Todos os dias, mais de meio milhão de ovos especiais deixam um incubatório de ovos em São Carlos com o destino aos laboratórios do Instituto Butantan, na capital paulista.
O material é usado na produção de vacinas contra o vírus influenza, causador da gripe. Os ovos também são usados na industrialização da ButanVac, imunizante anticovid já em produção que depende de aval para distribuição. A Globotech, que faz parte da GloboAves, é fornecedora do instituto deste 2008. Há, ainda, outros laboratórios de produção de imunobiológicos humanos e animais na carteira de clientes da empresa.
A cadeia produtiva interliga diferentes municípios da região, além de São Carlos. Os ovos controlados são concebidos em granjas de Itirapina e Brotas, em locais de alta segurança sanitária. Fertilizados, eles são enviados ao incubatório localizado na Capital da Tecnologia. As galinhas e galos são das raças Hisex e Novogen e passam periodicamente por análise do Instituto Biológico, da Secretaria Estadual de Agricultura, para atestar a isenção de laringotraqueíte e influenza aviária. As granjas são isoladas, de acordo com o biólogo Geraldo Cupertino, responsável pela incubação dos ovos.
“As galinhas ficam no alto, sem contato com fezes ou contaminante. Todo o processo é automatizado, o que nos garante um bom resultado na produção da vacina”, relata.
Transportados para São Carlos, cerca de 600 mil ovos são remetidos à Fazenda Água das Pombas, às margens da Rodovia Luiz Augusto de Oliveira (SP-215). Eles são separados logo na recepção. Os maiores e os menores são dispensados, de forma que os ovos fornecidos ao instituto tenham uniformidade de tamanho.
Os embriões passam por 10 dias em incubação até ficarem prontos. Antes, são submetidos ao ovoscópio, equipamento que permite avaliar o desenvolvimento do embrião por meio de luz. Ao fim, entre 530 mil e 565 mil são aprovados.
“Fazemos uma ovoscopia, na qual retiramos os embriões que por algum motivo não desenvolveram, morreram. Retiramos e enviamos para os laboratórios do Butantan somente os embriões viáveis. Esse é um processo diário que fazemos”, explica.
Depois de prontos, os ovos controlados são transportados, segundo a empresa, em caminhões exclusivos, com controle de temperatura e umidade.
Destino nobre
Nas “mãos” do Instituto Butantan, cada ovo embrionado é inoculado com cepas de vírus. Há a replicação do patógeno e após 72 horas de incubação, um líquido chamado de alantoico é retirado do ovo. Cada unidade produz até três doses da vacina. No caso da trivalente da gripe, cada ovo é inoculado com uma cepa diferente.
Após processos de fragmentação do vírus, sua inativação e clarificação o líquido concentrado está pronto para ser formulado e se tornar vacina. No caso da vacina tríplice do influenza, três diferentes derivados são misturados e envazados.
“Vivemos isso o tempo todo, mas é um trabalho que tem uma dimensão imensa. Saber que estamos há anos contribuindo com a saúde de uma nação e fazermos parte em um momento em que passa sob a nossa responsabilidade”. “É surreal”.