Jogo de aquarela e caderno em mãos, tranquilidade e olhar atento. Com isso, o arquiteto Flávio Ricardo Melo consegue dar um novo olhar às ruas de São Carlos (SP) através do desenho. A técnica faz parte do movimento intitulado Urban Sketchers.
Nascido em Santa Bárbara DOeste, o arquiteto se mudou para São Carlos em 2007, quando passou em um concurso para trabalhar na Secretaria Municipal de Habitação, onde ainda atua. “É pela arquitetura que chega o meu gosto e caminho pelo desenho”.
Foram anos se descobrindo no mundo das ilustrações, até que em 2009, quando navegava pela internet, encontrou um desenho com “um traço bem bonito e pintado com aquarela, de um jeito bem suave e legal”. Foi assim que, de mãos dadas com a arquitetura, a arte entrou de vez em sua vida.
Com muita pesquisa e referências, Flávio conheceu o Urban Sketchers, um movimento que inspira as pessoas desenhando locais e que chegou ao Brasil em 2011, estando hoje presente em dezenas de cidades, incluindo São Carlos e Araraquara. A intenção do movimento é conectar pessoas de todo o Brasil que façam desenhos retratando o local onde vivem e viajam.
Início de tudo
Seu primeiro desenho da capital do clima foi pela técnica da perspectiva “Olho de Peixe” – quando se está próximo do objeto e a paisagem fica destorcida e curvada. Ele encontrou um Jeep Monster em frente a uma loja de artigos militares na Rua Episcopal, sentou embaixo e pintou.
De lá para cá, foram dezenas de desenhos retratando os pontos da cidade. Flávio conta que tem o hábito de sempre levar um caderno bem pequeno, um jogo de aquarela e um pincel com depósito de água para onde for. Já quando sai para desenhar, a lista de material é um pouco maior: tripé, rolo de papel aquarela, prancheta, pincéis e lapiseira. O processo todo – do desenho à pintura – é concluído em menos de duas horas.
O arquiteto ainda ressalta que costuma ir a bairros mais antigos como o Centro e a Vila Nery, além de ter um olhar diferente para as regiões periféricas e bairros que estão à beira da rodovia, por exemplo. Com a inspiração diante dos olhos, é hora de colocar a mão na massa. Ou melhor, na lapiseira.
“Normalmente, eu pego aquelas coisas que são consideradas feias, raramente pego um cartão postal da cidade. Uma casa em ruínas, um muro de alguma demolição. É para demonstrar a força que a arte plástica tem, para tentar mostrar alguma beleza naquilo que é considerado feio e nos passa despercebido. Esse seria o poder desse tipo de arte, mudar o olhar a respeito de alguma coisa”, explicou.
E assim como todas as coisas da vida, o artista transmite através de suas pinturas um ensinamento valioso para qualquer pessoa: a importância de se olhar com mais admiração para tudo que normalmente não chamaria a atenção.
“O caminhar, sentar em um lugar, perceber a cidade, parar em algo e prestar atenção, com um olhar com calma para aquilo que a gente passa e muitas vezes nem presta atenção. A importância que traz, tanto para a gente quanto para quem vê o desenho, e mais ainda para quem decide também praticar, é a relação com a cidade, porque envolve algo que a gente não costuma fazer, que é apreciar o caminho, não pensar em um ponto de partida e de chegada e se deixar perder pela cidade, deixar que a cidade absorva a gente através desse olhar. A gente assumir uma postura de contemplação”, concluiu.
Algumas de suas obras estão disponíveis nas redes sociais (clique aqui e veja). Quem tiver interesse em conhecer o movimento e navegar nesse mundo artístico também pode buscar o grupo Urban Sketchers São Carlos no Facebook.