São Carlos e região poderão ter agravamento do número de casos de dengue nas próximas semanas, com pico de notificações em abril. O quarto mês do ano é costumeiramente o com mais propagação da doença na Região Central, segundo o epidemiologista Bernardino Alves Souto.
São Carlos somou do começo do ano até o dia 15 de março, 51 casos confirmados de dengue. A taxa de incidência de criadouros do Aedes aegypti está elevada e em situação alerta, revelou a Secretaria de Saúde.
“Na nossa região, o mês de abril é tradicionalmente o mês que mais temos dengue. Ainda não entramos em abril, então precisamos ter cuidado pelos próximos meses. Aliás, sempre temos que ter cuidados, mas até o final de abril é ainda um período crítico de casos de dengue”, aconselha o professor de medicina da UFSCar.
O alerta “acendeu” em São Carlos com a alta propagação da doença em Araraquara, cidade que dista 40 km daqui. Por lá, são quase mil confirmações da doença. Em Ibaté, cidade que fica entre os dois polos populacionais, a soma é de 28 casos desde o começo do ano. Em Américo Brasiliense, município também próximo à Morada do Sol, são 59 casos.
A intensa movimentação de pessoas entre municípios pode facilitar a propagação da doença. Um trabalhador infectado em Araraquara pode contribuir com o número de casos da doença em São Carlos, por exemplo.
Na Capital da Tecnologia, segundo a Secretaria de Saúde, o maior foco de ocorrências se dá na região do Parque do Bicão.
“O que está acontecendo em Araraquara tem tudo para acontecer em São Carlos também, porque estamos submetidos às mesmas condições climáticas que influenciam nas epidemias de dengue. Temos os mesmos problemas de água empoçada em vasilhas, latas. São criadouros de mosquitos. Esse vírus não respeita fronteiras”, comenta.
Conforme o professor de medicina, a situação araraquarense é “um alerta” para o município “radicalizar as medidas preventivas”. “Dificilmente São Carlos ficaria isento de uma epidemia em uma condição que já está acontecendo por perto”, conclui. As ações são de caráter oficial, como maior vigilância aos casos da doença, bloqueio e intensificação das vistorias, e de caráter individual, com cada família vigiando o próprio quintal.
Cuidados no ano inteiro
A prevalência do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, durante o período chuvoso não isenta a população de limpar os quintais e eliminar locais de proliferação durante o Outono e Inverno.
Os ovos do mosquito duram até um ano depois de postos e podem carregar consigo o vírus já inoculado. Ou seja, quando a larva fica adulta ela se torna de pronto um vetor da doença.
“Todo vasilhame com água tem que ser eliminado. Tem que vigiar a calha para ver se não está empoçando. Toda água parada colabora para a disseminação do vírus e epidemia de dengue”, completa.
Chegou a ser erradicado
Parece lenda urbana, mas o mosquito da dengue chegou a ser erradicado no Brasil na metade do século passado. Em 1958 a Organização Mundial de Saúde (OMS) chegou a declarar o Brasil como país livre do vetor. Movimentos populacionais e descuido da população deram uma “mãozinha” para que o “odioso do Egito” (tradução do nome latino Aedes aegypti) voltasse às terras brasileiras.
Presente no país, não deu outra. Com chuvas regulares no verão e forte calor, o Brasil se tornou uma morada para o mosquito.
Problema triplo
Além da dengue, o Aedes pode trazer consigo outros três vírus. São eles a zika e chikungunya e a febre amarela, doença responsável pela primeira epidemia urbana do país, em 1850, e que aterrorizou o interior paulista no final do mesmo século.
Com a incidência do Aedes em alta, a probabilidade de ele carregar as outras doenças também sobe. E com isso a disseminação múltipla é garantida, segundo Souto.
“Se deixarmos o mosquito se reproduzindo por aí, ele pode transmitir qualquer uma das três doenças ou até as três ao mesmo tempo, depende de o mosquito estar ou não contaminado”, completa o epidemiologista.