SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nem apenas Fiesp, a federação das indústrias paulistas, nem apenas Febraban, entidade que representa os grandes bancos do país. O documento em defesa do equilíbrio entre os Poderes da República, que atraiu forte oposição da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, a ponto de as duas instituições ameaçarem deixar a Febraban, é pensado para ser bem mais amplo.
Segundo pessoas ligadas a sua elaboração, ele será o manifesto da maior frente empresarial já criada em defesa do equilíbrio institucional no Brasil. Diferentemente de outras iniciativas recentes, que levaram assinaturas na pessoa física, o manifesto em elaboração congrega entidades que representam as maiores empresas do país.
Até a publicação desta reportagem, quem acompanha a organização do manifesto confirmava que a sua divulgação está marcada para ocorrer nesta terça-feira (31). Nenhum dos integrantes da iniciativa ouvidos pelo jornal Folha de S.Paulo quis ter o nome revelado.
A reportagem apurou que o ponto de partida para a elaboração do documento foi a troca de ideias entre um pequeno grupo de banqueiros e empresários preocupados com a estabilidade institucional e os rumos da economia brasileira. Na sequência, executivos de empresas e de entidades foram sendo reunidos para angariar apoio.
Além de Febraban e Fiesp, também estavam entre as primeiras entidades mobilizadas o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, teve participação ativa na busca de apoio de diferentes setores. Quando a discussão sobre o manifesto tomou corpo dentro da Febraban, passou a receber forte oposição do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, que tentou deter a adesão institucional do setor bancário ao texto. Fausto Ribeiro, presidente do Banco do Brasil -e que faz parte do conselho diretor da Febraban, assim como Guimarães-, apoiou a posição da Caixa, elevando a pressão dentro da entidade, até que a divergência se tornou pública no sábado (28).
Caixa e BB ameaçam deixar a Febraban se, quando o manifesto for publicado, constar sua assinatura.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ministro Paulo Guedes (Economia) e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foram avisados da decisão. Os bancos públicos argumentam que não podem permanecer em uma entidade que age como partido político e se opõe ao seu acionista, o governo.
Segundo pessoas que acompanham a organização do documento, esse manifesto tem linguagem muito neutra, justamente para atrair o maior número de adeptos que estão preocupados com a escalada de tensões entre os Poderes e querem contribuir para melhorar o ambiente institucional –e foi graças a esse tom, dizem, que mais de 200 entidades já tinham aderido ao manifesto no final de semana.
Na lista, segundo essas pessoas, constam entidades como Abimaq (que representa o setor de máquinas), IDV e Fecomércio (entidades do setor de varejo), Alshop (que reúne lojistas de shoppings), Ibá (das empresas de celulose e papel) e inclusive entidades ligadas ao campo, como a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio).
Apesar de a iniciativa tentar apaziguar os ânimos e fortalecer instituições, as divergências envolvendo bancos públicos e privados dentro da Febraban deixam um saldo considerado ruim.
A leitura é que Caixa e BB fizeram uma opção arriscada, pois a tendência é que a decisão de deixar a entidade reforce a ideia de intervenção do governo nos bancos federais. Nas palavras de um banqueiro, o governo e o Ministério da Economia saem menores do incidente por interferirem na governança das estatais e por quererem manipular a conduta de uma associação privada.
Causou ainda mais estranhamento a posição de Campos Neto. A avaliação é que ele optou por uma postura política e não técnica, o que fragiliza a sua posição à frente do Banco Central.
Um executivo de um dos maiores bancos do país diz ainda que a reação dos bancos públicos contra os privados vai prejudicar também a imagem do Brasil. A leitura é que o investidor estrangeiro vai identificar no conflito que o risco institucional, antes restrito à política, agora contamina as relações no setor financeiro. Resultado: vai ficar mais difícil atrair capital internacional de instituições sérias.