Nesta sexta-feira (26) São Carlos (SP) completa um ano da pior enchente de sua história. Com centenas de danos irreversíveis e muita luta, comerciantes da baixada apontam hoje falta de apoio do poder público para recuperação dos prejuízos.
O comerciante Marcos Talhares, de 67 anos, convive com as enchentes há 34 anos e relatou que a de 2020 foi a pior que aconteceu em tanto tempo. Em sua loja, cerca de 70% do estoque foi perdido com a chuva e foi preciso muita coragem para enfrentar as vésperas de Natal sem mercadoria.
“Ficamos praticamente destruídos, então recuperar e estar aqui verdadeiramente é porque Deus olhou. Ainda não estamos recuperados porque a mercadoria que nós perdemos, nós pagamos para lavar para depois vender a R$ 20, R$ 15 para tentar começar novamente. É muito triste quando chega essa época porque aquela enchente foi para todos nós uma situação muito difícil e delicada”, comentou.
Ele ressaltou que os comerciantes sobreviveram porque lutaram e continuam lutando diariamente por seus estabelecimentos, mas ressaltou que absolutamente nada foi feito pela administração pública e pelos governantes neste um ano de prejuízo.
“São Carlos precisa verdadeiramente de um projeto que resolva a situação, nós temos recursos para isso. Você não vê um projeto no sentido de resolver um problema de enchente em uma cidade que cresceu e não se teve a preocupação de ter um planejamento para desviar as águas aqui da baixada. Nada se enxerga e nada se faz com eficácia que deveria se existir”, desabafou.
Esperança
A vendedora Alexandra Aparecida Faula, de 34 anos, acordou apreensiva ao ver a chuva que atingiu a cidade durante o período da manhã. O medo, segundo ela, era de que o pesadelo vivido fosse relembrado mais uma vez. “A gente pede para que Deus tenha dó da gente e para que não aconteça. Estamos ansiosos, preocupados, com medo, mas com muita fé acima de tudo”, disse.
Ela ressaltou que não houve perda de mercadorias na loja em que trabalha, mas que o susto e os danos foram grandes. “Tentamos trabalhar da melhor forma, cativamos clientes, promoções, tentamos tranquilizar a cada chuva que vem até mesmo para a gente trabalhar nossa mente e conseguir seguir em frente”, explicou.
Para agora, a expectativa é de melhora nas vendas com a Black Friday e a aproximação do tão aguardado final do ano, principalmente porque agora os horários do comércio estão mais flexíveis. “A gente espera 30% a 40% em relação ao ano passado”, disse.
O lojista Alcyr Rossanesi, de 53 anos, tem uma loja de preço único que não lhe permite fazer grandes promoções, mas a expectativa de crescimento de vendas em relação ao ano passado ainda é mais alta.
“Com certeza vai ser melhor porque viemos de um prejuízo grande devido à enchente, minha loja foi muito atingida e tive um prejuízo enorme. A recuperação veio com esforços e muito trabalho, não teve outro meio porque não tivemos apoio de ninguém, de prefeituras e outras instituições, foi esforço próprio mesmo, e com muita esperança e dedicação conseguimos recuperar tudo”, comentou.
Neste um ano, sua loja precisou de mudanças bruscas para tentar evitar grandes prejuízos como o do ano passado, mas mesmo assim a preocupação vem em qualquer chuvinha.
“Mediante o acontecimento do ano passado, fechamos duas portas laterais com alvenaria bem reforçada, coloquei comporta também para segurar a contenção da água. Não corremos mais o risco de ter esse prejuízo, mas a gente se preocupa com outros comerciantes também”, disse.
A pior enchente
Os alagamentos que aconteceram no dia 26 de novembro de 2020, numa quinta-feira, véspera de Black Friday, destruíram o Centro da cidade como nunca foi visto em toda a história. (Veja acima fotos da enchente)
Em uma hora foram 138 milímetros e centenas de prejuízos. Naquele dia, pelo menos 26 veículos foram arrastados pela água da chuva, 120 lojas foram afetadas, 38 casas foram inundadas e duas casas ficaram inabitáveis.
Além disso, foram 150 pessoas resgatadas pelo Corpo de Bombeiros, entre elas quatro gestantes, três deficientes e diversas crianças. Do total, oito precisaram de atendimento médico devido a ferimentos leves ou síndrome do pânico.
O estrago foi tanto que São Carlos virou notícia nacional e foi decretada situação de emergência. Após a enchente, muitas lojas fecharam ou transferiram o ponto de venda.
Outro lado
Em nota nesta sexta-feira (26), a prefeitura informou que “A Lei não permite repasse de recursos para particulares. Na época foi até discutido algumas isenções, porém juridicamente não é possível”. Questionada sobre o que foi feito neste período, nada foi respondido.