Com a alta demanda por internações e a Santa Casa trabalhando no limite de sua capacidade, a instituição e a Secretaria Municipal de Saúde estudam meios de aumentar a eficiência dos atendimentos de urgência e emergência e ampliar os leitos no hospital.
Nas últimas semanas, a alta demanda evidenciou um gargalo enfrentado a tempos na assistência de urgência e emergência em São Carlos, que é a falta de leitos.
Pacientes têm relatado demora em conseguir vagas para internação na Santa Casa. O problema tem deixado famílias aflitas, que por vezes veem pacientes com dor e desconforto nas enfermarias das UPAs à espera de transferência para o hospital.
Para buscar as possíveis causas da espera demorada e da alta demanda, o acidade on procurou as gestões municipal e da Santa Casa para entender melhor o assunto.
Variação de temperatura
De acordo com o diretor técnico da Santa Casa de São Carlos, Roberto Muniz Júnior, a média mensal de atendimento do hospital, que era de 1.600 pacientes, se elevou para mais de 2 mil mensais, aumento de 25% na demanda.
Em um primeiro momento, o clima frio do inverno trouxe à tona a “agutização” de doenças respiratórias, como asma e DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), o que levou pacientes ao hospital, inclusive com necessidade de internação e intubação orotraquial.
“Além disso, a gente costuma receber 2 infartos e 1 AVC por dia e passamos para 3 infartos e 1,5 AVC por dia [equivalente a 3 a cada dois dias]. Então tivemos um incremento no número de pacientes que vêm pela urgência, de 1.600 para mais de 2 mil por mês”, afirma.
A alta na entrada dos pacientes impactou no número de internações, que passou de 640/mês para mais de 800/mês, incremento de ¼ na ocupação.
Como fim da estação fria, São Carlos entrou na primavera com temperaturas de verão, com termômetros flertando com os 40°C nos últimos dias.
“Com a elevação da temperatura, diminuiu o número de infartos e AVCs, por exemplo, mas aumentou a demanda por parte de idosos que eventualmente se desidratam e precisam ser internados. Às vezes, uma hidratação basta, mas muitos precisam ser internados para compensar outros distúrbios, como pneumonia e infecção urinária”, comenta.
Impactos das cirurgias eletivas
A pandemia de Covid-19 deixou uma fila gigante de pacientes que esperavam por cirurgias eletivas – ou seja, aquelas que não são urgentes e podem ser adiadas.
O problema tem sido enfrentado pelo sistema de saúde municipal com o aumento da oferta de cirurgias. Nas últimas semanas, a Santa Casa ampliou o número de cirurgias ortopédicas realizadas.
“Não é um paciente que opera e vai embora para casa, diferente de uma hérnia que não ocupa tanto o leito. Um paciente ortopédico ocupa leito, tem convalescência de mais dias para poder ir para casa”, relata.
Encaminhamentos excessivos
A Secretaria de Saúde detectou haver muitos casos de pacientes que são remetidos à Santa Casa por problemas que poderiam ser resolvidos nas próprias UPAs. Insegurança de profissionais e pressão de pacientes e familiares são apontados como as principais causas.
Levantamento feito pela pasta mostra que de cada 10 pessoas transferidas das UPAs para a Santa Casa, apenas 3 são de fato internadas.
As outras 7 recebem atendimento no hospital e são liberadas na sequência. Parte delas são referenciadas para a realização de exames e procedimentos mais complexos, como tomografias ou relacionados a trauma, muitas outras não precisariam ter se deslocado para a unidade, salienta a diretora de Regulação, Controle e Avaliação da Secretaria de Saúde, Elis Cadamuro.
O próprio uso por vezes inapropriado das UPAs, inclusive, afeta o atendimento médico nas três unidades da cidade. Perto de 2 em cada 3 pacientes que vão à urgência do Aracy, Vila Prado e Santa Felícia poderiam ter agendado consulta nas UBSs e USFs.
Caminhos para resolução
Para tirar a Santa Casa do limite da capacidade, a Saúde e a gestão hospitalar pretendem otimizar o uso dos recursos atuais e obter mais leitos.
Na otimização, o município incluiu a contratação de um médico responsável técnico no edital da mão de obra terceirizada das UPAs. Com um profissional mais experiente, a expectativa é que os jovens médicos que atuam tenham maior amparo no atendimento, aumentando o percentual de resolutividade na própria unidade, sem necessidade de transferir para a Santa Casa.
O diretor clínico da Santa Casa elogiou a iniciativa e crê que ela poderá colaborar com a situação, evitando entradas desnecessárias de pacientes na urgência do hospital.
Outro ponto levantado, do uso inadequado da UPA, já há remédio: um médico por plantão fica responsável pelas fichas azuis, como os casos leves não prioritários são chamados nas unidades. Os pacientes são atendidos, medicados e referenciados para as UBSs e USFs para tratamento e acompanhamento a posteriori.
“O problema é que pouquíssimas pessoas acabam usando deste recurso. É muito melhor para o paciente tratar ali na atenção básica do que piorar e ter que recorrer à UPA”, consta Luciana Caldeira, secretária adjunta de Saúde.
São Carlos trata com São Paulo e Brasília a possibilidade de aumentar o número de leitos de internação na Santa Casa de São Carlos. O atendimento de alta complexidade é custeado pelo Estado e a União. O credenciamento de novos leitos é demorado e burocrático, segundo Elis Cadamuro.
“Nós estamos trabalhando com a DRS-3 para aumentar o número de leitos. Mostramos para eles a nossa necessidade, pois a nossa capacidade está esgotada”, afirmou.
Possibilidade alternativa aventada pela Saúde é a criação de leitos custeados pelo próprio município no regime “hospital-dia”, em que os procedimentos clínicos, cirúrgicos e terapêuticos são realizados dentro de um período de 12 horas. O estabelecimento do regime para uma ala daria vazão a parte dos egressos de cirurgias eletivas que atualmente ocupam leitos de urgência, elevando a ocupação geral do hospital.
Todos os ouvidos pela reportagem ressaltaram que o problema enfrentado atualmente na urgência e emergência é multifatorial e requer abordagem ampla.
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