O abre e fecha por conta da pandemia de Covid-19 tem gerado os efeitos colaterais mais diversos na economia. Em São Carlos (SP), um dos efeitos sentidos é a falta de papelão no mercado.
Os choques de oferta gerados por aberturas econômicas seguidos pelas freadas bruscas nos momentos de maior disseminação do Sars-CoV-2 faz a procura pelo papelão, item essencial nas embalagens, disparar em meio a momentos de zero procura.
Marcelo Drighetti é diretor comercial de uma empresa de cartonagem de papelão. Na cadeia produtiva da embalagem a fábrica dele, que faz a caixa propriamente dita, é o elo do meio. O empresário relata que tem dias que o serviço é “uma loucura”, seguido por outros em que não se tem muito o que fazer, por falta da matéria-prima.
“O nosso mercado está muito instável, só agora está começando a dar uma normalizada na indústria”, comenta Drighetti, que prossegue: “os nossos fornecedores estão começando a colocar a casa em ordem, no sentido de não ter o atraso de entrega que vinha ocorrendo até fevereiro.”
O setor do papelão serve de termômetro para saber a quantas anda a economia, mas os tempos pandêmicos fizeram com que a métrica do mercado de embalagens mostrasse com total fidelidade o que acontece na realidade.
Por ora, segundo Drighetti, sobram pedidos e as quotas de chapas de papelão que abastecem sua fábrica continuam as mesmas. Apesar do mercado aquecido, as indústrias que fabricam o papelão não expandiram a capacidade, até pelo próprio abre e fecha da quarentena.
“Estamos produzindo pelo menos 40% a menos. A procura é muito grande. A cartonagem tem um limite de atendimento ao cliente, devido ao fato de o papelão ser um produto que limita um pouco a distância de atendimento, porque senão encarece muito o frete”, comenta.
Por ser da área comercial, Drighetti presta muita atenção no movimento da busca pela fábrica de caixas em site de buscas. Em meados de 2020, a média era de 100 visitas diárias. Atualmente, chegou a 600.
“Na verdade, não conseguimos atender (os pedidos) porque nós temos esse limite de matéria-prima e damos preferência para os nossos clientes antigos. Então, quando temos uma sobra de mercadoria, aí sim conseguimos atender um cliente novo, mas essa falta de mercadoria dificulta um pouco (as vendas)”, relata.
Para conseguir manter a linha de produção ativa, os compradores da fábrica são-carlense contam com a fornecedor local e também outro que fica em Itapira.
Segundo o economista Paulo Cereda, o mercado do papelão tem seguindo a lógica da pandemia de Covid-19. Na seara econômica, crise do novo coronavírus tem gerado muitas dúvidas no mercado brasileiro. E o mercado não gosta de pontos de interrogação.
“Não existe horizonte de planejamento, as notícias vão acontecendo a cada instante da vacina, da pandemia. E as notícias do Brasil a respeito de decisões, brigas políticas, tudo isso compromete o horizonte de planejamento”, explica.
Para o especialista, a partir do momento em que os comércios estão fechados, os empresários preveem redução da demanda. A partir de então, diminuem os planos de compra. Além da pandemia em si, outros fatores econômicos derivados da própria crise da Covid, como desemprego alto e baixo consumo atravancam as vendas.
“Daí (o empresário) vão vai fazer investimentos nem altos níveis de estocagem, pois tem dúvidas relacionadas ao quanto aquecido (o mercado) estará”, relata.
Com uma cadeia de produção longa, a fabricação plena de papelão não pode ser restabelecida ao toque de um botão, segundo Cereda. Há um longo passo a passo de deve ser cumprido, que vai desde o corte do eucalipto, no campo, passa pela fabricação da massa de celulose e da folha de papelão para então partir para a cartonagem.
“Não é um vira a chave e pronto. Começa a fazer e tem um tempo para poder se acertar (a produção). Há de se levar em consideração a dificuldade que algumas empresas têm em relação ao capital de giro pressionado. Nem todo mundo vai retomar com a mesma capacidade de investimento e o mesmo capital de giro que tinha antes”, comenta.
Se a pandemia de Covid-19 terminasse do dia para a noite, no capital residiria um dos grandes problemas a serem enfrentados. Com a economia parada, o faturamento esfriou, mas ainda assim muitos custos se mantiveram. “O ciclo do caixa das empresas foi quebrado.”
Em se tratando de Brasil, tudo fica um pouco mais difícil para o empresariado. Os próprios poderes constituídos “batem a cabeça” nas tomadas de decisão. Na opinião do economista, falta uma agenda de trabalho para a condução da economia e pandemia.
“Se não tivermos sido vacinados, teremos o terceiro ciclo da pandemia. Vamos viver de abre e fecha e assim não há economia que aguente. Não tem trabalho que resista, arrebenta com qualquer país. Não dá para contar com socorro emergencial a cada parada, imaginando que há um poder de endividamento do governo infinito. O que precisamos agora é de coesão”, opina.