Em dezembro de 2020, São Carlos enfrentou uma das piores enchentes já registradas no centro da cidade, comerciantes chegaram a ficar com as portas fechadas por uma semana na época.
Alguns resolveram encerrar as atividades e outras mudaram de endereço. Segundo alguns lojistas, o último alagamento foi um dos piores que eles já sofreram.
Na época de acordo com a Defesa Civil, 130 estabelecimentos foram atingidos pela enxurrada. O prejuízo calculado pela Prefeitura foi de R$ 43 milhões.
E, após quatro anos, os comerciantes ainda sentem muita insegurança diante de alertas de temporal na cidade.
A vendedora Priscila Santos relata que, além daquela enchente, em fevereiro deste ano a loja de roupas também foi inundada. “A água chegou a um metro e meio dentro da loja. Estavam aqui uma vendedora e meu sobrinho. Quando perceberam a água entrando, começaram a colocar mercadorias no carro e a jogar o que podiam para prateleiras altas, já preparadas para isso. Não houve tempo de instalar as comportas, pois a água veio muito rápido, e não conseguimos ouvir o alerta dado,” explica.
Além das roupas, o carro do sobrinho dela, que estava estacionado em frente ao estabelecimento, também ficou submerso. “A força da água foi tão intensa que estourou a porta de vidro, permitindo a invasão. Graças a Deus, ninguém se machucou,” acrescenta Priscila.
A vendedora afirma que até hoje, sempre que ouve falar de chuvas, não consegue dormir, com medo de que algo aconteça. “A chuva que caiu duas semanas atrás foi muito forte, a água começou a sair da loja. Qualquer chuvinha, a gente já ergue tudo, porque ficamos traumatizados, e ninguém encontra uma solução para isso,” finaliza.
A vendedora Maria Eunice presenciou o ocorrido em dezembro de 2020, lembrando com tensão dos momentos vividos. “De onde eu trabalhava, dava para ver a água subindo, os móveis sendo arrastados e os carros batendo. Era desesperador, pois estávamos preocupados com as pessoas que estavam no pico. Ficamos com medo de que algo acontecesse com elas,” ressalta.
Ainda de acordo com Maria depois que a chuva passou, eles conseguiram chegar aos locais mais atingidos e ver todo o estrago.
Após a enchente de 2020, os comerciantes instalaram comportas na entrada das lojas na tentativa de não terem prejuízos quando chove.
De acordo com estudos científicos publicados, a primeira inundação da região central de São Carlos resultante das chuvas torrenciais teria ocorrido em 1905. Porém, de acordo com a Fundação Pró-Memória, os primeiros registros oficiais na imprensa local se deram na década de 1930. Nos anos 1940, com a ampliação da área urbana e também da impermeabilização do solo, a situação se agrava. “A urbanização da cidade e o surgimento dos alagamentos na região central estão totalmente ligados”, afirma Leila Massarão, da Pró-Memória.
Com a rápida urbanização do município, a estrutura do rio foi sendo alterada, prejudicando a vazão de água. Vários alagamentos no centro comercial de São Carlos foram registrados ao longo da história. Já no ano de 1930, segundo a memorialista Maria Christina Girão Pirolla, houve uma enchente que deixou várias famílias desabrigadas e causou mortes. A urbanização descontrolada a partir dos anos 1940, só agravou as taxas de alagamento na baixada do mercado, história que ainda se repete.
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