Há nove anos o jovem Gustavo Nazareth, de São Carlos, iniciava sua transição num ambiente ainda cercado de muito preconceito. Homem trans, ele chegou a uma grande realização em maio, quando conseguiu realizar a cirurgia de mamoplastia masculinizadora – a retirada dos seios – pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
A transição aconteceu em um processo turbulento na sua vida, com a perda de um amigo que estava passando pela transição e se suicidou por não se aceitar. A situação trouxe inúmeras reflexões para Gustavo, principalmente sobre onde ele se encaixava no universo.
“Comecei a questionar onde estava meu lugar no mundo, e nessa época não tínhamos tantas informações sobre a transexualidade, como lidar com um assunto delicado que ultrapassa sentimentos e tem a ver com a maneira como você se identifica. Eu queria me entender enquanto pessoa no mundo”, disse.
VEJA TAMBÉM
Criança de 11 anos morre por meningite bacteriana na região de São Carlos
A questão familiar também foi difícil, mas se tornou mais tranquila com o passar dos anos, a hormonização e a mudança de seu nome nos documentos em 2016. “A minha avó, que não me chamava pelo nome social, hoje me chama de Gustavo e lida melhor com a situação”, completou.
O PROCESSO ATÉ A CIRURGIA
Gustavo comenta que sempre pensou na cirurgia como um ato essencial para se sentir livre e que começou a hormonização – tratamento para pessoas transgênero que desejam adequar seu corpo à sua identidade – mais tarde que o comum por falta de dinheiro.
“Já estava com um ano e meio de transição, conversando com psicólogos e psiquiatras para entender a questão. Demorou quase dois anos até tomar a decisão, e mais esse tempo na fila, porque para a realidade de uma pessoa pobre, como no meu caso, um procedimento particular não era viável”, disse.
O grande momento chegou em 23 de maio. Com a ajuda de amigos e familiares, ele conseguiu juntar dinheiro para ir até São Paulo, onde fez a cirurgia. Para ele, uma espera dolorosa e de muita resistência, mas que valeu a pena.
“Eu contava cada segundo até esse dia. Faz um mês que operei e a recuperação é um pouco difícil porque não podemos erguer o braço, fazer movimentos bruscos ou tomar banho direito por quase uma semana, e depois tem óleos para cicatrização, colete de compressão”, explicou.
EM UMA PALAVRA: LIBERTAÇÃO
Parando para refletir sobre esse processo e até onde chegou, Gustavo ressalta a batalha diária e a luta vivida desde criança, quando seu maior desejo era apenas cortar o cabelo de “Cascão”, como o Fenômeno, mas foi impedido por “ser uma garota”.
“Quando a cirurgia acontece, vem para completar e suprir o que reprimi a anos. Daqui um tempo vou conseguir ir para uma praia ou piscina, fazer um exercício sem camisa, e não é uma questão de “moda” ou querer aparecer, é uma amarra grande que a gente cria e que agora vai ser liberta”, desabafou.
Ao ser questionado sobre o sentimento após a realização desse sonho, a resposta não poderia ser outra: “Hoje sou uma pessoa muito mais feliz. Me sinto mais completo e sem ter medo”, completou.
LEIA MAIS