barulho em Santa Eudóxia, só o som das maritacas. (Foto: Bruno Moraes / acidade on)

Na rua em que mora Sacilotti, a Cristovão Martinelli, muitos comércios fecharam, antes mesmo da pandemia de Covid-19. Muitas portas fechadas que não vão abrir tão cedo. Sobraram três ou quatro estabelecimentos, um deles uma mercearia em que se encontra de tudo.

“Meu pai mudou para cá porque tinha muita criação. Aí fui vivendo, vivendo muito tempo por causa dos meus irmãos. Não queria casar, fiquei, e peguei uma criança para criar. Ela tinha 1 quilo”, rememora a aposentada Geni da Silva.

Questionada se em 50 anos em Santa Eudóxia pensou em algum momento deixar o lugar, responde: “Gosto muito daqui”.

Por escolha própria, e por destino, Maria de Lourdes Souza, nascida em Pesqueira, em Pernambuco, hoje mora em Santa Eudóxia. “Trabalhei ‘pra morrer’ na usina, mas me aposentei”.

Na opinião dela, nem tudo são flores na pacata vila. Entre os problemas enfrentados são a falta de luz, de água. A aposentada conta que uma vez ao mês vai para São Carlos “de ônibus” para buscar o dinheiro. “São uns 40 minutos de viagem”. “É tranquila, mas demora”.
 
 

Local é tranquilo. Quem vive lá não quer sair. (Foto: Bruno Moraes / acidade on)
Local é tranquilo. Quem vive lá não quer sair. (Foto: Bruno Moraes / acidade on)

Banho de cachoeira

Guilherme Rodrigues Santos tem 21 anos e trabalha na Usina Ipiranga, em Descalvado, onde faz registro de pragas. “É um lugar sossegado para quem gosta. Tem gente que vem para lazer”. “Para quem gosta de tirar lazer tem cachoeira, em uma chácara. É aberto para a galera que curte”.
 

Distrito há 110 anos

No próximo dia 22, Santa Eudóxia completará 110 anos desde que foi elevada a Distrito de Paz. A história da localidade data da década de 1870, quando com o trabalho de 200 escravizados, o coronel Francisco Cunha Bueno determinou que abrisse o mato e iniciasse a plantação de café. 

O distrito é um dos pioneiros da cafeicultura no sertão do Mogi e foi forte na produção do produto. Mais de 1 milhão de cafeeiros foram plantados no local, conforme registros historiográficos. O auge foi atingido em 1916, quando 1,27 milhão de cafeeiros foram contados. A produção inicialmente foi escoada por porto fluvial no Mogi Guaçu, com a opção da linha férrea via ramal que passava pelo distrito.

 

Antes de tudo, todavia, Santa Eudóxia pode ter servido de moradia de escravizados fugidos aquilombados, rumores que rondam aquela região há mais de um século.

Mais recente, na virada do século passado, Santa Eudóxia virou a morada de imigrantes sírios e libaneses, que difundiram sua tradição comercial.

Quer conhecer um pouco mais Santa Eudóxia? Documentário da Fundação Pró-Memória mostra aspectos históricos do local. Assista abaixo:

 


 
 
 

 

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Bruno Moraes
Bruno Moraeshttps://www.acidadeon.com/saocarlos/
Bruno Moraes é repórter do acidade on desde 2020, onde faz a cobertura política e econômica. É autor do livro “Jornalismo em Tempos de Ditadura”, pela Paco Editorial.
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