A necessidade de distanciamento social levou à busca de alternativas para geração de renda, especialmente por aplicativos, como o WhatsApp.
Nos condomínios fechados, o que cresceu foi o comércio entre os próprios vizinhos.
Uma pesquisa desenvolvida na UFSCar analisou o comércio e o consumo de mercadorias em condomínios residenciais.
O trabalho foi realizado por Carlos Henrique Costa da Silva, docente do Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades do Campus Sorocaba da UFSCar, e por Diego de Morais Benega, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Instituição.
Eles investigaram a organização do comércio e do consumo em três condomínios residenciais, de casas e prédios, no interior paulista. Locais de diferentes classes sociais. O período analisado foi de abril a novembro de 2020.
Dos condomínios analisados, 76% das atividades comerciais exercidas são de alimentação, com a produção de bolos, tortas, brigadeiros, hambúrgueres e massas.
Em segundo lugar – apenas 10% das respostas – está a prestação de serviços, como vendas de produtos artesanais como máscaras caseiras, assistência técnica em eletrodomésticos ou reparos em imóvel. Por fim, entram serviços como higiene pessoal e beleza (6%), vestiário (4%) e serviços para animais (4%).
Segundo o estudo, essa nova forma de comércio aponta para algumas tendências, como a precarização.
A falta de estrutura para os trabalhadores se deve à crise econômica. Aumento do desemprego e da informalidade fez com que a maior parte dos entrevistados, 64%, relatasse que a venda é a principal fonte de renda ou, pelo menos, de complementação, como explica o professor Carlos Henrique Costa da Silva.
“Um desses caminhos foi a precarização do trabalho, porque as pessoas muitas vezes não voltaram para o mercado de trabalho formal e passaram a ter a sua renda exclusivamente por essa forma de comunicação e informação. O outro caminho foi a ampliação, a tentativa de ampliação, de atingir e se comunicar com o mercado consumidor.”
Os dois principais meios de divulgação dos comércios são WhatsApp e o famoso “boca a boca” 40% dos comerciantes optaram pelo WhatsApp, e 31% acreditam na divulgação por indicação.
A análise também mostrou que a relação de vizinhança nos três condomínios permitiu o comércio solidário entre as pessoas.
“No início é uma solidariedade. Todo mundo praticamente fazendo a mesma coisa. Não é o mesmo produto, mas trabalhando num mesmo barco. A gente sente uma solidariedade. No entanto, isso é interessante ver, conforme foram passando os meses, o próprio consumidor vizinho foi selecionando os melhores produtos também. Não é todo brigadeiro, que todo mundo faz, que vai agradar a maior quantidade de gente”, afirma.
Os resultados da pesquisa estão no livro “Espaços de consumo em tempos de Covid-19”, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
A obra está disponível para leitura no site livrosabertos.sibi.usp.br.