2023 é um ano que começou com incertezas, foi melhor do que o esperado, mas deixou gostinho de “quero mais” para a indústria local.
Na avaliação do diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) São Carlos, Marcos Henrique dos Santos, o ano tem sido de crescimento, no geral, com alguns setores com maior expansão, outros menores, e alguns com manutenção ou redução das atividades.
O fim do ano passado foi conturbado. O Brasil tinha um presidente que perdeu a reeleição e lançava bravatas contra o futuro governo e uma atmosfera de conspiração. A beligerância instaurada deixou o empresariado apreensivo em todo o país.
“[2023] Foi melhor do que a expectativa, no final do ano passado tínhamos aquela expectativa em torno do novo governo, havia dúvidas se iria mesmo assumir. Foi um fim de ano bem intenso em termos de perspectivas econômicas. E se mostrou um ano dentro do normal, do esperado, não houve mudanças bruscas e o PIB que tinha uma previsão de 1% está perto de atingir 3%. No geral, melhorou, e, para a indústria, também”, afirma.
Em São Carlos, o clima de normalidade se traduziu em moderada expansão das atividades industriais. Algumas empresas tiveram aumento da produção, com contratações. Desde o fim do ano passado, a indústria – segundo setor que mais mantém trabalhador com carteira assinada – expandiu em 1.000 postos a sua massa de trabalhadores.
“Claro que teve algum turnover, com demissões, mas em seguida houve contratações. O saldo de empregos aqui está dentro do que ocorreu nos últimos cinco anos”, avalia.
Um dos setores que tem sido a vedete da indústria local é a fabricação de drones. Uma das empresas instaladas em São Carlos, a XMobots, se tornou destaque com a constante expansão das atividades e intensas contratações ao longo deste ano.
Por outro lado, setores mais consolidados e conhecidos, como a fabricação de eletrodomésticos – a maior representante do setor é a sueca Electrolux – vem sofrendo um pouco.
“É uma questão ligada aos juros, que estão muito alto e isso impede a venda parcelada. Então dificulta o comércio de eletrodoméstico linha branca. Não é um ano bom, pois as famílias estão endividadas”, comenta.
A Selic, taxa básica de juros da economia, ficou praticamente um ano a 13,75%, patamar considerado bastante alto e que colocou o Brasil no topo do ranking dos países com maiores juros reais do mundo. Juro real é o percentual nominal “descontado” da inflação.
Nos últimos meses, o Banco Central tem iniciado um movimento de redução da taxa de juros. Atualmente, o indicador está em 12,25%, ante inflação anual em torno de 4%.
Neste ano, São Carlos não teve nenhum grande anúncio de empresa chegando à cidade, com volumes grandes de investimentos e geração de empregos.
Para o diretor do Ciesp São Carlos, as indústrias de nanotecnologia e as das áreas médico-odontológica têm expandido o mercado.
“A indústria da área médica, que produz dispositivos e próteses, está ‘bombando’ em São Carlos. Na área odontológica também está indo bem”, afirma.
As empresas de base tecnológica por vezes têm atividades discretas e contrastam com as grandes plantas industriais de fabricação de motores de carro, compressores ou eletrodomésticos, salienta Santos.
“Silenciosamente”, o setor médico-odontológico, por exemplo, tem aparecido com frequência nos relatórios do comércio externo de São Carlos. O setor representa vendas da ordem de US$ 14,5 milhões (R$ 72 mi), ou 3,6% da pauta de exportação local.
“São Carlos tem essa característica de não ter um segmento único. Franca tem o calçado, por exemplo. Aqui, essa indústria de maquinário agrícola tem ido bem. Outro setor que tem ido bem é o da tecnologia voltada para a agricultura, que são equipamentos de precisão, e são empresas que têm crescido”, conta.
Essas empresas com raiz tecnológica têm os empregos mais qualificados, que resultam em melhores salários para os especialistas que trabalham nelas. Com maior massa salarial disponível na cidade, melhor o ambiente de negócios e para a economia da cidade.
Expectativas para 2024
Para o ano que vem, a indústria local espera mais crescimento moderado e a melhoria gradual do ambiente de negócios com a aprovação e sanção da Reforma Tributária.
O tema é caro à indústria, que se vê diante da burocracia para vender produtos para diferentes estados brasileiros. Uma empresa de porte nacional, por exemplo, precisa conhecer os marcos tributários de todos os 26 Estados e do Distrito Federal, cada um com suas especificidades e alíquotas.
“A reforma para a indústria é maravilhosa. Não haverá aumento e os 27% calculados estão dentro do que estamos acostumados a pagar. Mas a reforma é boa porque simplifica a vida do industrial, porque, atualmente, [a legislação tributária] é um verdadeiro manicômio”, opina.
O diretor afirma que vai levar um tempo até toda a economia se acostumar à nova forma de cobrar impostos, mas no futuro, vai fazer com que o empresariado e as fábricas empenhem menos tempo e energia em atividades burocráticas e mais em questões de melhorias de produto e operacionais.
Em São Carlos, a criação de uma Secretaria de Desenvolvimento Econômico foi bem-vista pelo setor e se tornou um canal de comunicação com a administração local, para levar as demandas da indústria.
“Tem uma equipe na Prefeitura focada no desenvolvimento de novos projetos. Muito se fala em vinda de novas indústrias para a cidade, mas temos que ter atenção ao industrial que está na cidade”, comenta.
Mas, na visão de Santos, há questões que o município terá de se debruçar, como a falta de espaço nos distritos industriais. Há empresas com gargalos por não terem como expandir turnos devido ao fato de estarem em zona mista.
“O barulho dela para o vizinho vai virar um problema. A empresa questiona se há uma área no distrito industrial para ela e não tem. Os dois existentes estão cheios e não têm área para crescer”, comenta.
O problema do distrito industrial pode ser um fator limitador ou inibidor da vinda de novas empresas para a cidade. “A exceção é a companhia de tecnologia, que não precisa de grandes barracões e têm espaço para crescer. São Carlos precisa atrair essas empresas tecnológicas”, afirma.
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