Frente às incertezas da pandemia de Covid, restaurantes de São Carlos (SP) estão enfrentando queda no faturamento e custos em alta. Proprietários de estabelecimentos do ramo apontam redução de mais da metade dos ganhos durante a crise, o que levou a alguns deles fecharem as portas em definitivo.
O Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Carlos e Região (Sinhores) não tem uma estimativa de estabelecimentos fechados desde o início da pandemia. De acordo com o diretor Jeferson de Souza Lima, apesar da segurança sanitária e atendimento dos protocolos, muitos clientes não voltaram a comer fora de casa.
“Há diversas dificuldades em nosso segmento. Nós temos uma grande parcela da clientela que mudou o hábito, deixou de frequentar o restaurante, mesmo tomando medidas necessárias, tem um pessoal mais conservador que está um pouco mais conservador que está com um pouco mais de receio por conta disso”, relata.
Entre as dificuldades enfrentadas, está a alta no preço dos alimentos. Nos últimos 12 meses as carnes acumularam alta de 35,68% na prévia de maio do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15).
O monitor que permite antever o resultado mensal da inflação oficial do país mostra ainda os impactos do aumento da energia. A eletricidade, que já está cara por conta da bandeira vermelha 1 em maio, deve ficar ainda mais com a vermelha patamar 2 a partir de junho. Para quem tem diversos freezers e câmara fria para manter bebidas e alimentos acondicionados deve sofrer ainda mais com a inflação.
“E temos enfrentado diversos outros problemas relacionados à falta de mercadoria, quando não falamos nos valores exorbitantes dos custos de mercadoria, produtos de limpeza, descartáveis, então hoje creio que a maioria dos restaurantes não estão fazendo as contas de custos, pois se colocarmos na ponta do lápis o que a custa para fornecer alimento hoje não compensa”, avalia.
A questão dos custos dos restaurantes tem pressionado as contas dos estabelecimentos e causado dispensas. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, 857 postos de trabalho foram extintos desde março do ano passado em São Carlos.
“Temos acompanhado que infelizmente diversos estabelecimentos fecharam as portas. Os que não fecharam infelizmente estão trabalhando na informalidade na tentativa de sobrevivência. É a pessoa transferiu a cozinha para a sua casa, fornecendo marmitas, se virando como pode, buscando a sobrevivência”, comenta.
Quem não fechou as portas está investindo em aplicativos de delivery. É uma solução que traz maior faturamento, dá exposição para o restaurante, em troca de uma “mordida” nos ganhos. Os apps ajudam nas contas, mas não paga tudo, garante Marques Antônio Pereira dos Santos, proprietário de churrascaria.
“Eu pago em média R$ 10 mil por mês. Tem que ser muito enxuto para viver só de aplicativo. É um monopólio”, critica.
Dentre os restaurantes, os que fazem atendimento tipo self-service são os mais atingidos. Dono de churrascaria que disponibiliza o autosserviço, Santos afirma que há receio ainda entre os clientes. “Eles optam (comer em casa), mesmo com todos os protocolos seguidos pela empresa. Estão com medo ainda”.
Para o representante do Sinhores, apesar de ser essencial, os protocolos sanitários pesam nas contas dos restaurantes. Os preços de luvas descartáveis, álcool em gel, álcool líquido e outros produtos de limpeza dispararam.
“É exorbitante, temos a questão dos descartáveis, de utilização em que é um aliado na prevenção da Covid, luvas, máscaras, álcool, esses produtos tiveram aumento de 100% ou mais”, reclama.
O diretor sindical ainda afirma que as ajudas governamentais, como empréstimos com garantia do Estado, não chegaram a todos. Entre os programas lançados estão o do governo do Estado, via Desenvolve SP, e o Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Pronampe), do governo federal.
“Não chegou a todo mundo, não chegou ao pequeno, a quem mais precisasse. A pandemia se estendeu por muito tempo, o valor que a pessoa tomou lá atrás (emprestado), chegou a data para pagamento e a situação não voltou ao normal, então está virando uma bola de neve”, opinou Lima, que emendou que os donos de restaurante vão “sofrer muito com isso”.